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A Classe Secreta dos Professos do Regime Escocês Retificado - Parte I

Extraído do Capítulo VII do livro "Un mystique lyonnais et les secrets de la franc-maçonnerie : Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824)", de Alice Joly, Edições Télètes, Paris, 1986. Reprodução integral da edição Mâcon de 1938.


A Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa - Propaganda e consequências da reforma de Willermoz - As fundações maçônicas de Macôn, Grenoble e Paris - Quadro de membros de "A Beneficência" de 1780 a 1782 - Um neófito zeloso, o Conde François Henri de Virieu - O duque de Havré de Croy, Grão Mestre Provincial.


Os anos que se seguiram ao Convento da Gálias foram anos de intenso trabalho para Jean Baptiste Willermoz. Em 10 de dezembro de 1778, data da conclusão do congresso, o novo regime se viu criado e, na presença de todos os delegados nacionais, os grande oficiais da Província de Auvergne aceitaram as atas, códigos, rituais, graus, instruções e regulamentos que haviam sido promulgados. Sua aprovação, no entanto, fora supérflua, pois como membros do convento, já tinham votado o que lhes fora pedido ratificar. Com isso, se viu o desaparecimento do Capítulo Templário fundado pelo Barão Weiler.


Depois do encerramento do Convento, Lyon deveria ser a sede de três organizações distintas: um Priorado, uma Prefeitura e uma Comendadoria. Além disso, um Comitê Permanente de Administração, composto por um administrador (que não poderia ser o Grão Mestre, o Visitador Geral, o Chanceler Geral, o Grão Prior de Lyon nem o Prefeito de Lyon) devia dirigir toda a Província e regulamentar os assuntos dos três Priorados: Lyon, Paris e Aix. As lojas de Paris e Aix só existiam em projeto[1], além disso apenas três pessoas compunham o Comitê Diretor que deveria, por regra, ser composto por cinco pessoas, isso pelo fato de que o Administrador Geral, Prost de Royer, era também Grão Prior de Auvergne, e Gaspard de Savaron, Visitador Geral, acrescentava o seu cargo ao de Prefeito. É inútil precisar que o terceiro membro era o mesmo Willermoz, sendo ao mesmo tempo, naturalmente, Chanceler Geral e Chanceler da Prefeitura de Lyon.


Apesar desta aparência de reforma, nada mais havia a mudar na província maçônica. Os mesmos personagens se encarregavam dos ofícios do Priorado, da Prefeitura e da Comendadoria, os quais já haviam sido Oficiais no Capítulo Templário[2]. Os dignitários que ficaram de fora se queixaram e, como "consolação", lhes foi dado o título de Conselheiros de Honra[3]. Os mesmos nomes que se encontram nos protocolos do primeiro Diretório de Auvernia também se veem no segundo. O grau de Socius foi suprimido substituindo-se pelo de Conselheiro de Honra, que prestava os mesmos serviços. Foi concedido ao Príncipe Georges Charles Louis de Hesse Darmstadt, que havia solicitado anteriormente, a filiação no Capítulo de Lyon; também a Christian de Durkheim, agente designado ao lado do Diretório de Brunswick; e, naturalmente, a Bacon de la Chevalerie, sendo plenipotenciário dos Diretórios Escoceses no Grande Oriente. Todas estas mudanças superficiais nunca obscureceram a existência do círculo de maçons que se agrupava em torno de Willermoz; tanto sob o novo nome adotado de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, como os anteriores a isso, que dependiam estritamente dele, sendo na verdade seus discípulos diretos e servindo de instrumentos para seus projetos.


A primeira coisa a fazer era estender a reforma ao maior número possível de lojas. Willermoz já tinha aprovado, desde a época do Convento, o texto de uma circular destinada a constituir uma introdução ao texto do Código reformado[4]. A totalidade, dirigida às lojas da Estrita Observância Templária, devia servir como apelo aos resultados que os Diretórios franceses se gabavam de ter obtido. Isso não era nada; o espírito da maçonaria antiga tinha-se reencontrado com a chave de fundação da Ordem; tinha-se criado uma verdadeira autoridade, inspirada no mais puro cristianismo, que presidia as obras caritativas, reprovando os graus de vingança e fazendo reinar entre os Cavaleiros Professos a mais perfeita igualdade[5]. No início, essas maravilhosas novidades não suscitaram grande curiosidade. Não obstante, os resultados da propaganda não foram desanimadores. O Comitê Nacional que tinha sido criado no último momento, com o fim de receber as adesões à reforma, teve algumas ocasiões para reunir-se e registrar os êxitos obtidos[6]. Os Helvetianos foram os primeiros a aceitar as decisões do Convento das Gálias em 13 de março de 1779; sua atitude compensava um pouco o silêncio no qual o Diretório da Occitânia adora de forma definitiva desde então.


No mês de abril, deputados do Grande Capítulo de Lombardia de Turin foram recebidos com grande pompa; eram eles: o Dr. Giraud, A. Serpente, Chanceler, o Irmão A. Columba Rubra e J.J. Vignée, Procurador Geral. Representavam, com plenos poderes, o Grão Mestre da nova Província autônoma da Itália o conde Gabriel de Bernés, Eques A. Turri Aurea.


Não obstante, não foi antes de 10 de maio que os códigos, rituais e documentos necessários para sua investidura como Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa fossem remetidos pelo Chanceler Nacional. Os diretórios suíços, por sua vez, se mostraram bastante favoráveis às reformas de Lyon; Isso pelo fato de que as lojas da Suíça Francesa se uniram ao sistema alemão, já as lojas germânicas, sob a influência de Diethelm Lavater, Prior de Helvetia, se uniram as de Borgonha, aceitando as decisões e os regramentos do Convento de Galias[7]. Em 11 de fevereiro de 1781 o Diretório de Lyon informou também que o Oriente de Haya se uniria, para os graus simbólicos, ao Diretório de Borgonha[8].


Na Província de Lyon a Ordem se expandia. Em Chamgery, apesar da oposição da antiga loja "Os Três Morteiros", "A Perfeita Sinceridade" também estava crescendo. Em Mâcon, um certo Irmão Desbois, que já havia mantido correspondência com Willermoz, solicitou em março de 1779 os poderes necessários para fundar a loja "Cavaleiros Benfeitores"[9]. Os irmãos de tal região, recorriam a Lyon para receber os graus; entre eles, Pierre Paul Alexandre de Monspey, que fora recebido Cavaleiro em 12 de dezembro de 1779; oficial aposentado, após ser ferido na batalha de Lutzelgerg em 1758, o recém-chegado pertencia à Ordem de Malta. Ele também era um membro distinto da nobreza.


Todavia uma conquista ainda mais espetacular se fez notar: um circulo de maçons de Grenoble solicitou, em setembro de 1779, ser retificado com o título "A Beneficência"[10]. O grupo de Irmãos incluía, em primeiro lugar, Henri de Virieu, de vinte e cinco anos e Coronel do Regimento Monsieur de Infanterie; Armand de la Tour du Pin Montauban e Gaspard de la Croix de Syve; entre os burgueses, Yves Giroud, escriturário do Tribunal de Graisivaudan, André Faure, advogado do Parlamento e Leonard Prunelle de Liére. Tal reunião de personalidades ilustres, detentores de vários títulos, e o caráter entusiástico e franco do jovem Conde de Virieu, exerceram forte influência - facilmente compreensível - sobre os maçons de Grenoble; duas outras lojas pediram para ser adicionadas a “A Beneficência", “A Igualdade” em 1780 e “A Perfeita União” em 1781[11]. Uma loja dependente de Lyon também foi fundada em Crest, no Drôme[12]. Grenoble, erigida como Comenda, merecia, mais do que Chambéry, ter o título de Prefeitura; no entanto, até então, nada fora decidido.


Francois Henri de Virieu, A. Circulis, seu Comendador, foi chamado a assumir em Paris o posto de coronel do regimento de Monsieur, porém, nem sua carreira militar, nem seu zelo pelo futuro e nem mesmo seu matrimônio, esfriaram seus cuidados pela Ordem de Willermoz[13]. Ele se ocupou de fundar uma "Beneficência" parisiense, núcleo do futuro Priorado da França, pondo à disposição da Ordem suas altas relações e amizades, com o fim de encontrar um Grão Mestre Provincial que pudesse honrar toda a sua associação trazendo-lhe o verniz mundano que ainda lhe faltava[14].


Após a morte de Charles de Hund, a Província de Lyon se encontrava sem um Grão Mestre. Jean-Baptiste Willermoz, apesar das cartas onde Ferdinand Brunswick o pressionava para realizar eleições para Grão Mestre, sem dúvida não havia encontrado, até aquele momento, ninguém que lhe parecesse conveniente. É fato que não procurara com muita afinco, querendo conservar sua independência e a influência direta que exercia sobre os seus. Mas uma vez instaurado, segundo seus desejos, uma Maçonaria perfeita, não podia ser indiferente ao brilho que o patronato de um senhor nobre traria. Faltava descobrir se ia ser "chamativo" o suficiente, e não ter muitas ideias pessoais, bem como não se envolver em coisas que não fossem de sua competência.


Foi Henri de Virieu o articulador da eleição do Duque de Havré de Croy, assegurando assim o sucesso dos avanços feitos neste assunto. A primeira notícia desta brilhante candidatura foi levada a Lyon em 1780 por um grupo de maçons de Turim, o Marquês de Caluze, e um certo Pepe, sacerdote, os quais vinham de Paris carregados de confidências, de projetos, e de comissões do Irmão A. Circulis[18] . Willermoz aplaudiu a eleição que tinha sido realizada. No entanto, desconhecia os conhecimentos maçônicos do duque. Mas, sem dúvida, esse ponto lhe parecia de pouca importância, dada a nobreza e “brilho” do pretendente ao posto. O duque tinha 36 anos, era príncipe do Sacro Império, governador de Selestat na Alsácia e comandante do regimento de infantaria de Flandre. Estes títulos e sua alta nobreza pareciam apropriados para dar suficiente crédito à Província de Lyon da Ordem maçônica retificada.


Ferdinand de Brunswick apoiou fortemente a eleição do Duque de Havré de Croy. Para Willermoz, restava então entronizar seu Grão Mestre Provincial da forma mais solene possível. No entanto, era necessário instruí-lo e disso encarregaram-se Henry de Cordon e o Conde de Virieu. Teria sido oportuno se o futuro Grão Mestre fosse a Lyon como um simples aspirante a Ordem Interior para receber os títulos de Noviço e Cavaleiro; mas o Duque aceitou que ele recebesse o nome de Augustus a Porto Optato, assinasse as fórmulas de juramentos e as "capitulações"[19], verdadeiro tratado em vários pontos que definiram seu papel e seus direitos caso ele aceitasse as várias dignidades do Grão Prior da França, Presidente do Diretório Escocês de Paris, Grão Prior "ad honors" de Lyon, que o Comitê Diretivo de Auvergne enviara a ele. Isso sem se apegar as formalidade que exigiriam sua coordenação e sem considerar se valeria realmente a pena levá-lo a conhecer as pessoas que possibilitaram acessar o grau maior em sua sociedade.


Não havia um regulamento pronto para a eleição de Grão Mestre Provincial. Willermoz trabalhou, portanto, para designar os Irmãos que teriam o direito de votar, pessoalmente ou em nome das diversas categorias: Prefeituras, Comendas, Conselho de Honra, etc. que eles próprios representavam. A eleição organizada ocorreu em 21 de janeiro de 1781[20] em um Capítulo solene - tanto quanto possível que tentou ser, pois não era composto necessariamente de um numero ideal de maçons, pois tinha apenas uma dúzia de membros - E em 1º de fevereiro, os agradecimentos do duque foram expressos, mas apesar dos pedidos de Jean-Baptiste Willermoz e de sua paciência, Auguste de Croy nunca chegou, de fato, a assumir o cargo.


Outro Capítulo solene teve lugar em 3 de Março de 1782, onde se procedeu à instalação do Grão Mestre da Província[21]. O Decano Jean de Castellas, que representava o duque de Havre, prestou - em sua representação - os juramentos convenientes, recebendo em seu lugar o beijo dos Irmãos e discursando por ele no banquete que se seguiu. O Muito Ilustre Grão Mestre Augustus A. Portu Optatu não esteve presente nessas cerimônias, sendo representando por uma imagem que o Irmão Cogel havia realizado dele, e da qual se havia feito uma pomposa inauguração na sala da Prefeitura.


Outro importante irmão que faltou à cerimônia foi o Administrador Geral Prost de Royer, que era o segundo em grau de hierarquia do quadro de dignidades da Província Templária. Na verdade ele já vinha demonstrando, há algum tempo, sinais de desânimo para com a Ordem Retificada. Em 28 de setembro de 1781, por exemplo, ele havia expressado desejo de renunciar a todas as dignidades que possuía entre os Cavaleiros Benfeitores[22]. O cargo de Comissário Geral de Moedas, que acabara de receber, não lhe permitia ter tempo suficiente para lidar com assuntos maçônicos (ou ao menos ele estava utilizando tal argumento como pretexto para afastar-se). Willermoz respondeu a essa ausência apresentando ao irmão os pesares do Capítulo e rogando que ab Aquila permanecesse como Conselheiro de Honra, a fim de não “privar toda a Ordem de suas luzes”. Apesar de toda essa "mostra de afeto" Prost de Royer, quer por fadiga real ou por desapego, não parecer ter se preocupado em voltar a colaborar com Willermoz e seu "séquito". Digo “parece” por não termos muitas peças oficiais depois de tal data para falar das atividades da Diretoria de Lyon[23]. Seja como for, nenhum Administrador foi nomeado para substituir aquele que estava saindo, e Gaspard de Savaron assumiu o cargo de Grande Prior.



Notas:


1 - "No papel" como se diz aqui no Brasil.


2 - Os oficiais do Priorado eram Prost de Royer, ab Aquila, Grão-Prior; Gaspard de Savaron, a Solibus, Visitador; e Braun, a Manu, Chanceler. Os oficiais da Prefeitura: Gaspard de Savaron, Prefeito; o barão da Riviere, a Coluna Alba, Decano e Chefe dos Cavaleiros militares; Barbier de Lescot, a Leone Coronato, Chefe Inspetor dos Cavaleiros eclesiásticos; Lambert de Lisieux, a Turri Alba, Senior, Inspetor Geral dos Cavaleiros; Henry de Cordon, a Griffone Alato, Sub-Prior Limosnero; aos quais se juntam Perisse Duluc, Instrutor de Noviços, e PagaNucci, Procurador. A Comendaduría teve como Comendador a Jen-Pierre de Savaron, a Cruce Alba.


3 - Tal foi o caso dos irmãos de Willermoz, Louis de Magnolas, Leonard Gay, Paganucci, Gaspar Sellonf, Jean-Marie Bruyzet, sendo alguns Conselheiros de Honra do Priorado e outros da Prefeitura. De qualquer forma, ficou acordado que essas dignidades eram pessoais e provisórias.


4 - Lyon ms. 5458 p. 2. o código foi impresso em maio de 1779. O texto, tal e como havia sido publicado em Nancy, era ligeiramente diferente daquilo que Willermoz desejava, necessitando pois de algumas correções.


5 - O equívoco do grau de Professo dos Capítulos de Hund com o de Professo tal e como o entendia Willermoz, era desejado e perpetrado pelas aptidões e habilidades do Chanceler de Lyon.


6 - Lyon, ms. 5482, pp. 57 a 70. As contas apresentadas ao Comité Nacional foram inscritas no registo em que tinham copiado as Atas do Convento. Houve três sessões, em 31 de março, em 25 de abril e em 18 de maio de 1779.


7 - Um convento ocorreu em Bale presidido pelo Barão de Turkheim em agosto de 1779. Os Grandes Oficiais de Helvetia foram Lavater, Prior de Helvetia; Barkhardt, prefeito de Bale, e Ost, prefeito de Zurique.


8 - Lyon ms. 5481 peça 8.


9 - Lyon, ms. 5481, pieza 2. Protocolo de 11 de abril de 1.779. Cartas de Desbois a Willermoz ms. 5473 p. 31.


10 - Lyon, ms. 5473, peça 3.


11 - Carta de Prunelle de Liére del 9 de abril de 1781, Lyon, ms. 5473, peça 21.


12 - Lyon, ms. 5481, pela 174.


13 - Lyon, ms. 5481, pp. 118, 119 e 141.


14 - Lyon, ms. 5479, peças 9 e 10.


15 - Lyon, ms. 5481, p.119.


16 - Lyon, ms. 5479, peça 7.


17 - Lyon, ms. 5481, pp. 157-169.


18 - Lyon, ms. 5481, p.119.


19 - Lyon, ms. 5479, pieza 7.


20 - Lyon, ms. 5481, pp. 157-169.


21 - Lyon, ms. 5481, pp. 185 a 194.


22 - Lyon, ms. 5481, pp. 179-181.


23 - O segundo registro de protocolos vai até a sessão de 3 de março de 1782. É o último registro de contas do Conselho Maçônico de Willermoz. O que não quer dizer que não possa haver mais em coleções privadas.


I.C.J.M.S.

Que Nossa Ordem Prospere !!!














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