Extraído do Capítulo VII do livro "Un Místico Lyonés y los secretos de la Francmasonería, Jean Baptiste Willermoz (1730-1824)", de Alice Joly, Edições Télètes, Paris, 1986. Reprodução integral da edição Mâcon de 1938.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A segunda parte do artigo continua expondo as dificuldades para com o Grande Oriente verificadas na Ordem Retificada e entre seus Diretórios. Em breve lançaremos a continuação entrando, de fato, na questão dos Professos]
Tudo o que foi feito com vistas a nomeação de um Grão Mestre, sobretudo a fundação de uma “A Beneficência" em Paris, não se fez sem suscitar algumas dificuldades com o Grande Oriente e sem provocar o mal humor de Bacon de la Chevalerie, que via com despeito o zelo de neófito que demonstrava o Conde de Virieu[1]. Aludindo aos poderes secretos que Weiler lhe havia confiado em 1774, a fim de associar o Rito Francês com o Rito Alemão, o Irmão ab Apro pretendia ser o único qualificado para ocupar-se dos assuntos da Ordem nos meios de comunicação parisienses. Por outro lado, já havia prometido ao Duque de Chartres as mais altas dignidades que pudessem oferecer os Diretórios Escoceses da França e se irritava ao constatar que nada havia sido decidido a respeito.
Willermoz argumentava que tais prerrogativas eram “ilegais” e que, desde os tempos de Weiler, ele também tinha direito de poder controlar as ações de seu deputado. De fato, depois do Convento de Gália, o Chanceler de Lyon, cada vez mais, dispensava seu representante oficial. Pretendia ele empregar mensageiros mais dóceis e menos informados acerca de sua propaganda? Estaria de fato desinteressado no Grande Oriente? Sem dúvida, ele era muito prudente para arriscar alienar-se com os grandes senhores que lideravam a maioria dos franco maçons franceses e para irritar Bacon de la Chevalerie. Algumas ameaças já estavam surgindo. Não foi senão para formar uma unidade que, voltando de sua atenção ao Rito Filosófico Escocês, o Grande Oriente chegou a acordar um tratado de aliança com aquela sociedade rival, que também pretendia realizar pesquisas históricas sobre a Maçonaria e estudar seus segredos?[2].
Em outubro de 1780 Bacon chegou a Lyon para expor ao Diretório as dificuldades que estava encontrando ao tentar desempenhar seu papel de defensor da Ordem Retificada, além dos males que causavam as iniciativas inoportunas que tomavam sem seu conhecimento. Aproveitou para advertir os Lyoneses que estavam enganados em pensar que eram os mestres perfeitos de sua sociedade na França, informando-lhes que havia em Paris outros Irmãos Escoceses do Rito Alemão, os suecos, que tinham uma loja aberta e conferiam graus e títulos a quem lhes agradava, sem nunca levarem em conta a autoridade de Lyon. Recordou ao Diretório os seus antigos poderes e os serviços que havia prestado oferecendo, então, a sua demissão.
Willermoz empenhou-se para acalmar o furor de seu confrade e o levou a retomar suas atribuições. Já havia decidido que cumpriria as promessas feitas ao Duque de Chartres. O título de “Protetor das Lojas Reunidas e Retificadas de França”[3] lhe parecia suficientemente honorífico (e também insignificante) para atender a todos os interesses. Bacon ficou encarregado de oferecer esta dignidade ao Sereníssimo Grão Mestre do Grande Oriente. Por outro lado, para mostrar que os Diretório Escoceses não consideravam caduco seu tratado de aliança, foi-lhe confiada a missão de unir o Priorado de Montpellier ao quarto Diretório da Ordem Retificada.
O Irmão Ab Apro, agora tranquilizado, aconselhou os Lyoneses a demonstrarem sua amizade aos maçons regulares de uma maneira tangível, aderindo a uma obra de caridade da qual se ocupava o Grande Oriente. Deveriam, pois, fornecer leite puro e saudável ao Hospital Infantil em Paris[4]. Willermoz convocou voluntários e enviou, por meio destes, aos três Diretórios franceses o projeto de beneficência. Em 6 de fevereiro de 1781, Bacon, já reconciliado e muito elogiado por Prost de Royer, assistiu a uma reunião do Diretório onde, entre outras coisas, foi encarregado de levar a Paris a soma de 7.920 libras, total arrecadado pelos Cavaleiros Benfeitores com a finalidade de participar da ação caritativa mediada pelo Grande Oriente. Também fora encarregado de levar os extratos das Atas do Convento de Galias. Esses acontecimentos revelam muito bem que uma das causas do descontentamento do irmão ab Apro e dos Diretórios do Grande Oriente para com a Ordem Reformada era que Willermoz havia negligenciado seus deveres deixando de prestar contas acerca dos resultados de seu Convento Nacional.
O importante é que agora reinava a paz em Paris entre aqueles que haviam sido, em outros tempos, os primeiros aliados das lojas francesas da Estrita Observância Templária Alemã e o grupo que Henri de Virieu tinha agrupado em torno do Duque de Croy em “A Beneficência" de Paris. Willermoz pensava em consegui-la convidando, por um lado, a ab Apro a respeitar as prerrogativas do novo dignitário da Ordem e, por outro, recordando ao Conde de Virieu que convinha atuar em perfeito acordo com Bacon da Chevalerie e com o Irmão d'Arcambale em todos os assuntos que tocassem, ainda que pouco, o Grande Oriente. Mas tal colaboração era difícil[5].
É evidente que os irmãos do Regime Retificado definitivamente não se entendiam com os demais maçons do reino no que tange a forma de conduzirem-se. Isso porque o Diretório de Burdeous - que havia evoluído favoravelmente depois de 1773 - se posicionava com entusiasmo quanto a aceitar uma aproximação com as lojas do Rito Francês, anunciando seu desejo de nomear o Duque de Chartres como seu Grão Mestre Provincial; já Lyon retrocedia sobre seus passos demonstrando grande desconfiança para com os projetos caritativos a favor das "crianças atendidas" pelo hospital em Paris. Estrasburgo, por sua vez, crendo que a eleição de um “protetor francês" acentuaria o caráter autônomo das três Províncias francesas da Ordem Alemã, solicitou que se apagasse do Código tudo o que havia sido trazido ao Governo nacional[6]. É verdade que este corpo estava bem pouco ativo e que quase não representava risco de lançar qualquer sombra sobre o Irmão ab Eremo e sobre o Capítulo de Lyon para o Diretório Geral de Brunswick, então eles concordaram em aboli-lo. Assim, embora em 1778 o Convento de Lyon tenha fundado a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores para reformar a Ordem alemã, dando-lhe uma constituição própria mais condizente com o caráter francês, em 1781 os Cavaleiros Benfeitores, apesar de algumas prudentes precauções para acalmar as lojas nacionais, voltaram-se cada vez mais para a Alemanha.
Mas um fato deu-se que acrescentaria um interesse mais vivo entre as relações que as Províncias francesas mantinham com o Diretório de Brunswick: O Sereníssimo irmão Grão Superior a. Victoria havia anunciado depois de 1779 sua intenção de reunir um Convento Geral da Ordem Retificada e, pela primeira vez, convidava de forma especial os irmãos franceses.
NOTAS:
1 - É a partir do Protocolo de 1 de março de 1780, no qual se propõe a propaganda do Conde de Virieu em Paris, que começam a surgir algumas referências sobre dificuldades com o Irmão ab Apro e também com o Grande Oriente. Lyon, ms. 5481. Protocolos de 1 de março, 18 de abril, 22 de outubro, 19 de novembro de 1.780 e 6 de fevereiro de 1.781.
2 - Depois que o Grande Oriente lançou uma excomunhão em 1777 contra esta sociedade e sua loja "O Contrato Social", concordou com um tratado com essa sociedade para competir com a importância dos Diretórios Escoceses. Cit. Kloss "Geschirchie der Freimaurerei", I, p. 276.
3 - Lyon, ms. 5481, p. 119.
4 - Lyon, Ms. 5481. Protocolo de 22 de outubro de 1780, p. 141. "O Respeitável Irmão ab Apro, comunicou um projeto de beneficência maçônica a favor das "Crianças em Paris" para prover-lhes leite de vaca e de cabra, aprovado pelos ministros do Rei e do Grande Oriente da França”. Cada maçom, "unido ou agregado", deveria dispor de 360 libras de uma só vez, ou pagar anualmente 18 libras "para os juros do capital". Bacon explicou-lhes que tal projeto era apropriado para obter para todas as lojas "a proteção do governo".
5 - Estas recomendações são feitas a propósito de uma proposta de ab Apro que queria entregar ao Duque de Luxemburgo a doação de títulos de honra que o Diretório havia reservado exclusivamente para o Duque de Chartres. o O irmão de Luxemburgo era, na verdade, o verdadeiro diretor do Grande Oriente, e Bacon achou que seria muito importante ser-lhe favorável. Lyon, ms. 5481, peça 7. Protocolo de 6 de fevereiro de 1781.
6 - Lyon, ms. 5473; peças 13 e 14. Extrato das deliberações do Capítulo de Borgonha de fevereiro de 1781 sobre a questão da dignidade do Protetor para oferecer ao duque de Chartres e da supressão de todo governo nacional da Ordem Retificada; ms. dos Protocolos do Capítulo de Lyon: a sessão de 10 de Junho de 781 aceita esta proposta.
7 - A primeira menção acerca de um Convento Geral se realizou em uma sessão de 12 de dezembro de 1779.
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
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