Este post é uma tradução literal de um excerto da obra “Conversaciones en el claustro: sobre el Régimen Escocés Rectificado y la masonería cristiana” de Eduardo R. Calley e Ramón Martin Blanco. Traz, obviamente, uma ou outra modificação pequena a fim de fazer-se melhor compreender em nossa língua mãe. As “Conversações no Claustro” representam o diálogo íntimo entre dois Irmãos que observam a realidade do mundo e da Franco-maçonaria a partir de sua visão de maçons cristãos. São o resultado de uma comunicação profunda entre homens que concebem o mundo a partir da espiritualidade que nos é proposta pela Ordem Retificada.
A Cosmogonia de Martinez de Pasqually
A relação entre Martinez de Pasqually e o Regime Escocês Retificado estabelece-se através de nosso fundador e principal impulsionador Jean Baptiste Willermoz, que foi discípulo de Pasqually em sua Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohens do Universo, que faleceu subitamente em 1774 em Porto Príncipe, o atual Haiti.
Efetivamente houve e ainda há no Regime Escocês Retificado os interessados em apresentar esse sistema maçônico como herdeiro da ordem de Pasqually. O problema é que Martinez de Pasqually propunha uma cosmogonia cuja visão da criação do mundo era completamente heterodoxa em relação à doutrina cristã comumente aceita pelas principais igrejas de confissão trinitária. O que faz que Pasqually, crendo-se e dizendo-se cristão (obrigava seus discípulos a professar a fé católica), na verdade não o fosse, professando em seus escritos teorias que situariam seu “cristianismo” em um paleocristianismo heterodoxo e herético totalmente superado pelos quatro primeiros Concilios Ecumenicos constitutivos da cristandade, com os quais concordam em plenitude as atuais igrejas católica, ortodoxa e protestantes em geral, o que delimita o que é o cristianismo daquilo que ele não é.
Nesse sentido, concebemos e propomos uma maçonaria cristã, no Regime Retificado, totalmente de acordo com a doutrina das distintas igrejas cristãs mencionadas, completamente afastada e na antípoda daquela noção de “cristianismo esotérico” propostas por lamentáveis desvios baseados num falso esoterismo do qual falámos anteriormente…
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Refere-se o autor a um outro excerto do texto que a esse antecede e que trata do esoterismo (“El Esoterismo y sus Modalidades”) que não reproduzimos aqui por estarmos convictos que o assunto já foi bem tratado em um post anterior que fizemos: “Regime Escocês Retificado - Esoterismo Cristão ou Cristianismo Esotérico?”]
Na verdade, os escritos que Martinez de Pasqually deixou encontram-se reunidos em sua única e inacabada obra, que leva o título de “Tratado de Reintegração dos Seres”. Essa obra expressa alguns princípios que Pasqually sempre manifestou ter recebido por “revelação direta”, com base nos quais constrói sua particular concepção da criação e do universo, completamente distintas das Santas Escrituras Sagradas seguidas pelo cristianismo, e que serve de “Bíblia” àquilo que veio a se designar “martinezismo” e “martinismo. Pasqually antecipa-se assim - com seu tratado - a outros que, propondo desvios ao cristianismo por não encontrarem espaço nele para suas heterodoxias (e mesmo heresias) acabam por escrever suas próprias “bíblias” como é o caso de Charles Taze Russell, autor de “Studies in the Scriptures” que é a “bíblia” em que se baseiam seitas como as Testemunhas de Jeová, ou Joseph Smith que escreveu “O Livro de Mórmon: outro Testamento de Cristo” publicado em 1830, na qual se baseia a autodenominada Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias. Todos eles precisaram estruturar um novo argumento para dar lugar e base a suas afirmações equivocadas ou em qualquer caso distintas à doutrina da fé cristã, colocando-os à margem.
Pois bem, todos aqueles que tentam estabelecer vínculos entre as teorias heterodoxas de Pasqually e o Regime Escocês Retificado, fazem-no baseados em escritos e cartas de Willermoz, totalmente externos e alheios ao conjunto de rituais, códigos e textos oficiais que constituem o corpo doutrinal do Rito Escocês Retificado, utilizados na estrutura do Regime Retificado, composta pela Classe Simbólica (subdividida em quatro graus) e a Ordem Interior de Cavalaria (subdividida em Escudeiros Noviços e Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa) sendo por outro lado a única estrutura que se ratificou e aprovou no Convento de Wilhelmsbad de 1782, configurando o que atualmente é a composição do Regime Escocês Retificado. Não há e não pode haver oficialmente outra composição e, em todo o caso, haveria que celebrar um novo Convento para a Ordem Retificada, que mudasse e revogasse o acordado em Wilhelmsbad, e até hoje não se realizou tal Convento que mudasse o estado das coisas. O mesmo reconhece e afirma Jean-François Var em seu livro “Os Conventos fundacionais do Regime Escocês Retificado”. É de acordo com esta mesma concepção que nos estruturamos e velamos para que a prática do Rito Escocês Retificado se efetue e realize.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Aos que, com tanto zelo, se lançam a tal empreitada, fazemos um convite: Estendam também a leitura as cartas de Willermoz para Charles de Hesse ou para Turkheim; extraiam delas conteúdo para incorporar ao R.E.R. como o fazem com as outras; comecem com o reconhecimento da autoridade espiritual do Santo Padre o Papa sobre os demais homens, estabeleçam como prática aos maçons retificados de suas lojas a presença nas missas dominicais, exortem-nos a reconhecer o valor salvífico das missas e a se submeterem aos sacramentos - em especial o da confissão sob pena de não alcançarem a regeneração; recomendem aos mesmos as devoções marianas, celebrem missas para os maçons defuntos (para retirá-los do purgatório) e rezem o terço constantemente… Ah, mas isso não os interessa… isso não vai ao encontro dos anseios do maravilhoso que acomete o esquisoterismo … Sigamos...]
Por fidelidade aos nossos Conventos fundacionais, base da lei e legitimidade do Regime Escocês Retificado, não se pode conceber outra estrutura nem ir além destes sem violar a nossa própria essência. Os conflitos ocorridos ou que possam ocorrer no futuro no seio da Ordem Retificada obedecerão a outras razões externas, alheias, mas que nada têm a ver com o Rito Escocês Retificado.
Não há ninguém que possa demonstrar nos rituais e textos Retificados vigentes (absolutamente fiéis aos originais de Willermoz), nem a menor menção a Martínez de Pasqually, nem que eles se desviem da mais absoluta ortodoxia e doutrina cristã do começo ao fim. Onde estariam então as supostas fontes ?
Segundo estudos do próprio Jean-François Var, parece que o projeto apresentado para aprovação no Convento de Wilhelmsbad apresentou uma terceira classe (a classe de Profissão), mas nunca foi aprovada ou sancionada pelo referido convento, não podendo portanto, ter uma existência oficial. Bem, todo conflito na Ordem Retificada sempre fez menção e referência a textos e instruções contidos na referida terceira Classe, que simplesmente não podemos considerar de forma alguma como Ordem Retificada, uma vez que não possui o endosso de Wilhelmsbad. É a partir disso que há especulações sobre as verdadeiras ou supostas intenções de Jean-Baptiste Willermoz, mas, afinal, o Convento de Wilhelmsbad se pronunciou como se pronunciou e não de outra maneira. Nossos próprios rituais nos ensinam que a Providência Divina usa os elementos e situações mais insuspeitos para seus propósitos.
Denunciar os desvios e heterodoxias contidos no Tratado de Martínez de Pasqually, implicaria o uso de um espaço e um tempo que, devido à sua extensão, excederiam o razoável de ser feito aqui, mas é um trabalho a ser realizado e que não descartamos em um trabalho dedicado exclusivamente para esse fim.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Recomendamos o estudo das lições de lyon e os comentário e as considerações de Robert Amadou a elas. Lembrando que um dos irmãos que alimenta os escritos desse veículo fez uma palestra sobre metafísica e ontologia no R.E.R. onde tal tema foi abordado]
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
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