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A Doutrina do Regime Retificado e o Pensamento Cristão Ortodoxo

Atualizado: 24 de mai. de 2022

Não. Não estamos retornando a nossa plena atividade. No entanto resolvemos trazer mais alguns textos e reflexões para consideração dos maçons retificados em nossos país e também para alguns leitores que foram por nosso trabalho alcançados além das terras brasileiras. O presente texto não é inédito, nós já o publicamos sob o titulo “Os Quatro Ensinamentos da Doutrina do R.E.R.” aqui mesmo no blog, isso em 28 de Novembro de 2018, e o fizemos circular também em alguns grupos de aplicativos de comunicação. Na ocasião, nos valemos de uma tradução em espanhol que transcrevemos para o português... No entanto, ao contrário do que geralmente fazíamos, não acrescemos no corpo do mesmo notas de nenhuma espécie, traduzindo-o conforme o material que tínhamos em mãos. Resolvemos então "corrigir tal falha" trazendo aos Bem Amados Irmãos o texto revisado e acrescido de notas explicativas (no corpo do texto e também de rodapé) nas quais trabalhamos e que esperamos possam ser úteis para melhor compreensão da doutrina do rito que abraçamos e que tanto amamos.


Doutrina do Regime Escocês Retificado

Extrato da conferência “Da Maçonaria Cristã a Maçonaria Retificada”, do Padre Jean François Var.

O Regime Escocês Retificado apresenta a peculiaridade destacável, possivelmente a ele restrita, de possuir uma doutrina iniciática própria, explicitamente formulada e metodicamente ensinada ao Maçom Retificado à medida que esse avança nos graus de sua caminhada. Assim, a cada passo na via iniciática, o Maçom Retificado recebe um ensinamento teórico (em forma de discurso pedagógico) acerca da iniciação em si mesma.


Esta doutrina da iniciação maçônica retificada está intrinsecamente ligada à natureza e ao destino do homem, estando pois em perfeitíssimo acordo com o cristianismo que lhe é conatural, permitindo assim que aquele que a abraça possa viver a plenitude do processo iniciático na plenitude da fé cristã.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A inconciliabilidade observada entre a filosofia das diferentes formas de maçonaria existentes com a sã doutrina cristã não se faz presente no Regime Escocês Retificado; muito pelo contrário, o Maçom Retificado quando se encontra, por um motivo ou por outro, incapacitado de exercer completa adesão aos dogmas centrais transmitidos pela revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo e manutenidos pelo magistério cristão, acaba por fazer da doutrina recebida durante sua caminhada iniciática uma via tortuosa e estéril, capaz unicamente de conduzi-lo para confusão, para vaidade e para a perdição da senda de restauração de sua alma imortal.]


O cerne dessa doutrina está nos ensinamentos de Martinez de Pasqually, de forma particular em seu Tratado de Reintegração dos Seres, substrato doutrinal de todo o conjunto da retificação que Willermoz adaptou à estrutura e apresentação atual da Ordem.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A adaptação era mais que necessária; se o Regime Retificado tivesse aderido, “in totum”, aos ensinamentos do Tratado de Reintegração dos Seres, facilmente poderia ser adjetivado como herético (dado que clama para si a característica de ser um rito cristão). A doutrina de Martinez teve que sofrer uma grande correção no que diz respeito ao sentido trinitário e cristológico, eliminando os vestígios de modalismo que possuía em seu cerne e passando a insistir, como soaria normal para qualquer iniciação cristã, na dupla natureza do Reparador dos Mundos (Nosso Senhor Jesus Cristo). Isso porém não muda a perspectiva legada pela Ordem Cohen, ao contrário, isso a purifica, a aperfeiçoa e demonstra assim, de modo absolutamente incontestável, que o Regime Retificado contribui para salvaguardar e preservar os elementos principais da doutrina de Martinez, posto que é - indubitavelmente - transmissor de uma autêntica e direta herança, deixada por Martinez de Pasqually a nós, pela intermediação de Jean Baptiste Willermoz, incluindo nisso a transmissão da prática do culto primitivo, cujo traço é visto pela concepção quaternária da iniciação retificada e pela elevação do altar de perfumes… Este aspecto das coisas, para não dizer "da coisa", merece reflexão. As alterações existentes no Regime Retificado em relação aos Cohens são evidentes mas, de nenhuma forma, excluem o fato de que o RER "encerra em seu seio os conhecimentos misteriosos da ciência religiosa do homem" de acordo com Martinez.]


A doutrina retificada resume-se nos quatro ensinamentos abaixo:


Primeiro Ensinamento:


O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus[1] e em seu estado glorioso primitivo, que lhe era próprio, gozava de imortalidade e de beatitude perfeita porque estava em comunhão perfeita com o Criador, em unidade plena com Ele. E é isto que expressa o adjetivo glorioso[2], ao qual se deve tomar em seu sentido mais amplo, aquele mesmo que aparece nas Escrituras, onde a glória põe de manifesto a presença imediata e luminosa de Deus (em maçonaria a palavra glória tem este sentido: para cada maçom, trabalhar a Glória do Grande Arquiteto do Universo é trabalhar na presença do Deus Criador).


O primeiro homem, revestido com luz divina, ou seja, sendo partícipe direto das virtudes e poderes contidos na essência divina (o que a teologia da igreja ortodoxa chama de “energias incriadas”); participando, mas não sendo parte da essência divina, tinha como destino ser o Rei do universo criado por Deus.


Segundo Ensinamento:


Esse homem, por decisão livre de sua vontade, desviou-se e separou-se de Deus, seu criador, para cair em seguida[3]. Como consequência, perdeu a semelhança divina[4]. No entanto, a imagem divina subsiste nele inalterada[5], Esta imagem está deformada, tornou-se algo disforme, e isto é o que simboliza a passagem do Oriente ao Ocidente, da luz às trevas, da unidade à multiplicidade: Adão expulso daquele lugar de luz e de paz total, que era o Paraíso terrestre; e entendamos que o Paraíso terrestre não era realmente um lugar, mas um estado do ser.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Alguns estudiosos de religião atribuem ao Jardim do Éden uma localização geográfica específica e defendem que ele teria sido destruído após a expulsão de Adão. No entanto, a percepção de Martinez em seu Tratado de Reintegração não fere a sã exegese cristã que defende que o paraíso terrestre descrito em Gn 2:8-15 irrigado pelos rios: Fison, Geon, Eufrates e Tigre não significa exatamente um local determinado, mas tão somente o estado de harmonia e felicidade a que o homem foi levado logo após a sua criação.


Com efeito, o rio é para os antigos, símbolo de vida e de fecundidade; quatro é o número que designa a totalidade das coisas deste mundo; consequentemente, quatro rios significariam o bem estar interior e exterior de que gozavam os primeiros pais após a criação (dado os dons preternaturais que detinham).]


Este homem separado de sua origem, que é Deus, de seu verdadeiro Oriente, é chamado por Willermoz, influenciado por Martinez, de “homem em privação”. Tal privação é absoluta. Isso constitui para ele um duplo castigo (castigo exigido pela Justiça mas provocado pelo próprio homem):


O Primeiro é que o homem não está mais em unidade com Deus, em comunicação imediata e ininterrupta com Ele. Isto é chamado nos antigos textos de “morte intelectual”, tendo em conta que, na linguagem da época, queria dizer espiritual, incorporal; nós diríamos agora que o homem caído está em estado de “morte espiritual”.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A proposição da vida intelectual como caminho para a vida contemplativa (algo como a Bios Theoretikos proposta por Aristóteles) é o caminho espiritual verdadeiro para o cristão… O estudo natural da realidade, leva por via da própria razão a conhecer a existência de Deus e, vendo a criação de Deus, conhecer certas coisas quiditativas de Deus - claro que de forma imperfeita pois a essência de Deus só a conheceremos se nos salvarmos e, portanto, o virmos por essência em toda eternidade. Assim, a morte intelectual ou a perda da capacidade de chegarmos racionalmente a alcançar a Deus é termo corretíssimo para descrever o estado de miséria em que o homem se encontra atualmente (podendo sim se traduzir como “morte do espírito”). Como dizia São Justino: “Tudo o que é racional é cristão, e tudo o que é cristão é racional.” ]


Mas o homem sofreu ainda um segundo castigo. A mutação ontológica radical que a queda provocou se manifestou no corpo glorioso do qual estava revestido, corpo de luz, corpo espiritual, que se transformou em corpo de matéria sujeito a corrupção e a morte; de sorte que, condenado à morte espiritual, viu-se também condenado à morte corporal.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Este ponto da doutrina retificada já causou desavenças entre importantes teóricos do Regime; o que lamentamos pois, particularmente, vemos a discussão como desnecessária sendo que, ao fim, todos concluem a mesma coisa: que após a queda do paraíso a terra foi feita maldita e a natureza se tornou hostil ao homem.


Vamos tentar lançar um pouco de luz sobre o assunto.


Há teóricos do Regime Retificado que, influenciados pelo que foi escrito no Tratado de Reintegração dos Seres, assumem que o corpo de Adão antes da queda era um corpo glorioso, feito de luz… corpo que teria sido reedificado em Jesus Cristo (após sua ressurreição) e estaria reservado a todos os homens (reintegrados) quando esses ressuscitassem no tempo do juízo. Tal proposição quando sustentada por Martinez, que seguia doutrinas típicas do judaico-cristianismo, tem sua razão de ser na tradição oral exegética baseada no judaísmo antigo (do qual o judaico-cristianismo muito se apossou). Se tomarmos, por exemplo, a passagem do Gn 3:21 - “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.” - podemos ver como a tradição oral judaica distorceu os escritos bíblicos; nos registros do Rabino Meir Baal HaNes (terceiro rabino mais citado na Mishna), vemos que onde deveria estar a palavra ´or` עור significando “pele ou couro” encontramos a palavra ´ohr` אור “luz”... o que muda radicalmente o sentido do texto. E claro, isso não se restringe apenas a um versículo. Outros teóricos, no entanto, procuram descartar qualquer teoria não relacionada à Tradição Apostólica e ao Magistério Cristão. Tais teóricos se apoiam nas palavras do Venerável Mestre que, com a mão sobre a Bíblia Sagrada, proclama: “Meus Iir∴, quando, para aperfeiçoar o Vosso trabalho buscardes a Luz que vos é necessária, lembrai-vos que ela se encontra no Oriente e que é aí e somente aí que a podereis encontrar”. Ora, o Magistério Cristão nos ensina que Deus, ao criar Adão à sua imagem e semelhança, não o fizera com corpo glorioso (como o de Cristo Ressurrecto) mas o adornara com dons preciosíssimos, capazes de demonstrar a “Glória de Deus no homem vivente”; tais dons são chamados de dons preternaturais; ei-los:


I) Imortalidade, pois a morte é fruto do pecado (Gn 2, 7; 3,3 s; Sab 2,14; Rom 5, 12; Rom 6,23). Compreender essa imortalidade estava presente no homem é essencial para a compreensão de que não se tratava da mesma característica do corpo glorioso, para isso temos que fazer uma clara distinção entre a imortalidade inerente a Deus e a imortalidade condicional das Suas criaturas. A Bíblia afirma que Deus é “o único que possui imortalidade” inerente em Si mesmo (1Tm 6:16). Como a única Fonte da vida, Deus concedeu originalmente o dom da imortalidade a todas as Suas criaturas, na condição de que estas continuassem vivendo em plena comunhão com Ele. Portanto, o estado de imortalidade no qual o ser humano foi originalmente criado não era algo inerente em si mesmo, mas um dom (presente) dado por Deus.


II) Integridade, ou imunidade de concupiscência: os afetos, sentimentos e desejos não eram desordenados, mas submetidos docilmente à razão e à fé, sem conflitos interiores.


III) Impassibilidade, ou a ausência de sofrimento, fruto do pecado (Gen 3,16).


IV) Ciência Moral infusa: que tornava o homem apto a assumir suas responsabilidades diante de Deus sem dificuldades.


Vale dizer ainda que Adão possuía além da ciência moral infusa também a ciência material (conforme se vê em Gn 2:20).]


E em tal estado, a partir dali, o homem se encontra dotado de uma dupla natureza: sua natureza espiritual, graças a qual continua sendo imagem de Deus, já que a conservou, e a natureza corporal que o leva a se assemelhar aos animais terrestres.


Por tal motivo fez-se vítima de terríveis tormentos. Como ser espiritual, aspirante por sua própria natureza à unidade com Deus, sofre indecentemente por sua ruptura com Ele. Como ser animal, tornou-se escravo de suas sensações e necessidades físicas e um brinquedo das forças e elementos materiais. Enfim, como ser duplo, ao mesmo tempo espiritual e animal, está dilacerado e esquartejado pelo antagonismo entre as aspirações e tendências contrárias de suas duas naturezas.


A condição atual do homem é trágica.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: O saudável magistério cristão estabelece que, no composto humano, o corpo deve se ordenar a alma e essa deve se ordenar a Deus; isso de forma essencial, não acidental. Assim, a natureza humana deve se ordenar a Graça Divina - nos justos, assim como a razão se ordena a fé - na compreensão dos mistérios da teologia sagrada. Todavia no mundo do homem, caído em Adão, pretende-se que alma esteja ordenada ao corpo e que essa legitime toda forma de excesso a que esse se entrega a fim de viver suas paixões e mergulhar cada vez mais em seus vícios… A condição atual do homem é sim, CADA VEZ MAIS, trágica. ]


Terceiro Ensinamento:


No entanto, o Regime Retificado nos ensina que esta privação, que se convertera segundo a Justiça Divina em absoluta, não o será de fato. E isso graças ao surgimento da Misericórdia ou Clemência Divina, que surge no instante em que o homem se arrepende[6]. Mas observem bem, arrepender-se é voltar ao cerne de si mesmo[7]. É desviar-se das trevas e fazer frente de novo ao Oriente onde se encontra a Luz. É colocar-se em posição de ascender a suas fontes, a sua origem. É então quando o trabalho de iniciação é verdadeiramente possível. Pois a iniciação é um dos meios utilizados pela misericórdia divina (e isto, desde o primeiro instante da queda) para permitir ao homem recuperar seu estado original restabelecendo nele a semelhança à imagem divina, restaurando nele a conformidade do tipo ao protótipo, do homem a Deus.

[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A iniciação a qual a doutrina do Regime Retificado se refere é a iniciação cristã. Sim, existe uma iniciação cristã que de oculta e misteriosa nada tem. A iniciação cristã consiste em consagrar continuamente todo o ser do cristão na seqüela de Jesus Cristo mediante o Batismo, a Crisma e a Eucaristia. O Batismo só se realiza plenamente por ocasião da morte real, que é passagem para a ressurreição pessoal, ressurreição que terá lugar quando todos os mortos ressuscitarem no fim dos tempos. Esta concepção não é inventada pelos homens. É transmitida e acolhida mediante a Revelação de Deus aos homens por Jesus Cristo, revelação da qual a Igreja Cristã tem o depósito fiel.


É por isso que os Pais da Igreja, destacando aqui Santo Irineu, chamam o Batismo, a Crisma e a Eucaristia, os três graus da iniciação cristã (e por favor não me criem analogias com aprendiz, companheiro e mestre). A sua sucessão constitui, realiza a introdução progressiva e completa à plenitude dos mistérios cristãos. E esses, ao contrário dos mistérios pagãos da antiguidade, não estão fechados aos homens, nem estão reservados a uma casta especial de adeptos, mas estão abertos a TODOS aqueles que consintam que o desejo de Nosso Senhor Jesus Cristo, de estar “Todo em todos” se faça real também nele.]


Por tal razão se afirma insistentemente que o verdadeiro e único objetivo das iniciações é preparar os iniciados para que descubram o único caminho que pode conduzir o homem a seu estado primitivo e de restituir-lhe seus direitos perdidos. Aqui podemos fazer um paralelo com outro texto em que Louis Claude de Saint-Martin expõe que o objetivo da iniciação é anular a distância que há entre a Luz e o homem ou o de aproximá-lo de sua origem, repondo-o no mesmo estado em que estava em um princípio.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: No livro “Conversaciones en el Claustro”, de Eduardo R. Calley e Ramon Marti Blanco, lemos: “Em tudo isso há uma doutrina – a Doutrina da Reintegração - que é própria a Ordem Retificada e que nossos fundadores, com Jean Baptiste Willermoz à frente, elaboraram com uma sábia metodologia fundamentada na religião cristã, enriquecida pelo pensamento dos principais Padres da Igreja, que progressivamente nos conduz a essa tomada de consciência, levando-nos por um caminho que tem como ponto de partida o próprio homem, conduzindo-o então àquilo que era sua condição primeira. Ora, a Ordem Retificada não pode conseguir esse objetivo por si só, pois está escrito que só se pode chegar ao Pai por intermédio do Filho, e não sendo a Maçonaria uma religião, o Maçom Retificado precisa do socorro ofertado a todos os cristãos: os Sacramentos da Cristandade, a Via Sacramental ofertada - unicamente - pela Igreja de Cristo, única via capaz de conduzir o homem a Salvação prometida pela Lei da Graça. De tal modo, que a Via iniciática que a Ordem Retificada propõe, nos induz, nos conduz e constitui para alguns uma poderosa ferramenta nesse caminho de retorno ao Pai de que me falas, abrindo-nos o intelecto a respeito das verdades que envolvem o Mistério Divino. Sendo, no entanto, somente uma ajuda - poderosa se quiser - mas que não serviria para nada caso aquele que a ela recorresse não trouxesse a fé em Cristo e sua promessa de Salvação. Daí a exigência, para todo candidato, de sua condição de cristão e, como consequência, da fé em Cristo, sem a qual a Iniciação que se propõe resultaria em nada… em uma inutilidade”.]


Falemos agora no que consiste a união necessária entre a queda do homem e a iniciação a que me referi anteriormente. A iniciação é uma consequência da queda; não fatal, mas providencial; não obrigatória, mas desejada pela misericórdia divina para neutralizar a queda e anular seus efeitos. É um auxílio da providência ao homem e nunca lhe faltou ao largo de sua história, por esta razão as sucessivas formas de iniciação que se fizeram presentes ao longo do tempo (sendo a maçonaria uma delas) em relação com as vicissitudes temporais do homem, que incessantemente se debate entre a queda e o arrependimento.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: É Necessário ressaltar que a iniciação é, tão somente, UM dos ramos ofertados pela misericórdia para esse fim e, como deixa claro a Regra Maçônica, não pode afastar-se ou negar a religião, sob pena de não dar os frutos desejados; frutos verdadeiros de virtude e de santidade; sem os quais não alcançará seu fim, passando a ter um destino triste. Em Jo. 15 vemos: “Eu sou verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim.” ]


Compreende-se também, não apenas a utilidade, mas a necessidade do um ensino conexo com a Iniciação. Este tem como objetivo tornar os homens conscientes, por um lado, do seu estado atual e, por outro, de qual era o seu original que pode voltar a conquistar. O objetivo é claro: produzir no homem (no iniciado) uma mudança no estado de consciência, de modo a permitir que ele mesmo possa fazer a mudança de estado do ser, que deve realizar o trabalho iniciático. Os dois (estado de consciência e estado de ser) estão ligados.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Por isso a necessidade exposta no Grau de Companheiro Maçom acerca do autoconhecimento; não há como trabalhar sobre si mesmo sem conhecer-se (sempre contanto, é claro, com o auxílio e a misericórdia divina)]


É por esta razão que o Rito trata do Templo, a sua destruição e reconstrução, que é a transposição de forma construtiva da questão da semelhança da imagem, sucessivamente perdida e depois recuperada, já que, em última instância, o Templo não mais do que o próprio homem.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Dizia São Josémaria Escrivá: “Frequenta o convívio do Espírito Santo – o Grande Desconhecido – que é quem te há de santificar. Não esqueças que és templo de Deus. – o Paráclito está no centro da tua alma: ouve-O e segue docilmente as suas inspirações”. ]


Quarto Ensinamento:


Há um quarto ensinamento, com o qual terminamos, e que é o mais importante: Pode um homem executar este restabelecimento, esta reintegração no seu estado original nos direitos que perdeu? Absolutamente não. Caso tentasse seria, por sua vez, culpado de uma empresa motivada por orgulho semelhante ao original que causou a sua queda.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Santo Agostinho de Hipona (354-430 AD) escreveu: "o princípio de todo pecado é o orgulho porque foi isso que derrubou o diabo, de quem surgiu a origem do pecado; e depois, quando sua malícia e inveja perseguiram o homem, o qual ainda desfrutava de sua retidão, o inimigo subverteu-lhe da mesma forma em que ele mesmo caiu. Porque a serpente, de fato, apenas buscou uma porta pela qual entrar quando disse: Sereis como deuses'"]


Esta reintegração, que é mesmo que dizer, este retorno à integridade primeira, exige a mediação de um ser que, à maneira do homem é dotado de uma natureza dupla, uma parte espiritual e outra corpórea. No entanto, ao contrário do homem atual, cujas duas naturezas estão corrompidas pela queda, estão ambas em estado de pureza nesse ser, de inocência e perfeição gloriosa, como o estavam inicialmente no homem. Compreende-se agora de quem se trata e quem é aquele a quem os nossos textos chama o Mediador Divino.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do gênero humano: Adão e Cristo. [...] O primeiro Adão, diz ele, foi criado como um ser humano que recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual que dá a vida. O primeiro foi criado pelo segundo, de Quem recebeu a alma que o faz viver. [...] O segundo Adão gravou a sua imagem no primeiro, quando o modelou. Por isso, veio a assumir a sua função e o seu nome, para que não se perdesse aquele que fizera à sua imagem. Primeiro e último Adão: o primeiro teve princípio; o último não terá fim. Por isso é que o último é verdadeiramente o primeiro, como Ele mesmo diz: "Eu sou o Primeiro e o Último"]


Os textos são, no que diz respeito à sua identidade, perfeitamente claros: “(…) Todas as relações entre a misericórdia divina e os culpados tinham sido aniquiladas e a desgraça atual do homem seria inexplicável se essa misericórdia não tivesse aplicado um tônico infinitamente poderoso para levantar o homem de sua funesta queda e colocá-lo de volta onde era o seu destino primeiro.” Não ignorareis qual foi este tonificante. Na verdade, quem outro que não seja um Deus, que participa da sua essência, poderá quebrar o poder daquele que tinha subjugado o homem? "Imediatamente após o crime do Homem, este poderoso agente veio para manifestar a sua ação vitoriosa sobre os culpados no templo universal; manifestou-a em especial no tempo e a favor da posteridade do homem e para vergonha do seu inimigo, unindo a sua Divindade à humanidade, em suma, não cessando de manifestar-se em todos os cantos do universo. Aqui estão, meu querido irmão, os auxílios divinos e eficazes que o homem, através de seu arrependimento, transmite à sua posteridade e dos que ninguém pode participar se não atua em nome e em unidade com este Agente, reconciliador universal.“


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A iniciação cristã difere de qualquer outra forma de iniciação ao apontar um agente único como caminho para a ascese humana. “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devemos ser salvos” (At 4,12).]


Eis então porque, no final da iniciação maçônica, tal como o Regime Retificado a oferece para que contemplem os seus membros, não está um renascimento, mas sim uma ressurreição. Devemos notar que desvelar no final da iniciação a ressurreição de Cristo não é exclusivo do Regime Escocês retificado; este fato é comum a outros sistemas tanto franceses como ingleses. A particularidade deste regime é, no entanto, incluí-la numa perspectiva metafísica e ontológica coerente, forte e concretamente aplicável ao Homem.


Eis aqui também porque, uma vez chegado a este termo, o templo sucessivamente construído, destruído e reconstruído, desaparece, como desapareceu o templo de Salomão sendo a meta final a Jerusalém Celeste, a Cidade Santa, onde já não há templo, pois, como diz o Apocalipse (21:22), o Senhor Todo-Poderoso é o Templo, e o Cordeiro.

Na verdade, não o esqueçamos, o templo que nos concerne verdadeiramente é o Homem, e a meta última do homem é a identificação com o “templo não feito por mãos humanas”: O Cristo ressuscitado.


Finalmente, é por isso que a Ordem é cristã e não apenas algo impregnado de um cristianismo vago. Isso justifica o motivo pelo qual é necessário ser cristão para se aderir a ela (ou estar disposto a sê-lo). Essa seleção, ou eleição, não tem nenhuma outra razão senão a necessidade metafísica mencionada acima. Porque a iniciação, tal qual a concebe Willermoz, segundo os ensinamentos de Martinez, e que nos foi legada, não funciona de outra forma, não pode funcionar de outra forma, a não ser a já citada. Constitui-se de um eficaz auxilio divino (...) do qual não se pode ser participe se não se atua em nome e em unidade com este Agente Reconciliador Universal que é o Cristo.


Pois bem, como se pode atuar em nome e em unidade com Cristo se não se tem fé Nele?


Jean François Var


Que Nossa Ordem Prospere!!!


Notas:


1 - Deus nos criou à Sua imagem, porque nos fez racionais. Nossa alma tem inteligência, vontade e sensibilidade. Estas são as potências de nossa alma e não partes dela, porque a alma sendo simples, não tem partes, e, por isso, é imortal. Assim como nós temos inteligência e vontade finitas, Deus também tem Inteligência e Vontade, mas infinitas. Por isso, por termos inteligência e vontade, temos, em nós, uma imagem de Deus. Somente os anjos e os homens são feitos à imagem de Deus. Além disso, Deus quis dar a Adão uma semelhança com Ele, através da elevação do homem à vida sobrenatural. Isso Deus fez infundindo em Adão a graça sobrenatural, isto é, a participação na vida divina, que tornou Adão santo como Deus é santo.


2 - O “estado de santidade” (participação perfeita na comunhão com Deus) e de ”justiça” (harmonia perfeita consigo, com a mulher, com a natureza e com Deus).


3 - A Sagrada Escritura (assim como a obra de Martinez) nos ensina que os primeiros pais se rebelaram contra Deus, sucumbindo à tentação de querer ser como deuses. O que se vê nas escrituras em Gn 3:13 com a desobediência do mandato divino de não comer do fruto da árvore proibida. O homem, caído em tentação, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, ser uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade.


4 - A semelhança com Deus, nós a possuímos, quando não estamos em pecado, e somos santos, pela posse da graça habitual, que nos torna participantes da vida divina, e santos de modo semelhante a Deus, que é santíssimo.


5 - No Art. 6 da Suma Teológica, “Se a Imagem de Deus está no homem só quanto à alma”, esclarece-nos São Tomás de Aquino que embora haja, em todas as criaturas, certa semelhança de Deus, só na criatura racional se encontra essa semelhança ao modo de imagem; ao passo que, nas outras, ao modo de vestígio. É pelo intelecto ou mente que a criatura racional excede as outras criaturas. Donde resulta que, na própria criatura racional, a imagem de Deus só existe, quanto à mente; porém, em outras partes que tenha essa criatura, há a semelhança de vestígio, assim como nos outros seres aos quais, quanto a tais partes, ela é assimilada. A imagem representa por semelhança específica. Ao passo que o vestígio é como o efeito, que representa a sua causa sem que o seja pela semelhança específica; assim as impressões deixadas pelo movimento dos animais chamam–se vestígios, e, semelhantemente, a cinza considera–se vestígio do fogo, e a desolação de um país, vestígio do exército inimigo.


Ora, a diferença referida pode ser considerada relativamente às criaturas racionais e às outras, e também à representação, naquelas, não só da semelhança da divina natureza como também da Trindade incriada. – Assim no atinente à semelhança da natureza divina, as criaturas racionais se consideram como realizando, de certo modo, a representação específica por imitarem a Deus, não só quanto ao ser e à vida, mas também quanto ao inteligir. Ao passo que as outras criaturas não inteligem, mas trazem em si um como vestígio do intelecto produtor, se se atender à disposição delas. – Semelhantemente, como a Trindade incriada se distingue, quanto à processão do verbo, da Pessoa discente, e à do Amor, de arribas, a criatura racional, na qual existe a processão do verbo, quanto ao intelecto, e a do amor, quanto à vontade, pode–se dizer que é a imagem da Trindade incriada, por uma certa representação específica.


Enquanto que nas outras criaturas não existe o princípio do verbo, o verbo e o amor, mas manifestam certo vestígio de que essas distinções existam na causa produtora. Pois o fato mesmo de ter a criatura uma substância limitada e finita mostra que é proveniente de algum princípio. Enquanto que a espécie em si da criatura revela o verbo que a fez, como a forma da casa revela a concepção do artífice. E por fim, a ordem demonstra o amor de quem a produziu, pelo qual o efeito se ordena para o bem, assim como o uso do edifício demonstra a vontade do artífice.


Assim, pois, há no homem a semelhança de Deus, por meio da imagem, no que diz respeito à mente; mas, no respeitante às outras partes, por meio do vestígio.


6 - “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.” (I Jo II, 1ss).


7 - Ao estado de comunhão plena com Deus. Como diz o Sl 15: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo; que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar; que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo; que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor; que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado; que não empresta o seu dinheiro visando a algum lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado!”


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