A atração especial de Salzmann o leva, como a seu mestre Böhme, ao problema das origens e das coisas finais. Vimos, quando falando de suas obras, o lugar fundamental que as perguntas escatológicas ocupam em seus escritos. Em correspondência com Herbort ele afirma que o milênio só começará quando a raça humana atual tenha desaparecido por meio da morte. Seu esforço para convencer Herbort de seu ponto de vista quase beira o fanatismo, tal a irredutibilidade dele sobre o tema. Salzmann distingue claramente o dogma cristão e a Bíblia, admite discussões sobre o primeiro mas condena qualquer crítica, diminuição de valor ou tentativa de refutação das Escrituras.
Em uma carta a Lavater em 23 de Setembro de 1784, Salzmann expõe seu sistema do Reino de Deus:
“O reino de Deus é composto unicamente de bons espíritos. O homem também foi partícipe desse Reino e nele ocupava seu lugar, bem como possuía missão própria. Mas ao invés de combater e vencer o inimigo, se deixou surpreender e submeteu-se a ele convertendo-se em seu aliado, senão em seu escravo. Caiu mais baixo que Satanás, não no que diz respeito a maldade ou a liberdade de voltar a tornar-se um habitante do Reino de Deus, porém baixo em relação a força. Converteu-se em escravo dos elementos, por seu corpo grosseiro e elemental. Satã é o dono dos elementos a medida que Deus não o contém. O homem deve retirar-se desse reino de Satã, ou melhor, Satã e seu reino devem sair do reino dos homens, a fim de que esse se estenda ao Reino de Deus, o Reino do Cristo, verdadeiro representante e primeiro mensageiro de Deus. É somente através da união com Cristo e com os Anjos que podemos conseguir desde já, através da uma comunhão espiritual, antes que chegue o dia, o grande dia, no qual se produzirá uma separação total e definitiva do bem e do mal. Essas são minhas ideias sobre o Reino de Deus”.
Salzmann se entrega a leitura das obras místicas com verdade e paixão. Possuímos o catálogo manuscrito de sua biblioteca: Todos os místicos, desde Ruybroek até Lavater, se encontram nele, passando por Rancé, Fenelón e Madame Guyon (acusada de advogar o Quietismo embora ela nunca tenha se referido a si mesma como adepta de tal). Encontramos nele tratados olvidados, como o de Jesus Immanuels goettliche, publicado em Amsterdam em 1705.
[...]
Salzmann não deve ser tomado como um sectário; ele não rompeu com a Igreja, embora raras vezes frequentasse o culto público, devido ao racionalismo que o dominava. Aspirava a unidade da Igreja, alimentava sua piedade lendo edificantes obras cuja origem era o catolicismo; pertencia aquela categoria de protestantes que se dava ao luxo de citar Joseph de Maistre, cuja “piedosa devoção inspirava a sentir afeição pelos escritores católicos”. Naqueles tempos, em que qualquer testemunho de admiração a piedade católica era titulado de criptocatolicismo, quando se suspeitava que tudo a volta tinha influência Jesuítica, Salzmann não escondeu sua simpatia por Santa Teresa, nem suas aspirações de ver uma Igreja Universal acima de forma histórica.
Nota:
Resolvemos editar esse post trazendo essa nota para esclarecer uma dúvida de um dos leitores do Blog: “Afinal de contas de que forma Salzmann esta ligado ao Rito Escocês Retificado a ponto de se ter uma postagem sobre o pensamento dele em um blog dedicado a maçonaria cristã ? (RER) “
Bom, ao proposto - resumidamente - podemos dizer que:
Jurista por profissão e livreiro editor proprietário da Livraria Acadêmica de Estrasburgo, Salzman foi um grande estudioso de teosofia , amigo pessoal de Oberlin, de Juan de Turckheim, de Jacob Lenz, de H.L. Wagner, místicos e teósofos conhecidos de Goethe, com quem funda uma revista bem expressiva à época: "Der Burgerfreund".
Foi um dedicado amigo do fundador do R.E.R, Jean Baptiste Willermoz, e se fez um elo de ligação entre ele e os príncipes alemães Charles de Hesse-Cassel e Fernando de Brunswick.
Juntamente a Juan de Turckheim, seu compatriota estrasburguês, Salzmann ajudou a organizar o sistema dos C.B.C.S. (Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa), tomando parte ativa no convento de Wilhelmsbad (1782), e foi nomeado em Alsácia, o representante autorizado dos Grandes Professos (tendo permanecido nesse status até o fim de sua vida).
Fonte
Anne-Louise SALOMON, F.- R. Salzmann, 1749-1820 - Son rôle dans l'histoire de la pensée religieuse à Strasbourg (Su papel en la historia del pensamiento religioso en Estrasburgo), Paris, Berger-Levrault, 1932, p. 90-93.
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
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