Todo maçom em sua caminhada entre graus e ritos leva consigo a certeza de que a “defesa da liberdade de culto ao sagrado” está presente em todos os recantos maçônicos por ele visitados e constitui a verdadeira chave para a compreensão da maçonaria. Todavia, onde quer que esse maçom vá, percebe que as mesmas perguntas sempre o seguem; não porque as respostas ainda não tenham sido dadas, mas pelo surpreendente fato de que maçons que as alcançaram, se mantêm calados, seja por medo de exposição, por medo de “destoar do restante do grupo”, de confrontar mestres e “donos de loja” ou simplesmente pelo fato de que - diante dos absurdos que encontraram - acabaram por se decepcionar com a ordem. E esse maçom segue, caminhando por graus que terminam em "lendas" sem sentido; morais professadas sem convicção e prontamente esquecidas no minuto seguinte, aventais coloridos que superam a igualdade professada pela ordem, discursos sem conteúdo algum ou simplesmente fora de contexto, repetições de frases decoradas cujo significado real nunca é aprofundado ou mesmo compreendido, deparando-se com um "achismo" generalizado onde tudo é válido e através do qual alguns irmãos demonstram seus “conhecimentos ocultos” revelando-se verdadeiros “Maçons Chicó” - Aquele personagem de Ariano Suassuna na obra “O Auto da Compadecida” que como resposta a sua amada Rosinha sobre possuir um diploma, dispara: “Eu sou Doutor em ciências ocultas, filosofia dramática, pediatria charlatânica, biologia dogmática e astrologia eletrônica.”
A liberdade de Credo e culto ao Princípio Criador (G.A.D.U) são conceitos amplos que devem ser preservados pela ordem, mas que tem servido de subterfúgio para calar filosofias que compõe a base histórica da própria ordem, revelando-se como verdadeiras barreiras a uma ou outra “forma de pensar o sagrado” que, para alguns irmãos, devem ser deixadas esquecidas em um passado que - de preferência - deve mesmo é ser negado.
Quantas são as lojas onde os eloquentes discursos de defesa da liberdade religiosa e filosófica rapidamente não mudam seu tom quando o tema é a filosofia sob a ótica cristã ou a sociedade sob a ótica cristã ? E quantas vezes alguns irmãos não expressam verdadeiro horror quando em loja se fala sobre a igreja ou sobre Nosso Senhor Jesus Cristo ? E isso até mesmo em nossas lojas retificadas (declaradamente cristãs).
Essa realidade é resultado direto da soma de muitas variáveis no decorrer da história que são, infelizmente, pouco estudadas e - na maioria das vezes - nada compreendidas; variáveis que levaram a maçonaria a uma separação - repleta de hostilidades - da mentalidade medievalista cristã e da Igreja Romana (Recomendamos a leitura do artigo “Maçonaria Medieval - Contexto Histórico”). Esse estigma, se traduziu na maçonaria como um velado anticlericalismo (as vezes nem tão velado assim), que ganhou um “corpo mais robusto” após a Revolução Francesa e a criação da Grande Loja de Londres… Na França houve mesmo a tentativa de romper totalmente com a fé cristã; fé que animou o início das corporações de pedreiros, enquanto que na Inglaterra (mais precisamente por causa do Anglicanismo) as raízes cristãs não foram totalmente rejeitadas mas tiveram toda a face católica que continham extirpadas.
Mas graças a Deus nunca, no correr da história, o homem teve tanto acesso a informação quanto a que nos permite a revolução tecnológica de nossos dias. Seria impensável, há apenas poucas décadas, imaginar a quantidade de ferramentas que atualmente se colocam à disposição de qualquer pessoa que queira explorar os distintos paradigmas que compõem o universo maçônico. O acesso a fontes primárias (digitalizadas), ao acervo de grandes bibliotecas (documentos e livros) e a publicação online dos grandes medievalistas que mudaram radicalmente a visão que tínhamos da Idade Média (desgraçadamente tida como “Idade das trevas” por muitos maçons - e não maçons também - que se imaginam extremamente abençoados pelas conquistas realizadas no “século das luzes”), constituem uma oportunidade inédita a todo homem que queira (pois graças a esses novos instrumentos finalmente é verdadeiramente possível dedicar-se a livre investigação da verdade) buscar os antecedentes, a história e/ou o impacto da Maçonaria (para o bem e para o mal) na cultura do ocidente.
Durante muitas décadas a Franco Maçonaria, em especial a latino americana com seus sincretismos diversos, tem vivido em uma espécie de bolha, concentrada unicamente em si mesma e em tudo que seu mundo interior produz ao passo que caminha alheia a realidade do mundo exterior. Leem-se sempre os mesmos livros, repetem-se sempre os mesmos mitos, defende-se sempre as mesmas teses, transmite-se as mesmas histórias recebidas (mesmo as que beiram o ridículo ou já tenham sido refutadas), tantas vezes deformadas pelo tempo, muitas vezes intencionalmente, como em jogo de “faz de conta” onde a ficção repele a realidade (se isso for do interesse do narrador).
Existe uma incapacidade (cujas causas variam entre preguiça, leviandade, ambições de poder, partidarismos, entre outras) de se acompanhar o intenso desenvolvimento do trabalho acadêmico, tanto no âmbito histórico como no âmbito sociológico, que nos leva a simplificação de relatos. Isso tanto nos maçons que se identificam com raízes Andersonianas inglesas, como nos maçons que veem na trevosa Revolução Francesa o númem da Maçonaria moderna e, por vezes, até mesmo nos maçons que veem no seio da Igreja e da civilização medieval a origem de nossa augusta ordem (aqui enquadramo-nos). Se da maçonaria se produzissem trabalhos de pesquisas no mesmo ritmo que aumentam as capacidades de acesso a literaturas cada vez mais especializadas sobre o período que se estende do século V ao XV, e se deixássemos de lado a insustentável e pueril "coerência histórica" dos relatos que produzimos ou propagamos dentro da ordem, poderíamos reproduzir em nossas potências, orientes e lojas a mesma revolução historiográfica que algumas academias, seminários e centros de investigação maçônicos conseguem produzir fora de nosso país (não que lá fora a doença que nos aflige inexista …).
Mas é claro, colocar paradigmas sob análise é tarefa extremamente difícil. E se o mundo acadêmico já encontra essa dificuldade (especialmente quando a narrativa ganha mais importância que o fato ocorrido) imagine em um ambiente como o “mundo maçônico”, onde aqueles que estão dispostos a mergulhar em profundos estudos não são, exatamente, a maioria. Um dos temas dos quais nos ocupamos em nossos estudos, além dos temas relacionados ao Regime Retificado e a doutrina legada a nós por seus Pais Fundadores, é o entendimento sobre a reação posterior aos acontecimentos de 1789 dentro da Maçonaria continental; a partir de onde começa o processo de descristianização da Maçonaria Europeia, mais precisamente da francesa. Para dizer a verdade, sabemos que o germe deste processo de descristianização se encontra no próprio processo de institucionalização da Maçonaria, na medida em que os maçons operacionais - os que realmente se dedicavam a construção - aderem à concepção renascentista que reivindica o retorno ao mundo clássico enquanto condena (desgraçadamente) um milênio de cristianismo in totum, impondo-nos um relato repleto de inverdades que, ainda nos nossos dias, faz parte dos programas de estudos de várias escolas e se repete mesmo no seio das universidades. O Renascimento, trouxe para o campo da arte (e aí para a arquitetura), o fim da “doce primavera” da arte medieval. Sua visão antropocêntrica trouxe uma verdadeira rebelião contra a cosmovisão da teologia medieval. Enquanto a cosmovisão medieval cristã focava-se completamente em Deus - principio e fim de todas as coisas - o Renascimento coloca a homem no lugar de Deus, o ser contingente no lugar do Ser absoluto; uma apostasia.
O humanismo renascentista estava carregado de uma doutrina panteísta e gnóstica. E essa doutrina não aceitava a existência de um Deus transcendente e criador do universo a partir do nada (Isso se reflete por exemplo na doutrina de Pasqually que afirma, entre outros tantos absurdos, que Adão criou Eva … ). Observando os escritos do eruditos renascentistas - Marsílio Ficino, Pico de Mirandola, Leornardo, entre outros - vemos claramente a ideia de um Deus que se identifica com o mundo - nos termos filosóficos da coisa. Os pensadores e artistas renascentistas aderiram aos mitos e fábulas do paganismo, procurando “conciliá-los com os dogmas do Cristianismo” (na verdade diluíam os dogmas cristãos a ponto de não mais serem reconhecidos). E na arte, o que tanto nos interessa aqui pela questão arquitetônica, elaborou-se um grande malabarismo que pretendia conciliar mitos pagãos com os temas cristãos por meio da cabala, em um esforço imenso para conciliar o neoplatonismo pagão, o judaísmo e o catolicismo. O simbolismo religioso foi então substituído pelo simbolismo hermético, onde o véu da matéria não encobriria o símbolo teofânico, mas ocultaria a própria divindade, imanente em cada criatura, transformada finalmente em ídolo. Claro que tudo isso, se levado a seu extremo, teria como resultado um naturalismo absoluto, negador da sacralidade do universo.
E é claro que a maçonaria operativa - formada por pedreiros (arquitetos) - foi afetada por tudo isso.
Como é fácil compreender, os os pedreiros da Idade Média tinham um conceito de Deus haurido da Sagrada Escritura (muitas vezes reduzida a um “decorum” dentro das atuais lojas maçônicas, tudo em nome do “laicismo” ) ou trinitário. Os Old Charges (Antigos Deveres) geralmente se abrem em nome da SS. Trindade, acrescentando, por vezes, a menção da SS. Virgem Maria e de Santos. Eis alguns espécimes: A Constituição de York, datada de 926 (há quem conteste sua autenticidade), vem a ser o mais antigo documento dos pedreiros medievais hoje existente. Assim reza o seu preâmbulo: “Que a Onipotência de Deus Eterno, Pai e Criador do céu e da terra, a sabedoria do seu Verbo e a influência do Espírito por Ele enviado estejam conosco e com os nossos trabalhos e nos concedam a graça de nos conduzir, de modo a merecer a sua proteção nesta vida e a vida eterna na outra, depois da nossa morte!”. O Estatuto dos Trabalhadores de Pedra de Ratisbona, datado de 1459, começa da seguinte forma: “Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, da bem-aventurada Virgem Maria, como, também, de seus bem-aventurados servos os quatro santo coroados, à sua eterna memória”. Ainda em 1686 um manuscrito dos Old Charges se inicia com as seguintes fórmulas: “Temei a Deus e guardai seus mandamentos, porque é este o dever do homem [...] Em nome do Grande e Santo Deus, a Sabedoria do Filho e a Bondade do Espírito Santo, três Pessoas e um só Deus, sejam conosco agora e sempre. Amém”.
A documentação demonstra que tal profissão de fé em Deus, em linguagem tradicional católica, esteve em uso nas Lojas de Pedreiros até o século XVIII… Quando podemos dizer que a maçonaria aderiu, junto a maior parte dos pensadores da época, a um imenso esforço para descolar-se da cristandade (se possível renegá-la e/ou substituí-la).
Vejamos alguns pontos a respeito da maçonaria operativa antes de prosseguirmos:
Confrarias medievais de pedreiros profissionais;
Os pedreiros tinham uma missa anual em conjunto;
Funcionavam como uma corporação profissional de entre-ajuda;
Proteção dos segredos do “mister” através de palavras-passe;
O “pedreiro-livre” (de “freestone mason”) era o que trabalhava a “pedra franca”, a pedra de melhor qualidade;
Os documentos desta fase operativa chamam-se “old charges”: Manuscrito “Regius” (c. 1390), manuscrito Cooke (c. 1420); Manuscrito “Grand Lodge n.o 1 (25 de Dezembro de 1583);
Práticas católicas presentes nas “old charges”: orações à Santíssima Trindade, à Virgem Maria, referências à Santa Igreja;
A maçonaria na Escócia foi operativa até muito tarde, quando em Inglaterra já existiam lojas especulativas;
A maçonaria operativa, numa fase tardia, aceitava membros que não eram pedreiros profissionais: “accepted masons”.
Voltemos então ao século XVIII, época em que se funda a Grande Loja de Londres, está obnubilação pelo clássico tinha alcançado seu apogeu na Inglaterra (onde o protestantismo ansiava “passar uma borracha” na impregnação da filosofia católica medieval presente na civilização ocidental). Prova disso é o desprezo pela arquitetura medieval expresso no manifesto das Constituições de Anderson. Vejamos um extrato do original de 1723: “O cuidado que os escoceses tiveram com a verdadeira Maçonaria foi depois muito útil na Inglaterra, porque a erudita e magnânima rainha Isabel que fomentou outras artes, não foi propícia à Arte Real já que como mulher não podia ingressar na Maçonaria, Embora, como Semíramis e Artemisa, tivesse podido aproveitar os serviços dos maçons. Com a sua morte herdou a coroa da Inglaterra Jaime VI da Escócia, e como era maçom reavivou as lojas inglesas. Foi o primeiro rei do Reino Unido da Grã-Bretanha, e também o primeiro monarca a restaurar a arquitetura romana das ruínas da gótica ignorância. Porque depois de séculos de incultura e obscuridade, tão logo renasceu o conhecimento e a Geometria recuperou seu terreno, as nações cultas viram a confusão e impropriedade dos edifícios góticos …” . Basta uma rápida olhada nas catedrais góticas para ver o quão ridícula essa afirmação é.
Mas este desprezo pela arte gótica (e por todo conhecimento da idade média) não foi apenas incentivado pelos maçons ingleses. No século XIX, especialmente na literatura surgida sob a influência dos Iluminados da Baviera, ocorreu algo parecido com os historiadores alemães. Findel, tal como Fichte, Fessler e Krause utilizavam o mesmo conceito de “diese Alten gotische Constitutionen” para se referirem aos documentos das antigas corporações de construtores da Idade Média (essas antigas constituições góticas!).
Findel sentia uma profunda rejeição a qualquer evidência que relacionasse os construtores medievais com a Maçonaria moderna, porque – e aqui é preciso reconhecer sua honestidade intelectual – para ele era claro que os precursores “dos tempos góticos” haviam sido os próprios homens do clero (monges católicos da Ordem de São Bento). Vejamos uma passagem interessante de sua História geral da Maçonaria:
“... A construção dos edifícios religiosos deve-se, em primeiro lugar, à iniciativa do clero. Os conventos foram os verdadeiros focos da atividade industrial e fecundaram também o solo, transformando em verdes oásis planícies estéreis e desertas. Por estas causas a arte de construir foi em princípio exercitado pelos monges. Os beneditinos primeiro e mais tarde os cistercienses, ocuparam-se da construção. Cada convento era uma colônia, onde além de dedicar-se à prática da piedade, estudavam-se as línguas, a teologia e a filosofia, ocupavam-se ativamente da agricultura, exerciam e ensinavam todos os ofícios... Os abades traçavam os planos e dirigiam sua construção, estabelecendo assim uma corrente de inteligência entre as relações dos conventos…”
É muito significativo o fato de que as correntes fundadas por Adam Weishaup (os Iluminados da Baviera), que infiltraram-se na Maçonaria alemã na segunda metade do século XVIII, tenha adotado uma simbologia clássica, inclusive adotando como nomes simbólicos de seus lideres nomes de personagens do mundo clássico, especialmente do século de Pericles, uma verdadeira amostra do confronto entre uma concepção cristã medieval e outra “neoclássica” que terminaria em um conflito sangrento de proporções continentais.
Já na França do século XVIII, ao mesmo tempo em que o ressentimento contra o racionalismo enciclopedista (que no século XIX evoluiu para o ateísmo e dali mascarou-se de laicismo militante no século XX) alimentava o crescimento de segmentos maçônicos cristãos (Como nosso Amado Regime Retificado., a Estrita Observância Templária, bem como os Ritos Suecos) e outros de cunho mais místicos, as lojas foram recebendo em seu grêmio pensadores liberais, o que contrariava aos princípios da Constituição de 1738. Veja-se por exemplo o caso do ateu Pierre-Joseph Proudhon: por ocasião de sua iniciação na Maçonaria, foi-lhe dirigida a pergunta ritual: “Quais são os deveres do homem para com Deus?” Ao que respondeu taxativamente: “A guerra”. Apesar disto, foi admitido aos 8/06/1847, violentando-se assim um preceito fundamental da Maçonaria. Infiltraram-se ainda nesse tempo as ideias dos “Iluminados da Baviera” (repelidas nos conventos do Regime Retificado), dos “Filadelfos”, dos “Carbonários” e de outras correntes anticlericais, anti-religiosas e antiteístas.
Disto resultou em 1877 a eliminação, por parte do Grande Oriente que prescrevia a crença em Deus e na imortalidade da alma; ao mesmo tempo foram eliminados do Ritual do Grande Oriente do Universo. A razão alegada para tal reviravolta foi a defesa da “absoluta liberdade de pensamento”, princípio este que estava muito em voga na época em que levava ao relativismo e ao liberalismo.
O Pe. Valério Alberton, autor de “O conceito de Deus na Maçonaria” descreve assim o andamento dos debates que terminaram com a supressão do famoso artigo 1º das Constituições de Anderson na França: " O Grande Oriente da França reuniu-se em assembleia geral a partir de 10/12/1877, presentes 180 delegados sob a presidência do Ir. De Saint Jean. “Na Quinta sessão foi posto em ordem do dia o pedido de alteração do art. 1º das Constituições, que suprimia a declaração nela contida de que “a Maçonaria francesa professa como princípio fundamental a crença em Deus e na imortalidade da alma”. O Relator oficial era o pastor protestante Frederico Desmons, a quem se atribui, sobretudo, esta supressão. Muitas vezes lembraram esta sua qualificação de pastor para afirmar que o Grande Oriente, na ocorrência, dera grande prova de tolerância e, se se ousa dizer, deixou a Deus todas as suas chances. A verdade, porém, é que, como lembra Allec Mellor, cinco anos depois este radical apostatou de sua Igreja e na sua morte teve exéquias puramente civis, tendo sido sua carreira política de um radical da IIIº República.
Desmons procura justificar dois temores, em seu discurso: o perigo de o Grande Oriente de França acabar ficando isolado, e o de que a atitude contra o art. 1º pudesse ser interpretada como propaganda ateística.
Quanto à primeira, Desmons relembra que a solicitada supressão já havia ocorrido na Grande Loja de Buenos Aires, sua ausência nas Constituições da Grande Loja húngara e que na França mesma o artigo discutido fora introduzido apenas em 1848.”
E daí por diante segue a Maçonaria Especulativa; construindo uma narrativa sobre uma suposta origem que se perde no horizonte dos tempos na tentativa de apagar seu real nascimento junto aos mosteiros católicos beneditinos e cistercienses; catolicismo aliás que impregnava a maçonaria medieval mas que foi descartado por Anderson em sua constituição; logo em seguida, os franceses aderindo as “luzes da revolução” tentam ampliar esse descarte apagando todo traço possível da filosofia cristã dentro da ordem para, na sequência, afastar-se até mesmo da ideia de um ser supremo (G.A.D.U. foi rejeitado na França por algumas potências). E nós, maçons cristãos, irmãos retificados que professamos o Grande Reparador, Nosso Senhor Jesus Cristo (de certa forma somos frutos de movimentos filosóficos que, em paralelo com o pietismo por exemplo, rejeitaram o racionalismo do século XVIII), assistimos a tudo isso fazendo a seguinte pergunta: “Estamos diante de uma maçonaria que ignora a si mesma e recusa a reconhecer sua filiação medieval ? E tal recusa, se for real, teria como base de existência o anticlericalismo ou iria para além dele, na direção de um ateísmo camuflado sob a capa do laicismo ?”
Notas:
Claro que ao utilizarmos a palavra “Maçonaria” não estamos nos referindo a uma organização central representando uma espécie de “cabeça” que comande um “corpo” composto pelos inúmeros irmãos iniciados. Sabemos que a Maçonaria é formada por potências (que reconhecem-se ou não entre si em termos de regularidade / legitimidade), diretórios, distritos, lojas, etc. O fenômeno que tentamos abordar nesse texto é sempre fruto direto do pensamento de grupos ou mesmo de um indivíduo que, compondo quadros maçônicos, acaba por instrumentalizar a ordem fazendo com essa se torne um meio de alcançar objetivo X ou Y ao mesmo tempo em que a atira a negligência de sua própria face … E esse é o problema, no decorrer da história da ordem ela deixa sim instrumentalizar-se, negando muitas vezes aquilo que foi o cerne de seus ensinamentos, abraçando “novas ideias e conceitos” - até então estranhos ou mesmo inadmissíveis para ela ; e o resultado é o que vemos hoje: A MAIORIA das potências, lojas, diretórios etc, fazem sim coro ao pensamento que acima discutimos. Temos uma teoria de que a maçonaria, tendo falhado em construir um novo mundo, deixou-se, ela mesma, construir pelo mundo novo.
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
Fontes:
- Mellor, Alec, "A desconhecida Franco-Maçonaria cristã" (Barcelona; Ed. AHR) p. 17 e ss.
- Wirth, Oswald, "O Livro do Aprendiz Maçom" (Santiago de Chile) p. 65.
- Panikkar, Raimon; "El espíritu de la política" (Barcelona, Edições Península, 1999) p.90.
- Naudon, Paul, "Les origines religieuses et corporatives de la Franc-Maçonnerie" (París, Devry Livres, 1979 p. 53)
- Ullmann, Walter, "Historia del Pensamiento Político en la Edad Media" (Barcelona, Ariel, 1999).
- Callaey, Eduardo; "Monjes y Canteros" (Buenos Aires, Dunken, 2001) p.45-54.
- Mateo, XVI 18,19.
- Panikkar, Ob. cit. p. 86
- Callaey, Ob. cit. capítulo "Progreso y masonería en la construcción de Europa"
- Ullman p. 18,19
- Ibid.
- Ob. cit. p. 59.
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