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Composto Ternário e Natureza Binária, as revelações do R.E.R

Atualizado: 16 de out. de 2020

Em postagem anterior abordamos a visão de Jean Baptiste Willermoz acerca da composição trinitária do ser humano, bem como o fato dele ter sido feito a imagem e semelhança de Deus.


Tal composição trinitária aparece apenas uma vez nos evangelhos, mais precisamente mencionada pelo Apóstolo São Paulo na I Carta aos Tessalonicenses: “Que o próprio Deus da paz vos santifique inteiramente, e que todo o vosso ser - o espírito, alma e o corpo - seja guardado irrepreensível para a vinda do Senhor Jesus Cristo!”. Todavia todo restante do epistolário paulino trata a natureza humana de forma binária: “carne e espírito” – o que demonstra que São Paulo não quis fazer da composição trinitária um dogma.


Nas cartas paulinas o sentido de Espírito (pneuma) tem diversos significados, pode, entre tantas outras coisas, designar o Dom da Graça Divina, que faz do homem cristão o habitáculo da Santíssima Trindade. Esse significado se mostra muito claramente em 1Cor 2, 12-15, onde o autor distingue homem psíquico, ou homem deixado aos seu próprios recursos naturais, e o homem pneumático, que é o homem psíquico enriquecido pelo Dom da Graça de Deus. A composição trinitária mencionada em 1Ts 5,23 pode ser entendida à luz de 1Cor 2, 12-16:


“12 Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.

13 As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.

14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.

16 Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”


Assim podemos entender a posição de São Paulo em 1Ts 5,23 de outro modo: psiché seria o princípio vital animador do corpo humano, que em português é dito “alma”. Pneuma seria o Dom da graça divina, propiciadora da comunhão com o próprio Deus. Tal distinção se apresente de forma muito nítida em 1Cor 2,12-15:


“O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente. O homem espiritual, ao contrário, julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado”.


São Paulo menciona ainda “o corpo psíquico” (o corpo natural) e “o corpo espiritual”, corpo glorificado pela transparente presença da graça divina:


“Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual… Primeiro não foi feito o que é espiritual, mas o que é psíquico: o que é espiritual, vem depois” (1Cor 15,44-46). Concluindo: seria falso querer deduzir de 1Ts 5,23 um artigo de fé ou mesmo apenas uma antropologia teológica. O apóstolo não visava a isto. Ele é, antes, dicotômico nas suas cartas em geral.


Essa natureza binária do ser humano só se fez presente após sua queda, sua “prevaricação”, que destruiu sua simplicidade original, marca dos seres espirituais cujas principais características são a unidade e a simplicidade, uma vez que, como nos dizia Willermoz, estão “na posse perfeita da Eterna Unidade” (a de Deus), enquanto a multiplicidade é a característica constitutiva da matéria.


O homem, em sua origem, era “uma unidade particular em total semelhança com a Unidade Divina” ; era a “verdadeira imagem de Deus”. Encontrava-se “na paz e na calma da unidade que constituía sua essência como ser espiritual”.


Este homem primogênito tinha, sem dúvida, um corpo, mas esse era de uma “forma gloriosa imperecível”, ou seja, nenhuma ação de ordem material ou física o poderia afetar (destruir, deformar, etc). É o que a tradição cristã chama de “Corpo Glorioso”.


É interessante pontuar aqui que a noção da composição humana acima descrita está em total conformidade com o dogma de todas as igrejas cristãs de confissão trinitária existentes na época e com os ensinamentos legados a Willermoz por Martinez de Pasqually. E não existe qualquer conflito entre eles (salvo em mentes que estão mais interessadas em enxertar elementos ao rito do que investigar aquilo que nos foi deixado por nossos mestres passados), visto que Willermoz era, ao mesmo tempo, um zeloso maçom e um católico praticante e comprometido. O círculo que gravitava em torno dele em Lyon também era católico (contando inclusive com destacados membros do clero). No que diz respeito ao círculo em Estrasburgo, este era composto por irmãos como Turckheim, tão comprometido com o protestantismo como Willermoz com o catolicismo romano.


A noção de Corpo Glorioso está presente no Evangelho, pois é sob essa forma que Jesus Cristo se apresenta ao discípulos no monte Tabor (no episódio conhecido como “dia da transfiguração”), e foi formulada teologicamente por São Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios, 1Cor 15. Todos os Pais da Igreja se mostram unânimes em afirmar que o primeiro homem, Adão, foi criado à imagem e semelhança divina - tal qual afirma-se em Gênesis 1:26-27. Todos eles estão de acordo em afirmar que Adão desfrutava da contínua contemplação da Glória Divina e desfrutava, em consequência disso, da imortalidade, o que nos leva a afirmar que o corpo de Adão, antes da queda, era imortal e glorioso.


E os Pais da Igreja afirmavam, também de forma unânime, seguindo a São Paulo, que o corpo do homem atual, tendo perdido seu estado original de imortalidade e glória para cair nas trevas do pecado e da morte, pode reencontrá-lo graças a ação de Jesus Cristo, o novo Adão.


Willermoz não afirmou nada diferente em sua doutrina daquilo que a cristandade havia ensinado.


E ele afirmou tal ensinamento tanto em cartas e textos privados como em textos doutrinários oficiais, destinados a serem lidos tanto para instrução como para edificação dos irmãos dos diferentes graus do R.E.R.


Eis alguns exemplos:


“Foste recebido Maçom por três golpes de malhete sobre o Compasso cuja ponta estava posta no teu coração [...] 0s três golpes sobre o coração indicam-te a união quase inconcebível que existe em ti, entre o espírito, a alma e o corpo, que é o grande mistério do homem e do Maçom, figurada pelo Templo de Salomão” - Extrato do Ritual Grau I


“O Oriente Maçônico significa a fonte e o princípio da luz que o Maçom procura. Foi-te representado pelo candelabro de três braços que ardia sobre o altar de Oriente como sendo o Símbolo do G.A.D.U. Esta Luz é a primeira veste da alma, não sendo mais que a representação disso o hábito que te deram e a sua brancura significa a pureza. O sinal que te deram, separando a cabeça do busto, lembra-te a superioridade original do homem sobre todos os animais. Cuida-te em não assimilares a tua natureza à deles.” - Extrato do Ritual Grau I


I.C.J.M.S.

Que Nossa Ordem Prospere !!!

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