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Conversações no Claustro

Atualizado: 16 de out. de 2020

Este post é uma tradução literal de um artigo do Irmão Eduardo R. Callaey onde ele apresenta parte de seu livro “Conversaciones en el claustro: sobre el Régimen Escocés Rectificado y la masonería cristiana”. O artigo em si divide-se em várias partes das quais traduzimos a terceira para apreciação de nossos leitores. Esperamos que o que se segue os agrade na mesma intensidade que nos agradou (Equipe do Blog Primeiro Discípulo).



As “Conversações no Claustro” representam o diálogo íntimo entre dois Irmãos que observam a realidade do mundo e da Franco-maçonaria a partir de sua visão de maçons cristãos. São o resultado de uma comunicação profunda entre homens que concebem o mundo a partir da dimensão da espiritualidade que a Ordem Retificada nos propõe, sem que tais opiniões se tornem excludentes de outras. São o ponto de encontro entre a experiência adquirida em anos de profunda meditação e um mundo que nos afasta a passos largos de nossa realidade interior e do silêncio que reina no profundo do verdadeiro claustro: Nossa alma imortal. Nos arredores da cidade cai à tarde. Como outrora, por detrás destes muros, os dois homens caminham, pensam, se expressam em voz alta tentando compreender a profunda doutrina que emana da Ordem Retificada. Reconhecem-se como maçons e cristãos, filhos de um tempo turbulento onde ambas as condições, a de maçom e a de cristão, são postas a prova.


Interlocutor 1:


Querido Irmão, em todos estes anos em nossa Ordem, tenho meditado sobre Deus e sua presença em nossos Rituais. É por isso que trago ao nosso diálogo um tema que é frequentemente motivo de debate nos círculos maçônicos: A questão do G.A.D.U. - o Grande Arquiteto do Universo. Tal qual outros temas que temos conversado anteriormente, a idéia do G.A.D.U. varia de Obediência para Obediência. Em nossa Ordem está muito claro que nos referimos a Deus, mas para alguns maçons este “Princípio” poderia ser qualquer coisa, deixando que cada um faça sua livre interpretação. No entanto, esta expressão parece ter sido, inicialmente, uma referência inquestionável ao Criador ou, como se costuma dizer, ao cosmocrator. O que nos diz a doutrina retificada em torno do G.A.D.U.?


Interlocutor 2:


Para a Ordem Retificada o tema está claro: o Grande Arquiteto do Universo é Deus; e em particular o Deus Uno e Trino dos cristãos, que é Pai, Filho e Espírito Santo, Um em Três Pessoas. Na maçonaria que denominamos operativa, para a humanidade daquela época, o conceito era muito claro, tratava-se do Criador, do Sumo Criador de Todas as Coisas, o mesmo que no Livro do Gênesis é apresentado como Criador de toda a Criação e que, a tendo feito, viu que era boa. Todavia a coisa toda começa a se complicar a partir da implantação progressiva daquilo que se conhece como Maçonaria Especulativa, o homem daquele tempo, influenciado pelas ideias Renascentistas que tiveram como consequência o “retirar a figura de Deus do centro do mundo” substituindo progressivamente por um humanismo cada vez mais acentuado, deixa de “calçar-se” em Deus para buscar apoio no pensamento humano. E aquilo que, para ele, constituía até pouco tempo a razão de sua existência, pois tudo o quanto fazia era orientado a Deus, passa a ser questionado, transformando-se em alvo de especulações. Talvez, até o próprio nome de nossa Maçonaria atual: “Maçonaria especulativa”, nos conceda a chave do problema atual onde, para os maçons de nossos dias, o Princípio Ordenador de Todas as Coisas (para nós Deus, G.A.D.U.) seja apenas um termo aberto a múltiplas interpretações, tantas quantas a mente humana seja capaz de conceber. É o tema do progressivo afastamento do homem de Deus a que me referi na primeira de nossas conversas.


Para a Ordem retificada, que nasceu para ser uma Reforma da Maçonaria Especulativa, a presença de Deus, Grande Arquiteto do Universo é uma realidade que se ampara na fé. Aos candidatos, a primeira coisa que se exige quando entram na Ordem Retificada é que jurem fidelidade a Santa Religião Cristã (religião esta que temos que nos assegurar previamente que os candidatos já professem livremente) e isso o fazem ajoelhados e pondo sua mão direita nua (a que compromete) Sobre o Evangelho de São João e a espada. “Prometo sobre o Santo Evangelho”, diz o candidato, simbolizando a espada “a força da fé na Palavra da Verdade”, dali em diante, todos os compromissos que tomar em sua futura carreira maçônica e cavaleiresca, o fará sobre o mesmo Livro. A presença do Grande Arquiteto do Universo (Deus), está em tudo ao longo de toda sua carreira maçônica. A Regra Maçônica, presente como anexo ao Ritual de Aprendiz em seu Artigo Primeiro, lembra ao novo Aprendiz Maçom, quais são seus deveres com Deus e a Religião. A tradição e a doutrina cristã são a base sobre a qual se sustenta a Ordem Retificada, animando-a e dando-lhe vida. Se removermos o cristianismo do Regime Escocês Retificado, então não teremos mais nosso regime; teremos uma outra coisa, obscura, pouco definida; assim como o são o restante das “maçonarias”, tantas quantas o pensamento humano goste e seja capaz de conceber. Todos nós, para sermos Maçons Retificados, temos que ter sido batizados antes, antepondo nossa condição de cristãos à de maçons, entendendo precisamente que nossa condição de cristãos dá sentido à nossa condição de maçons e não o contrário. Para nós a Maçonaria não é mediadora entre Deus e o homem, não atua como filtro modulador ou depurador; é a nossa condição como filhos de Deus e irmãos em Cristo agindo em coerência com a filiação maçônica que atua na construção do Templo que nós, Maçons Retificados, erigimos à virtude.


Volto a repetir que este contato direto, sem mediação maçônica alguma, se reflete quando colocamos nossa mão direita desnuda sobre o Evangelho, enquanto em outras obediências e sistemas maçônicos, veremos que no momento do juramento (que nem sempre se toma sobre o Evangelho de São João) entre a mão e o Livro, normalmente se coloca o esquadro e o compasso maçônicos, deixando claro que para tal compromisso possa realmente ser cumprido, há a necessidade de se ter a maçonaria (por meio de seus instrumentos) como um agente mediador. No nosso caso, os utensílios maçônicos por excelência: esquadro e compasso - aos que se unira a trolha - estão presentes no altar mas estão postos de lado, nunca interpondo-se entre a mão do candidato e o Evangelho, isso não é algo insignificante … No Rito Escocês Retificado o único intermediário existente é a fé daquele que se compromete; a propósito disso a instrução moral acrescenta, como continuação da fórmula já citada, em precisa sintonia com São Paulo Apóstolo: (a fé) “sem a qual a Lei, por si só, não saberia como conduzir o Maçon à verdadeira Luz”.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo - Essa realidade não nos é desconhecida, falamos a respeito dela no artigo “O Maçom Retificado Ante Deus e o Sagrado”]


Em nosso Rito a Maçonaria não representa de nenhuma forma a intermediação necessária que reúne o homem a Deus; sendo a consequência que resulta da adesão íntima prévia do homem a Cristo. E isso muda tudo.


Um esclarecimento necessário a respeito da terminologia “Doutrina Retificada”, a qual o irmão faz menção em sua pergunta. A Doutrina Retificada não pode nem deve estar acima da doutrina cristã que lhe dá base e constitui sua referência. É o que se entende, em terminologia jurídica, como lei de categoria superior e lei de categoria inferior; a segunda sempre estará subordinada à primeira e nunca, em nenhum caso, pode contrapor-se à mesma. A Doutrina Retificada jamais pode ser interpretada de forma a contradizer a doutrina cristã, porque seria o mesmo que pedir a alguém que deixasse de ser cristão para se tornar maçom. Seria um contrassenso, como podemos pedir àquele, cujo primeiro compromisso com a Ordem foi precisamente, que jure fidelidade à Santa Religião Cristã, que falte ao seu compromisso? Seria como incitar ao perjúrio.


Interlocutor 1:


A tua resposta, caro Irmão, leva-me a trazer a tona outra confusão que foi para mim razão de uma profunda meditação. É evidente que em nossa Doutrina Retificada, o G.A.D.U. é Deus, quanto a isso não há dúvidas. Não se trata de um mero símbolo mas sim do próprio Pai. Alguns maçons reduzem este princípio a um mero símbolo e assinalam que na Maçonaria denominada precisamente “Simbólica” cada um dos seus arquétipos, denominados “Símbolos” podem ser vistos desde distintas perspectivas. Nossa Ordem possui uma “Classe Simbólica” formada por quatro Graus: Aprendiz, Companheiro, Mestre (estes três comuns a todas as ordens maçônicas) e mais um quarto grau: o de Mestre Escocês de Santo André. Seria o simbolismo uma mera ferramenta para o trabalho intelectual? Ou há em nosso simbolismo um marco transcendente que o faz instrumento de uma espiritualidade que vai além da condição especulativa, defendida de forma frequente?


Interlocutor 2:


Para os cristãos, nem Deus, nem o Evangelho (Livro Revelado), são um símbolo. “A Bíblia não é um emblema”, nos diz a instrução por Perguntas e Repostas do Grau de Aprendiz do R.E.R.. Vem-me então a memória um estudo de nosso irmão e amigo Jean-François Var ("Le travail du Maçon rectifié") que trata precisamente disto. Para os cristãos, diz Var em seu trabalho; e eu acrescento, para os maçons retificados - a Bíblia e o Evangelho que ela contém, não são um símbolo; são uma realidade espiritual corporificada. Para os judeus, a Tora é uma presença física de Deus, é a corporificação de sua Palavra. Para nós, cristãos, os Evangelhos são uma espécie de “personificação” da Palavra, da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. O Evangelho é, portanto, uma forma de Encarnação do Verbo; ou para tornar as coisas mais tangíveis, é o Verbo Encarnado, o Cristo, fisicamente presente. Do ponto de vista da substância, há equivalência absoluta entre a presença de Cristo no Evangelho e a presença de Cristo na Eucaristia. A maneira - ou para empregar um termo da escolástica, a forma - difere, mas a substância é idêntica.


É pois na união com Cristo, não só espiritualmente mas fisicamente, pelo contato de nossa mão com o Cristo presente (por meio do Evangelho) que contraímos nosso compromisso. Nossa adesão exige o compromisso que sela a fidelidade à Santa Religião Cristã e à todas as verdades que ela ensina, ocupando o primeiro lugar entre elas a Encarnação do Verbo, proclamado - com esplendor - no Prólogo do Evangelho de São João sobre o qual tomamos nosso compromisso.


A Maçonaria especulativa está doente… e a enfermidade que a acomete está explicada em seu próprio nome. O pensamento humano, a luz de si mesmo, só pode produzir monstros. O intelecto, negando qualquer outra luz que não a sua própria, só leva a dispersão - coisa absolutamente contrária à principal aspiração maçônica - pela infindável multiplicidade de idéias que é capaz de gerar. Sem o marco referencial que supõe a Bíblia e o Evangelho – que como bem dissemos antes para nada é um símbolo - sem este ordenamento, podemos entender que tudo é simbólico e em consequência interpretá-lo do melhor modo que criamos.


Para a Ordem Retificada toda a simbologia maçônica, utensílios e ferramentas devem ser estudadas à luz do Evangelho. O símbolo tem como finalidade velar-nos uma verdade de índole superior, que nossa mente e intelecto têm que trabalhar por meio de profunda reflexão sobre o mesmo para chegar a transcender esse símbolo e desentranhar a Verdade que oculta. Mas este trabalho tem que ser iluminado por uma Luz de índole superior, porque senão faremos que o símbolo se converta em um fim por si mesmo, e giraremos loucamente em torno de seu vértice sem controle nem mesura. Se fizermos isso, então a Maçonaria especulativa fica reduzida a isso: um conjunto de meras especulações.


Como dizia Var em seu trabalho de 1998, estamos consagrados “irrevogavelmente” a Deus como maçons, pelos trabalhos que operamos em Loja; e nisso não há nada de especulativo. Devemos nos guardar contra tudo o que se tornou “tique” da linguagem maçônica. Maçons falam sem refletir. Quantas vezes ouvirmos um bom número deles encher a boca com jargões como: “criar o espaço sagrado”, ou “criar o tempo sagrado”? Não que as noções de espaço e tempo sagrados sejam falsas, posto que em princípio, o Maçom tradicional trabalha sempre “Para à Glória do Grande Arquiteto do Universo”. Todavia, rendamo-nos à evidencia. Para a maior parte dos maçons tais menções não são mais do que uma simples fórmula de cumprimento. E do que estão convencidos (e repito, sem estarem verdadeiramente conscientes disso, o que é uma circunstância agravante) é de que por meio dos ritos de abertura da Loja, os maçons seriam capazes, como quem - por meio de uma “fórmula mágica” - pudesse criar o sagrado. Eis aí um estado de espírito extremamente pernicioso, para não dizer sacrílego, e os termos utilizados que a ele conduzem deveriam ser banidos vigorosa e definitivamente.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo - No Brasil também assistimos diversas anomalias que se traduzem e que são alimentadas por figuras de linguagens e jargões diversos]


Estas expressões devem ser banidas pois estão em completa ruptura com a tradição maçônica, tradição a qual o Rito Escocês Retificado permanece fiel, enquanto outros, dela se desviaram (em maior ou menor grau).


Interlocutor 1:


Querido Irmão, suas reflexões me recordam um discurso do Muito Rev. Cav. Eques ab Orientis Lucis, que expressou que a primeira e principal qualidade para entrar na Ordem é a de ser um “homem de desejo“; desejo, do latim, desiderium, significa caído do céu, da estrela, e se aplica ao homem que arde em desejos de voltar para ele. Devemos, pois, velar, e não admitir nas nossas fileiras aqueles que não são homens de desejo. Isto pode ser tomado com um fervoroso anseio de retorno ao Pai. Poderia esclarecer-me a respeito desta doutrina? Qual é o caminho, que nos conduz ao Pai, segundo a Doutrina Retificada? É esta a Via iniciática que nos propõe a Ordem? E se assim for, o que nos diferencia da Religião?


[Nota do Blog Primeiro Discípulo - etimologia de desejo: “‘desejo’, do latim de-sid-erio, provém da ‘sid’, da língua zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral – relativo às estrelas. Seguir o desejo é seguir a estrela – estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção… Para Espinosa, na Parte III da Ética, o desejo é definido como a própria essência do homem.]


Interlocutor 2:


De fato, o homem de desejo é aquele que perde uma parte dele e a procura intensamente como urgência vital sem ter, por outro lado, necessariamente uma noção clara do que está buscando. Neste sentido, a Ordem Retificada trata de ajudá-lo da maneira que ela sabe fazer, mediante a metodologia pedagógica que lhe é própria: sugerindo, apresentando ao candidato certos elementos de reflexão, que lhe servem para extrair suas próprias conclusões; orientando-o, mas deixando que seja ele mesmo a descobrir.


Este desejo faz do homem buscador, ao qual se refere nossos rituais, o homem que demanda. É o que confirma a Instrução Moral do Grau de Aprendiz: “nesse estado de escuridão fostes conduzido à Loja; fostes anunciado nela por três golpes como ‘o homem que demanda’, e estes três golpes vos permitiram a entrada.” Todavia essa busca deve ser orientada já que a busca sem o “saber para onde se vai” só leva a perder-se: “não é raro ver homens desejar, buscar e perseverar nos seus desejos. A mera curiosidade, pode muitas vezes ser a causa. Todos os homens querem saber e conhecer, e a maior parte deles iludem-se sobre os motivos das suas buscas. Vangloriam-se de a divulgar, mesmo no espírito daqueles cujos socorros lhes seria necessário.” como bem nos dizem nossos rituais.


Essa busca, como a sede que nenhuma água pode aplacar ou como a fome que alimento nenhum sacia, a Ordem trata de orientá-la para Deus, fazendo entender ao candidato, na cerimônia de Iniciação, que esse trabalho não pode ser feito às cegas, pois levaria a perder-se na escuridão, mas deve ser feito com a orientação de um guia, e que todo aquele que pede essa ajuda com fé e pureza de coração a recebe: “Mas não as poderias ter feito sem um guia seguro e fiel, para dirigir os teus passos. Este guia foi-te dado, e não te abandonará mais, a não ser que tu mesmo lhe fujas. O 2° Vigilante foi encarregue de desenhar sensivelmente as suas funções durante as viagens.” Assim, pede-se ao candidato que confie nessa capacidade de que a Ordem o guie; voltamos então à importância fundamental de que a Ordem Maçônica esteja inspirada, para que o candidato não possa jamais sentir-se enganado, em verdades de índole superior – como anteriormente dissemos - e que verdades maiores do que as reveladas no Livro Sagrado para os cristãos: o Santo Evangelho.


A busca a qual nos referimos, seguindo a tradição cristã, consiste em mergulhar em direção ao âmago de si mesmo em esforços concentrados para encontrar a centelha divina que todos levamos dentro de nós desde o nascimento, e que nos recorda a grandeza da condição humana antes da queda de Adão - o Pecado Original. Grandeza essa que fazia com que o homem participasse do ordenamento divino e estivesse frente a frente a seu Criador.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo - Tudo isso fica claro na passagem ao grau de companheiro como bem esclarecemos no artigo “O Conhecimento do Companheiro Maçom no Regime Escocês Retificado”. ]


Em tudo isso há uma doutrina – a Doutrina da Reintegração - que lhe é própria a Ordem Retificada e que nossos fundadores, com Jean-Baptiste Willermoz à frente, elaboraram com uma sábia metodologia fundamentada na religião cristã, enriquecida pelo pensamento dos principais Padres da Igreja, que progressivamente nos conduz a essa tomada de consciência, levando-nos por um caminho que tem como ponto de partida o próprio homem, conduzindo-o então àquilo que era sua condição primeira. Ora, a Ordem Retificada não pode conseguir esse objetivo por si só, pois está escrito que só se pode chegar ao Pai por intermédio do Filho, e não sendo a Maçonaria uma religião, o Maçom Retificado precisa do socorro ofertado a todos os cristãos: os Sacramentos da Cristandade, a Via Sacramental ofertada - unicamente - pela Igreja de Cristo, única via capaz de conduzir o homem a Salvação prometida pela Lei da Graça. De tal modo, que a Via iniciática que a Ordem Retificada propõe, nos induz, nos conduz e constitui para alguns uma poderosa ferramenta nesse caminho de retorno ao Pai de que me falas, abrindo-nos o intelecto a respeito das verdades que envolvem o Mistério Divino. Sendo no entanto somente uma ajuda - poderosa se quiser - mas que não serviria para nada caso aquele que a ela recorresse não trouxesse a fé em Cristo e sua promessa de Salvação. Daí a exigência, para todo candidato, de sua condição de cristão e, como conseqüência, da fé em Cristo, sem a qual a Iniciação que se propõe resultaria em nada… em uma inutilidade.


Interlocutor 1:


Meu caríssimo Irmão, navegamos em águas profundas esta tarde. Mas profunda é a confusão que aperta o coração dos homens. Nos cercam as pedras deste antigo claustro. Caminhamos nele sendo a imagem da Coluna truncada da qual falam nossos Rituais. Dizemos dela que ainda está de pé. Que mensagem nos encerra esta coluna misteriosa? Será a sua reconstrução o Caminho que nos devolverá a Deus?


Interlocutor 2:


A Coluna truncada, é a imagem que damos aos nossos Aprendizes para que se identifiquem com ela, juntamente com a divisa: ADHUC STAT. Uma coluna quebrada com seus pedaços pelo chão mas que mantém intacta a sua base e parte de seu fuste ereto, recorda ao homem que ainda lhe resta a esperança. Nossos rituais explicam seu significado: “que o homem está degradado, mas que lhe restam meios suficientes para voltar a seu estado original, e que o Maçom deve aprender a utilizá-los”. É um apelo, que nos recorda que se empregarmos os meios necessários, há lugar ainda para a esperança, que nem tudo está perdido. Trata-se certamente de “!um trabalho penoso, que requer buscar, perseverar e sofrer” mas para fazê-lo, podemos contar com o socorro da Ordem.


Santo Agostinho, Bispo de Hipona, disse-nos que procurou Deus longe de si mesmo, quando na verdade Deus estava muito perto, embora ele não O descobrisse. Isso porque, como Sto Agostinho veio a perceber e a esclarecer depois, era ele (o homem) que estava longe de seu âmago, não se conhecia, e quanto mais procurava fora de si, mais se afastava de Deus. E é isso que se recorda ao candidato antes da cerimônia de Iniciação em nossas Câmaras de Reflexão: nesta solidão aparente não creiam estar sozinhos. Absolutamente separado dos outros homens, penetrai aqui sobre vós mesmos, e vede se há um ser que esteja mais próximo de vós do que aquele a quem deveis a existência e a vida. Portanto, ainda há lugar para a fé e a esperança. Este é efetivamente um trabalho de reconstrução ao qual somos convidados, simbolizando a base que ainda está de pé, que apesar de sua degradação o homem continua guardando em seu interior - e no fundo de seu coração - uma centelha divina, lembrança de sua semelhança com seu Criador; semelhança essa que se pode reavivar, devolvendo-lhe o esplendor perdido, fazendo dessa coluna um monumento às belas proporções existentes no principio.


Certamente como dizeis, a confusão que aflige o coração do homem é grande, e em momentos de confusão - como os que vive o mundo e nossa sociedade atual - é quando mais se necessita de referências, e esses referenciais, muitas vezes os procuramos longe de nós mesmos em culturas e tradições que nos são estranhas, quando aquilo que procuramos e necessitamos está na verdade muito mais perto de nós do que pensamos. A coluna está truncada, mas não totalmente quebrada pois continua mantendo sua base em pé; e é sobre essa base, com aparência frágil e débil, que vamos levar a cabo esse trabalho de reconstrução. Essa base, mínima exigível, é a condição de batizado que exigimos de cada candidato e que constitui sua mais firme referência, embora às vezes nem ele mesmo esteja consciente disso.


De resto, é preciso tempo e sossego, como o sossego que se sente entre estes muros, situados no meio de uma grande cidade mas que nos separam do ruído da grande urbe do mundo, convidando-nos ao silêncio e ao recolhimento que tanto necessitam estas coisas e assuntos aos quais estamos a nos referir.


I.C.J.M.S.


Que essas reflexões encontrem eco no coração dos senhores.


Que Nossa Ordem Prospere !!!




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