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Discurso de 1780 a um Recém Iniciado - por Jean Baptiste Willermoz

Atualizado: 27 de out. de 2020

Manuscrito MS 5921-10 depositado na Biblioteca Municipal de Lyon


A maçonaria contém um segredo que existe desde que o mundo foi criado, que vem sendo passado de uma geração a outra até os dias atuais e que continuará sendo transmitido dessa forma até o fim dos séculos. Tal segredo constitui algo impenetrável não somente para os profanos mas também para maçons “mornos”, preguiçosos e superficiais.


Ser maçom é, antes de tudo, uma sincera busca por tornar-se merecedor da iniciação a nossos mistérios. Mas para que essa busca seja empreendida é necessário entregar-se a alguns guias.


O primeiro desses guias é a natureza. É ela própria que se encarrega de inspirar o homem a lançar-se a essa busca: Todo homem nasce com o desejo de ser feliz, todo homem nasce com o desejo de alcançar a virtude.


Todavia, a natureza por si só é incapaz de conduzir o homem a perfeição, então ela o motiva a consultar a razão. A razão, que jamais repele aqueles que a ela se entregam, desdobra-se sobre o homem proporcionando-lhe todos os cuidados possíveis para que sua busca seja um sucesso.


Natureza e razão concorrem e convergem entre si e disso é formada a educação. Esta por sua vez, sendo fruto de tão excelentes guias, produz a perfeição. E o que é a perfeição no homem ? O amor a justiça.


Entra então o terceiro guia: a sabedoria. A natureza, a razão e a justiça desejam a felicidade do homem, não somente na outra vida (ao lado do Criador) mas ainda nessa vida.


Tudo o que existe no mundo foi criado para o homem… é justo então que ele aproveite as coisas criadas, tendo sempre em mente que ele só pode fazê-lo por intermédio da graça dado que a posse das coisas materiais é mais uma espécie de usufruto do que uma posse de fato. As coisas foram criadas para o homem mas não são propriedade dele, o que o leva a necessidade de estar sempre preparado a exercer a renúncia.


Com a vida, o homem recebeu o livre arbítrio, ou seja, quando entre bem e mal, o homem é capaz de escolher um ou outro. O homem está capacitado a ver toda a felicidade que é possível se obter ao seguir o bem que já conhece e os mais cruéis tormentos que o ameaçam caso se una a um inimigo também conhecido. Aqui, o ímpio clama a injustiça, pois toma para si a última escolha, enquanto os justos, ao contrário, bendizem a seu Criador que, por ele, outorga ao homem uma posição hierárquica acima dos anjos.


Justo e ímpio possuem livre arbítrio, então qual o motivo desse contraste entre eles ? O motivo é a vaidade que, invadindo o homem, vai de encontro aos conhecimentos que ele adquire, caso ele não mantenha o sumo cuidado de relacionar esses mesmos conhecimentos, unicamente, ao objetivo para o qual foram conquistados. Este homem toma então um caminho equivocado e nele marcha imaginando-se seguro. Seduzido pela aparência, abandona-se por inteiro a linguagem lisonjeira do inimigo adulador, que busca unicamente sua ruína, enciumado por causa da superioridade e por sentir-se suplantado pelo homem.


Uma vez que o homem tenha perdido a verdadeira luz, impelido por uma curiosidade criminosa, acaba querendo usar o que lhe foi dado para exceder os limites que lhe foram prescritos, dedicando-se a nada mais do que cair de erro em erro, percorrendo espaços imensos, a medida que sua arrogância o leva a contemplar todas as coisas como meios para alcançar o termo a qual se propôs.


Tal termo, é claro, não é outro senão a verdade e a felicidade; porém, privado por sua própria culpa da tocha que deixou para trás, não faz nada além de murmurar, porque as trevas o impedem de ver que não está em um bom caminho. Ao invés da paz e da verdade que busca, nada encontra de parecido, ao contrário, encontra toda a sorte de penas. O remorso e a confusão caminham com ele. Ele terá viajado muito, ele terá trabalhado muito mas no entanto, no caminho que segue, não encontrará coisa alguma.


Só depois, enojado e fatigado da inutilidade de sua busca, depois de tanto esforço mal empregado, depois de ter lavado todas as fadigas do corpo, da alma e do espírito, é quando finalmente, voltando-se a sua primeira inclinação para o verdadeiro, o bom e o belo, renunciamos a nossos erros, sacudimos nossos preconceitos e voltamo-nos sobre nossos próprios passos a fim de buscar ajuda a nossa consciência transtornada.


É quando o grito de nossos guias benfeitores (já referidos) se faz ouvir imperiosamente; guias que buscam sem descanso recuperar seus direitos sobre o homem. Mas, para voltar a encontrar a verdadeira felicidade, é necessário submeter-se, resignar-se, sacrificar o que tem de mais querido, que renuncie a seus direitos, que sofra a morte e a privação de tudo aquilo que havia até então possuído. E caso se submeta a essa punição, mais do que merecida por sua rebelião, o homem ingrato e perverso obterá sua graça, no exato momento em que espera somente sua destruição.


  • Qual o generoso amigo que intercede por ele ? Seu Criador, a sabedoria.

  • E o que se exige desse homem ? Nada mais que as consequências necessárias de seu pecado: vergonha, remorso, trabalho e a pena de seus males (penitência).

E tão logo o homem se volte seriamente para si mesmo, encontrando esse raio de luz que todos nós recebemos, fazendo esse exame com o desejo sincero de conhecer-se, de conhecer seu Autor e a perpendicular que os une, se o desejo o conduz a prática mais escrupulosa de seus deveres por ele já conhecidos. Se o desalento e o assombro estéril não interferirem em seu caminho, se é constante com a sinceridade, constante com o fervor, o homem se servirá proveitosamente desse fulgor para alcançar a grande Luz. Mas não nos esqueçamos de que a recompensa é fruto de um longo e doloroso caminho que, ainda que tenhamos dele nos tornado indignos no passado, nos é permitido percorrer sob um novo sinal de confiança e sob as mais autênticas provas de nossa fidelidade, de nossa prudência e de nossa submissão.


Até aqui, o homem que estamos considerando não está nu nem vestido, ele não sabe desemaranhar-se por si mesmo, não é capaz ainda de conciliar suas inclinações e suas faculdades, se surpreende com sua liberdade, se compara; a fidelidade, o amor e a confiança lhe são ordenados e a eles este homem se submete; então, o seu arrependimento, sua penitência e sua confissão o fazem merecedor da Graça. Ele é conduzido a ela que então o recorda das circunstâncias de sua criação e tal memória o faz conceber toda a nobreza de sua origem.


Mas o homem só pode adquirir o que deseja consultando a natureza, a razão e a justiça; a primeira é a porta na qual ele deve chamar, a segunda é o caminho que ele deve seguir e a terceira é o objetivo ao qual deve aspirar.


Adentre pois a si mesmo, estude e clame para ser ouvido; busque na sabedoria aquilo que somente ela pode ajudá-lo a encontrar, peça ao Autor da Justiça a inteligência que tens buscado.


O homem entregue a suas paixões e as trevas se encontra ofuscado; não tem diante de si nenhuma visão sobre sua origem e seu fim. Esquecido sobre a parte espiritual que compõe a sua existência, recorda-se unicamente de sua parte animal e material. Se degrada ocupando-se somente do temporal e está mergulhado em tal estado de adormecimento que não pode elevar-se mais a sua parte espiritual, inclusive nem a percebe, dado que ele mesmo coloca um espesso véu entre ele e a luz.


Porém quando cai o véu, o homem percebe que os votos do desejo e da confiança, que seu espírito ofuscado não o permitia ver. Três grandes estrelas se apresentam diante dele, são os três mandamentos, que se encontram gravados, em seu coração…


O homem havia recebido o uso dos metais, como um depósito e não como sua propriedade, mas equivocado pela concupiscência, abusa deles pelo uso demasiado do mesmo. Ele teve que ser despojado deles. Todas as paixões podem ser inocentes, se não se tornarem criminosas pelo uso que o homem faz delas.


Conceder-nos os dons dos quais tinhamos sido despojados com merecimento (a culpa), é entregar-nos a graça de fazer bom uso dos benefícios da natureza; mas somente podemos voltar a nossos direitos (originais) com um coração puro, fruto do arrependimento e de uma boa resolução.


A excelência do homem está efetivamente apoiada sobre as três colunas ou três impressões que se encontram gravadas em seu coração, se acaso o queira examinar, verá que estas não são outra coisa que não as virtudes teologais. Sem sua prática, sua dedicação a elas, todo o edifício moral vem abaixo, ainda que o homem esteja apoiado sobre a força, sobre a sabedoria e sobre a beleza que para nós representam a divindade; o próprio homem e os elementos, a natureza, a razão e a justiça, o espiritual, o animal e o material, a inteligência, a concepção e a vontade, etc.


Os Aprendizes ao norte do Templo se dedicam a obra, a espera de adquirir a força e os conhecimentos dos trabalhos maçônicos, quer dizer que o homem que tem um vislumbre de conhecimento que ele acredita além do alcance de seu espírito, precisa de um pouco de espaço e reflexão para se acostumar com o ideias que devem nascer nele, essas novas noções, para as quais ele acredita que a razão repugna; já que por razão quase sempre toma o grande número de preconceitos que o fazem ter falsas noções do que recebeu ou que lhe foram dadas. Não é tarefa fácil vencer esses preconceitos e vencer sua vontade, entretanto é condição prévia e necessária o sacrifício da vontade própria para adquirir novos conhecimentos.


Porém estes novos conhecimentos parecem para o candidato como uma pedra bruta nas mãos de um entalhador inexperiente. Esta pedra é informe, seus conhecimentos também o são. Os primeiros golpes do cinzel sobre esta pedra, ainda que a desbastem, aparentemente não lhe dão nenhuma forma, de modo como nossas primeiras buscas, feitas sobre uma verdade encoberta, não nos levam a nada de positivo. Porém se age com desejo, amor e confiança; para o verdadeiro maçom, infalivelmente, se abrirá o caminho da perfeição, do mesmo modo que com a prática, o escultor inexperiente logrará com sucesso por em esquadria sua pedra, dentro de justas e perfeitas proporções. A ignorância ou o erro o farão contemplar aquilo que busca como um caos que ainda não sabe ordenar, como uma luz ainda envolta em espessa treva que é preciso dissipar. São necessários tempo e reflexão para ordenar as novas idéias, vencer os preconceitos e adotar novas noções sobre determinados assuntos que; o espírito da materialidade, o inimigo, não poderia deixar supor aqueles que o depreciam.


Sendo a recompensa proporcional ao mérito de cada um, o homem que se encontra no estado a que nos referimos, não pode pretender uma satisfação que vá razoavelmente além do seu mérito atual. Existem diversos lugares no Templo; a coluna J é destinada ao pagamento dos verdadeiros Aprendizes. o significado desta coluna é: "Confiança em Deus".


Ah! Acaso não é grande recompensa obter o convencimento de que devemos depositar nossa confiança Naquele de quem tudo recebemos ? Quem se não Ele pode nos dar a recompensa? Sabemos que um outro, não Ele, nos fez errar e, de maneira vã, buscar fora d'Ele o que só podemos encontrar n'Ele. É pois neste estado de sincero retorno a Ele que o homem recebe seu salário, já que, quando este retorno é realmente sincero, é infalivelmente seguido de uma doce emoção, a qual é mais fácil sentir que expressar. Pode-se entender claramente que não se está no fim da estrada, mas aprecia-se a satisfação de saber que está na boa rota que conduz ao objetivo desejado e por mais longe que se encontre a Luz, está é tão grande que ilumina o caminho daquele a busca com sinceridade.


Relegados a parte do setentrional do pórtico do Templo, ainda absortos pela recordação de nossos erros e faltas, ainda rodeados pelas consequências de nossa prevaricação, não podemos receber nosso salário, se não sob as três seguintes condições: o arrependimento, a penitência e a confissão de nossa culpa, representada pelo sinal quádruplo do esquadro, por um sincero exercício do culto que nos é prescrito e pelo santo uso da palavra que nos é ensinada.


Para terminar este discurso, convenhamos, meus irmãos, que o homem não pode receber essa graça, este favor insigne desejado por todos, ainda que pouco conhecido, do qual o homem, querendo sair definitivamente das trevas e do erro, busca de boa fé a solidez da Luz, que indignado com sua própria presunção, quer seguir somente a Virtude, e que convencido da existência de um Ser Perfeito, deposita toda confiança somente n'Ele, em quem reside: a Verdadeira Loja, justa e perfeita, a força, a sabedoria e a beleza.


O aprendiz, que mal sabe soletrar e em absoluto não escreve, é uma boa representação do homem, observador tímido da lei que quer seguir, porém é incapaz de fazer para si um plano exato de seus deveres, menos ainda uma aplicação justa de seus conhecimentos. Saindo das trevas da ignorância e do erro, só pode se acostumar pouco a pouco às novas noções que a duras penas pode entrever, e das quais somente mediante os distintos graus terá uma ideia justa e proporcional.

Sobre o número três, não terá relação com os três mandamentos, as três virtudes teologais, as Três Pessoas da Trindade, com uma determinada época e alguma aliança?


A Luz preside os trabalhos, as trevas o repouso. Tudo o que o homem faz deve ser digno da Luz, e se por erro busca a escuridão, tal qual o primeiro homem, mostrará a confusão de sua consciência.


Sempre é tempo de fazer o bem, posto que para os maçons, a hora é sempre antes do meio dia e do tempo de começar os trabalhos.


Se buscarmos a Luz com decisão, a encontraremos; o desânimo é uma verdadeira renúncia a Luz.


Nota:


preconceito: Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico, juízo pré concebido.


I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!

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