"Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo"
(São Mateus 2; 2b)
Entre os diversos artigos apresentados em nosso Blog, alguns dedicaram-se a tratar das viagens empreendidas pelo recipiendário no momento de sua recepção aos graus de Aprendiz Maçom e Companheiro Maçom no Regime Escocês Retificado. Em tais artigos, buscamos explicar da forma mais detalhada possível ( utilizando sempre como espelho o método hermenêutico clássico e os quatro pilares sobre o qual se apoiam ) o significado do uso dos elementos que estão contidos nessas viagens; destes, alguns são exclusividade do Regime Retificado (dado a cosmovisão que apresenta) e outros tantos, fazem parte do simbolismo tradicional maçônico. Dentre eles destacamos um dos que temos como o mais belo: a Estrela Flamejante ou Rutilante, presente no tapete da loja durante as cerimonias de recepção de Aprendiz e de Companheiro, possui especificidades únicas que só vemos no Regime criado por Willermoz. Uma dessas especificidades é a sutileza com que a estrela é ‘apresentada’ como uma especie de Sinal ao Companheiro durante sua recepção, isso não obstante o fato de que ela sempre esteve ‘presente’ na vida deste maçom retratada no Tapete da loja desde que esse era apenas um Aprendiz. Este ‘jogo’ de revelar o que sempre esteve exposto é um traço próprio do RER e faz um paralelo com o próprio homem que; ao mesmo tempo em que carrega em si mesmo a Luz, não é capaz de encontrá-la sem o auxílio da Providência Divina.
A Palavra “Sinal” aparece mais de cem vezes nas Sagradas Escrituras. Um sinal na Bíblia pode ter diferentes significados. De forma geral, um sinal pode significar uma marca distintiva, um símbolo, um aviso, um milagre, um prodígio ou a revelação de uma obra poderosa e sobrenatural da parte de Deus. Eles são sobrenaturais e não podem ser reproduzidos pelo homem sendo dispensados pelo próprio Deus para substanciar, confirmar e identificar Sua mensagem e Seu mensageiro. Sobre a os sinais e suas relações com a natureza no RER esclarece-nos um excerto do Ritual do Aprendiz: “Estuda, por fim, os hieróglifos e os símbolos que a Ordem te apresenta. A Natureza, ela mesmo, encobre a maior parte dos segredos. Ela deseja ser observada, comparada e surpreendida frequentemente nos seus efeitos. De todas as ciências de que o vasto campo apresenta os resultados mais felizes à indústria do Homem e à melhoria da sociedade, a que te ensina as ligações entre Deus, tu e o Universo, preencherá os desejos da tua Alma celeste e ensinar-te-à a cumprir os teus deveres.”. Impossível para nós, autores do blog, lermos tal passagem e não nos remetermos imediatamente a Santo Agostinho em seu Sermão 241 (Apud CIC 32): “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar interroga a beleza do ar que se dilata e difunde, interroga a beleza do céu” (...) “interroga todas estas realidades. Todas te respondem: Estás a ver como somos belas. A beleza delas é o seu testemunho de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, que não está sujeito à mudança?”.
Sobre a Estrela Flamejante e ao que ela alude enquanto sinal maçônico, fazemos coro a sentença de Thomas Webb em suas instruções para as Grandes Lojas Americanas (1843) e ao pensamento de Albert Pike em seu livro “Moral e Dogma” (1871) que elucidam seu significado relacionando-a a Estrela de Belém, aquela mesma que revelou aos magos o nascimento do Menino-Deus e os conduziu até ELE para que eles O adorassem. Tal leitura esta em total conformidade com o espirito confessional cristão que o Regime Retificado carrega em si, conforme vemos em um dos artigos da Regra Maçônica: “Presta, pois graças ao teu Redentor, prosterna-te perante o Verbo encarnado e bendiz a Providência que te fez nascer entre os Cristãos. Professa em todos os lugares a divina religião de Cristo, e nunca te envergonhes por lhe pertencer”.
Já na recepção ao grau um, o Aprendiz Maçom recebe “sinais” da Providencia Divina por meio das três máximas que devem lhe orientar nas viagens, no caminho da vida, e que são precedidas pelo som de um trovão, nesse ponto alude-se a voz de Deus falando a sua criatura (“A voz de Deus troveja maravilhosamente; ele faz coisas grandiosas, acima do nosso entendimento” – Jó 37:5); essa voz que “desce dos céus” se faz anunciar pelo Venerável Mestre e vivifica a Luz perdida (mas que sempre esteve acesa) no coração do homem que busca a Verdade que; por estar mergulhado em meio às trevas (vendado), necessita da Justiça e da Clemência divinas encontradas no Templo, também se comprometendo a temperar seus atos por estas virtudes.
Este compromisso ainda não é o suficiente para a Retificação (a salvação) do homem, pois esse ainda não é capaz de contemplar seu Criador que, embora revelado, não se mostrou a ele: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Ex 33; 20) ou “E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas a minha face não se verá” (Ex 33; 23). Mas o próprio Criador que; para resolver este dilema, nos enviou o Divino Reparador como nos diz Willermoz: “O Verbo todo poderoso de Deus, imagem e esplendor do Pai eterno, desce dos céus para se incorporar com a alma humana de Jesus no casto seio da bem-aventurada virgem Maria para ser uma só e única Pessoa com duas naturezas distintas”. Assim Deus se fez Homem (Cristo) para que a humanidade possa adora-Lo face a face, para marcar esse feito deu-nos a luz da Estrela de Belém como SINAL condutor… a luz conduzindo para a LUZ.
Na recepção ao grau dois, agora como companheiro, o recipiendário continua sua jornada, onde seu progresso passa por uma nova etapa; na qual conhecer verdadeiramente a si mesmo é algo primordial, pois lhe permite o descobrimento das forças que o compõe e que lhe concedem (dado à proximidade com o divino) o favor de dar-se conta de uma força luminosa que o conduz até a Luz em Si (Nosso Senhor Jesus Cristo) e essa luminosidade, que o guia até a Luz Maior, nada mais é que a Estrela Flamígera colocada em destaque em frente ao Delta Luminoso; como uma extensão deste, indicando que as trevas não compreendendo essa Luz (a Estrela), como se lê no triângulo equilátero, serão dispersas por ela (em particular as sombras que vivem no coração do companheiro, e de todos os homens, no tempo presente e futuro). A Estrela Rutilante simboliza a mesma estrela que conduziu os reis magos quando estes deixarem as trevas de suas terras de origem (dominadas por deuses pagãos e superstições) e se dirigiram ao local do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo para adorá-Lo e bendizê-Lo. Assim, também o novo companheiro maçom retificado recebe como guia a Estrela Flamejante, como descrito na exortação do irmão primeiro vigilante: Contempla esta Estrela Flamejante de cinco pontas. Aprende a conhecê-la e que ela seja desde agora o teu ÚNICO guia… E nós sabemos para onde a estrela flamejante conduziu os sábios do passado.
Quem reconhece a glória de Deus, não pode voltar ao mesmo caminho de antes. Quem começa a orientar a sua vida pela estrela de Belém se deixa guiar por ela até o dia em que encontrará o Menino Deus. Assim o companheiro retificado ao receber a Estrela Rutilante se aprofunda no caminho da retificação, aprofundando-se na doutrina do RER que tem em seu cerne Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Encerramos este artigo com um extrato do ritual de companheiro nas palavras do VM: “Hoje, mostrando-te mais firme nas Virtudes Maçônicas foste capaz de subir mais dois degraus. Mas não tendo o sinal característico que podia te elevar ao mais alto degrau desta escada misteriosa, foste parado no número cinco. Foi aí que te fizeram conhecer uma Virtude SEM A QUAL O HOMEM NÃO PODE AMAR A JUSTIÇA, nem submeter-se às suas leis, e atingiste a idade de cinco anos. Em seguida os teus guias te fizeram descer recuando, para que não perdesse a visão desta Estrela Flamejante cuja luz é de extrema necessidade para que vós mesmos verifiqueis teu trabalho. Que sua claridade te ajude a descobrir os vossos defeitos e que teus mestres se apercebam de teus esforços em retificá-los”.
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere!!!
Bibliografia
Bíblia Sagrada de Jerusalém
Ritual de Aprendiz do RER
Ritual de Companheiro RER
ipco.org.br/os-reis-magos-e-a-estrela-de-belem/
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