Frederic-Rodolphe Salzmann, um dos Pais Fundadores do Rito Escocês Retificado, destacou-se entre seus pares por uma característica muito especial: a de tentar viver à sombra dos primeiros Padres do Deserto.
Quando faço essa comparação, com ela quero dizer que Salzmann tentou converter (na medida do possível) seu cotidiano de homem do século XVIII a uma verdadeira vida devocional. Buscando assemelhar sua existência a dos Santos e Padres do Deserto (1) dedicando-se a austeridade, ascetismo, oração, penitência e diversas práticas devocionais que muitas vezes o levaram a crer estar de fato vivenciando uma via profética.
Esse interessante personagem nem sempre é muito recordado pelos maçons retificados. Todavia um exame da vida de Salzmann e de suas convicções certamente traria um enorme bem a todos os irmãos que resolveram, pela esperança da Retificação, seguir o regime que nos foi legado por Jean Baptiste Willermoz.
O texto abaixo foi extraído do livro "F.- R. Salzmann, 1749-1820 - Son rôle dans l'histoire de la pensée religieuse à Strasbourg (Su papel en la historia del pensamiento religioso en Estrasburgo), Paris, Berger-Levrault, 1932, p. 86 à 88", autoria de Anne-Louise Salomon:
“Há na humanidade uma elite de homens que busca a Deus. Salzmann parece ter pertencido a ela; na base de sua busca, constatamos frequentemente a existência de uma forte experiência pessoal nesse sentido: “Buscamos a Deus, somente quando ELE nos encontrou”, disse Pascal. Mas o homem é livre para rechaçar o chamado da Divindade e Salzmann acreditava nesse livre arbítrio:
“Der freie Wille ist das groesste Geschenk, das der Mensch von Gott erhalten hat“ - O livre arbítrio é o maior dom que Deus deu ao Homem.
O homem encontrado por Deus, experimenta o seu nada; tem asco de si mesmo, se percebe baixo, sem cores, e inclusive exagera sua culpabilidade. Os Santos falam de suas vidas passadas como de um abismo de perdição. Deus se revelou a Salzmann na natureza, em sua consciência, por Sua Palavra e Seu Espírito, e também por meio de sonhos e visões. Ocorreram coisas extraordinárias em seu desenvolvimento espiritual que ele acreditava estar ligado de forma direta e pessoal com o futuro (2).
Para livrar seu espírito da influência do invólucro do corpo e entregar-se a Ação Divina, Salzmann recorre ao ascetismo; recorda as práticas dos primeiros séculos, pratica frequentemente o jejum, em especial às sextas feiras, e tem tal fixação pelo poder de purificação de tal pratica que chega mesmo a se dedicar a tradução de um tratado da Sra. Broune sobre o tema: “Os Quarenta Dias de Jejum de Jesus Cristo no Deserto”.
Salzmann crê que o homem que aspira a vida divina pode ainda na vida atual vivenciá-la por meio da solidão. Ele acredita que a diminuição do amor na solidão é um indício da uma regressão religiosa. Experimenta o mesmo que os grandes místicos do passado experimentaram, a saber, que o desejo de mudar de vida é uma tentação (3).
O cristão, segundo Salzmann, está protegido pela Providência e tornar-se ele mesmo uma espécie de providencia para tudo aquilo que o cerca. Como aquele justo em Sodoma. Essa segurança o brinda com uma paz sobre humana.
Saint-Martin, que foi em certa medida um discípulo de Salzmann, registrou em uma página o que é, segundo ele, a essência da vida religiosa: “O homem não é apenas conhecido e amado pessoalmente pela Providência, mas deve viver nela e com ela tornar-se um…”.
Notas:
Padres do Deserto ou Pais do Deserto foram eremitas, ascetas, monges e freiras que viviam majoritariamente no deserto da Nítria (Escetes), no Egito a partir do século III. O mais conhecido deles foi Santo Antão (ou Santo Antônio, o Grande), que mudou-se para o deserto em 270-271 e se tornou conhecido tanto como o pai quanto o fundador do monasticismo no deserto.
Provavelmente de uma forma profética, recordem que em textos passados falamos da visão escatológica de Salzmann.
Os místicos do passado acreditavam que todas as vezes que o desejo de abandonarem sua via purgativa para viver outra forma de vida surgia, isso era fruto da tentação do demônio.
Formas de amores terrenos.
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
Fontes:
Anne-Louise SALOMON, F.- R. Salzmann, 1749-1820 - Son rôle dans l'histoire de la pensée religieuse à Strasbourg (Su papel en la historia del pensamiento religioso en Estrasburgo), Paris, Berger-Levrault, 1932, p. 86 à 88.
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