Alphonse Lamartine, escritor, poeta e político francês, retratou com muita coerência o “sofrimento ontológico” do homem. Em suas “Meditações Poéticas” escreveu o autor: “Limitado em sua natureza, infinito em suas aspirações, o homem é um deus caído que tem saudades do céu”.
Eis um resumo do triste estado do homem. Poderíamos parafrasear esse verso para definir o estado do homem atual como sendo: “Limitado por sua natureza porém infinito pelas faculdades espirituais que permanecem nele intactas”.
Na instrução secreta aos Grandes Professos, Willermoz traça um quadro profundo desse antagonismo interior que rasga e desmembra o homem, com uma intensidade digna dos apontamentos de Martinez de Pasqually.
“O homem é um composto ternário, feito de um espírito emanado do seio da Divindade da qual é imagem, e indestrutível como ela; de alma ou vida animal passiva e perecível, emanada de agentes secundários; e de um corpo material formado por três princípios corporais elementares. O animal, ou a besta, não é mais que um composto binário, formado de um corpo material e uma alma passiva, que não possuem nem um ou outro a marca indelével da vida e da indestrutibilidade, já que não tem nada mais que uma ação momentânea [...]”.
Essa passagem nos dá - além de uma ideia clara sobre a diferença na constituição do homem e do animal, ternária no primeiro e binária no segundo - outra noção fundamental: A de que há uma dupla semelhança entre o homem com a Divindade e do homem com o animal. Mas aqui temos que trabalhar com uma distinção radical, a semelhança do homem com a Divindade é primordial, pois repousa sobre uma imagem organicamente constitutiva do próprio ser do homem, já que o homem é criado a imagem de Deus. Essa imagem é inalterável (coerente e permanente ao ato criativo de Deus no homem). A semelhança, efetivamente, foi alterada, deformada, desfigurada. Mas existe a possibilidade, pelos meios adequados, de restabelecer sua conformidade, sua adequação com a imagem.
Isso está presente já nos primeiros ensinamentos de nossa Ordem. Posto que aquele que não é ainda sequer aprendiz, sendo apenas um candidato, submetido às provas prévias de sua recepção, recebe essa primeira máxima (sobre a qual deverá meditar por toda sua vida) :
“O homem é a imagem imortal de Deus; mas quem a poderá reconhecer, se ele próprio a desfigura?” - Extrato do Ritual de Aprendiz.
Ao contrário, a semelhança com o animal é de uma natureza completamente diferente. Em primeiro lugar não é nem original, nem primordial, é episódica e ocasional, melhor explicando, foi causada por um episódio, a queda que alterou a constituição original do homem, dotando-o de um corpo material.
Outra passagem da Instrução Secreta aos Professos que merece nossa atenção:
“A união de um ser inteligente a um corpo material, consequência direta da prevaricação do homem, foi um fenômeno monstruoso para todos os seres espirituais. A manifestação da oposição entre a vontade do homem e da Lei Divina. De fato a inteligência concebe sem dificuldades a união de um ser pensante e espiritual com uma forma gloriosa imperecível, tal como era o homem antes de sua queda. Porém não pode conceber a união de um ser intelectual e imortal com um corpo material sujeito a corrupção e a morte. Essa combinação inconcebível de duas naturezas tão opostas é, no entanto, o triste privilégio do homem atual. Por um lado , destaca-se pela grandeza e pela nobreza de sua origem; por outro, se encontra reduzido a condição dos vis animais, escravo das sensações e das necessidades físicas”.
“Para termos uma ideia de quão vergonhosa essa união é para ele, é necessário distinguir o homem inteligente, imagem e semelhança do Criador, do homem animal e corporal, similar aos animais terrestres, e sabemos como tais compostos (dos animais terrestres) se opõe a unidade da natureza espiritual”
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
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