Extraído do livro "Un Místico Lyonés y los secretos de la Francmasonería, Jean Baptiste Willermoz (1730-1824)", de Alice Joly, Edições Télètes, Paris, 1986. Reprodução integral da edição Mâcon de 1938.
“Estado da Província de Auvérnia de 1782 a 1785 - O Convento Provincial da Vª Província“
Em França, na Província de Auvérnia, as lojas da Ordem Retificada estavam sob a direção do Duque Havré de Croy. O Grão Mestre possuía em seus arquivos todos os códigos, regras, rituais e matrículas úteis, com notas precisas do Convento de Wilhelmsbad e parece ter mostrado de 1781 a 1784 um verdadeiro interesse pela sociedade que presidia[1]. Mantinha constante correspondência com o príncipe Ferdinand de Brunswick, assim como com todos os Chanceleres que representavam as rodas da administração maçônica de Auvérnia: Willermoz para a Província, Braun para o Priorado, Millanois para a Prefeitura. Foi respeitando todas as formas que se preocupou com os assuntos da Ordem. Ele respeitou todas as formas como se preocupou com os assuntos da Ordem. Deve-se lembrar que, no final das contas, todos os tipos de representações eram mantidos em relação ao Muito Ilustre Grão Mestre pela jurisdição provincial, mas era Willermoz quem tomava todas as decisões.
Em 1783 [2], o Diretório Escocês de Lyon recusou-se a pagar uma contribuição anual de 3 libras exigida pelo Grande Oriente da França. Não se tratava de romper a aliança de 1775 mas de mostrar que essa transação não era "um ato de submissão" que pudesse implicar em uma contribuição obrigatória. As lojas retificadas não pretendiam ter relação alguma com os assuntos do Grande Oriente e não queriam participar de suas dispensas. Elas faziam questão de apontar que haviam remetido fundos importantes para a obra de caridade dos Enfants Trouvés, proposta em 1780 por Bacon de la Chevalerie, e que não foi culpa delas que a obra não tinha ido adiante. Em 1782, a loja "A Honestidade" de Paris, "excitada por motivos patrióticos", propôs uma contribuição a todos os maçons para oferecer um navio de guerra ao rei, os "Irmãos Retificados" imediatamente aceitaram participar desse "meio de provar seu amor pela pátria". Mas o rei recusou o presente. Não seria melhor consagrar todos os fundos "para aliviar a humanidade sofredora"? No entanto, era permitido assinar o jornal editado pelo Grande Oriente, pois ele continha anedotas morais "próprias para inflamar o coração dos maçons". Willermoz estava tentando apartar-se dos caminhos da Maçonaria comum e mal escondia a frieza que sentia em relação aos seus Irmãos do Rito francês.
Faltam os documentos para sabermos, nesses anos, a atividade das lojas lyonesas. No entanto, é verdade que era naquela cidade que existia em torno de Willermoz o centro mais zeloso de maçons espiritualistas. Os membros de "A Beneficência" residentes em Lyon em 1782 eram 52 e 54 em 1784 [3]. Alguns novos nomes aparecem, substituindo nos cargos os antigos dignitários mortos, como o Dr. Boyer de Rouquet, ou decididos a se afastar, como os Willermoz [3a], Perissé Duluc, Cordon, Bruyzet e Castellas. O cavaleiro de Monspey, Comendador de Malta, é Mestre de todas as Lojas Reunidas do departamento, compartilhando com o cavaleiro Gaspard de Savaron as maiores honras da associação. Prost de Royer sempre ocupa o terceiro lugar, como ex-Mestre de "A Beneficência”. Podemos ler em 1783 e 1784 as promoções dos Irmãos Plagniard, Millanois, de Rachais, Champereux, Sabot de Pizay. Um certo abade Renaud, padre de Sancey-en-Macônnais, entra na Ordem em 1782, fazendo uma carreira brilhante. Ele é o segundo Orador da loja em 1784. Nesses anos ainda podemos ver aristocratas recrutados, como o conde de Jouffroy, o capitão de cavalaria Hubert de Saint-Didier, Basset de Chauteaubourg, capitão segundo no regimento de Brie, e o marquês de Regnault, senhor de Bellescize, mestre de campo de dragões, lugar-tenente dos marechais de França, cavaleiro da Ordem de Saint-Louis e comandante do castelo de Pierre-Scize.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Lyon era, sem duvida alguma, o grupo mais dócil aos ensinamentos de J.B. Willermoz. Se havia algum lugar onde seu projeto sectário podia ter alguma esperança de concretizar-se esse era, sem duvidas, o corpo de lojas de Lyon.]
Parece que "A Sinceridade" de Chambery ficou mais fria nessa época. Sabemos que Joseph de Maistre escreveu para o seu amigo Vignet des Etoles sobre sua desilusão com os resultados do Convento de Wilhelmsbad; pode ser que ele também tenha expressado a opinião de seus colegas saboyardos.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A figura de Joseph de Maistre é constantemente evocada para emprestar legitimidade a Doutrina do Regime Retificado e para tentar explicar o que, afinal de contas, seria o "cristianismo professado pela ordem". No entanto, pouco se encontra em artigos acerca de sua decepção com a Ordem Retificada (em especial a nível filosófico) e com Willermoz, que se negava a lhe esclarecer certos pontos filosóficos que lhe pareciam obscuros.]
Em Grenoble, a Ordem estava claramente em declínio. "A Beneficência" e "A Igualdade" estavam recrutando mal e se endividando. Era questão de reunir em uma única loja essas duas sociedades, apesar das diferenças mundanas de seus membros. A única atividade séria concentrava-se em alguns Grandes Professos fiéis: Virieu, Prunelle de Liére e Giroud 84. Ainda o Irmão a Circulis era às vezes mais parisiense do que delfinense. Seu papel na Maçonaria Retificada sempre foi muito importante. O Convento de Wilhelmsbad nunca tirou sua zelo pela Arte Real. No final do mês de agosto de 1784, Henry de Virieu presidia em Chalon o Capítulo da Prefeitura de Borgonha, onde foram nomeados alguns novos dignitários, como Alexandre de Scorailles, ab Angelo, proclamado como Prefeito, e Esmonin de Dampierre, Vice-Prefeito
A história da "Beneficência" em Paris é pouco clara. É verdade que as intrigas de Savalette de Lange e dos Filaletas conseguiram criar entre os parisienses ligados à Ordem Retificada, uma certa animosidade contra as diretivas do Chanceler de Lyon. Este período não é muito importante, exceto pela fundação de uma única loja nova, a da "Tripla União" em Marselha, que se junta à Ordem Retificada no início de 1785. Isso não é exatamente uma prova de grande prosperidade. As decepções e a falta de movimento começam a fazer sua obra de destruição. Obstinado em seu otimismo, Willermoz, no entanto, fazia construir em Brotteaux uma casa para suas lojas, que até então tinham como endereço os salões de alguns Irmãos complacentes [5].
Na V Província, chamada de Borgonha, o estado da Ordem não era mais próspero. Sérias dificuldades haviam surgido em relação a Wilhelmsbad e, por muito tempo, haviam impedido sua ratificação oficial. Nem todas essas dificuldades vieram do Bayerlé, o Prefeito de Lorena que lutava por ela, ou da divulgação de seu folheto. A loja "Honestidade" em Estrasburgo, a primeira fonte francesa da Maçonaria Templária, se recusou a aceitar as novidades que lhe foram propostas. Será que estavam muito ligados à lenda do Templo de Jacques de Molay que os havia seduzido antes? Será que eles tinham outras queixas? Não sei. Mas eles preferiram deixar de ser membros da província. A Prefeitura de Saarbruck seguiu o exemplo da "Honestidade". Uma loja em Beaune anunciou na mesma época que estava deixando o Rito Escocês Retificado. A fundação de uma nova loja em Dieuze não compensou essas deserções.
Foi apenas no final do ano de 1784, de 10 de agosto a 9 de setembro, que o Capítulo da V Província se reuniu em Estrasburgo, em um tipo de Convento regional, com o objetivo de tentar resolver todas essas questões irritantes e finalmente proclamar sua adesão à reforma promulgada em 1782 [6]. As subdivisões de Alsácia, de Lorena, de Áustria e de Borgonha tinham cada uma um representante na pessoa dos Irmãos de Martigny, a Thuribulo, de Frederic de Hesse-Darmstadt, ab Iride, do marquês de Lezay-Marnezia, ab Alba Rubraque Cruce, e de Emonin de Dampierre, a Cuspide Aureo. O barão de Durkheim presidiu os debates em que participaram seu irmão mais jovem Turkheim, a Navibus, o barão de Kinglin, Bayerlé e o príncipe palatino dos Dois Pontes, chamado ab Aquila Jovis.
A reunião consagrou a reconciliação entre os partidários e os críticos da obra realizada em Wilhelmsbad. Bernard de Turkheim desempenhou um papel conciliador importante, tendo sido ele quem trouxe Bayerlé de volta para o seio da assembleia e aceitado as desculpas e explicações apresentadas por este último sobre o conteúdo de seu livro. Desculpas, de fato bastante restritas e não dirigidas muito além dos Sereníssimos Irmãos a Victoria e a Leone Resurgente. O Irmão a Fascia não esboçou nenhum arrependimento acerca do que disse sobre o Chanceler ab Eremo e nem dirigiu a ele nenhum pedido de perdão. A menos que a fórmula de duplo sentido em que ele se defendia de querer "causar danos a pessoas das quais não cessei de fazer elogios, com a mesma franqueza com que critiquei o que parecia reprovável" possa ser interpretada de forma favorável.
Durante os debates, duas memórias foram lidas, uma pelo Marquês de Dampierre e outra por Turkheim, nas quais se mostrava que Bayerlé não estava sozinho nas lojas templárias do Leste da França em censurar a obra do Convento Geral. Os maçons protestantes, acostumados a examinar livremente sua fé e suas práticas religiosas, hesitavam em se submeter, em matéria de maçonaria, a uma autoridade dogmática. Esta obrigação que lhes era imposta de aceitar a existência de uma Ordem secreta e obedecer ao Grande Mestre Geral ofendia a ideia que faziam da igualdade e da fraternidade maçônicas. As novidades instauradas em 1782 lhes recordavam desagradavelmente os hábitos do papismo. Foi por isso que os dois advogados da reforma de Wilhelmsbad -ou melhor, da reforma de Willermoz- garantiram a seus Irmãos que a Ordem não corria nenhum perigo, abandonando os princípios liberais da Maçonaria ordinária. Tanto em termos gerais quanto em termos particulares, os Cavaleiros Benfeitores não podiam mais crescer material e moralmente, abandonando-se à direção paternal e esclarecida de seus superiores. Parecia também que eles estavam se referindo ao fato de que sua sociedade se assemelhava às monarquias estabelecidas em seus respectivos países; eles deveriam principalmente refletir sobre a diferença entre a perfeição mundana da Maçonaria simbólica e a perfeição religiosa da Cidade Santa, encontrando em seus progressos espirituais os melhores temas de consolação.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A argumentação dos advogados da reforma maçônica de Wihelmsbad - ou melhor, de Willermoz - de que assumir uma direção intelectual de forma cega, "in totum", sem contestações, era algo similar ao que acontecia nos regimes monárquicos nos parece falaciosa. A falta de possibilidade de exercer pensamento critico é característica de seita e não de organismos maçônicos. As próprias religiões instituídas, que arrogam para si o titulo de possuidoras da verdade, admitem em suas fileiras o pensamento contraditório (vide por exemplo a disputa entre Bernardo de Claraval e Abelardo) , logo é inaceitável que um órgão maçônico mantenha posições que cerceiem a liberdade de pensamento ou crença.]
Esses argumentos foram aparentemente bem recebidos. O Capítulo de Estrasburgo aderiu ao partido e às conclusões dos fiéis de J.B. Willermoz. No máximo, registrou algumas reservas sobre o trabalho de recepção de graus que estava sendo perseguido em Lyon. Uma pequena comissão, composta por um protestante e um católico, foi encarregada de examinar a doutrina contida nos rituais com o objetivo de garantir "se o símbolo da Maçonaria era tão universal que poderia ser aceito por qualquer Cavaleiro, que professasse qualquer religião". O Chanceler de Lyon podia ficar satisfeito com o bom trabalho realizado pelos seus Professos para convencer e tranquilizar os seus Irmãos e fazê-los aceitar, de bom ou mau grado, sua doutrina maçônica.
Notas:
1 - Lyon ms. 5479, p. 4. Catálogo de arquivos da sede magistral da II Província chamada Auvernia.
2 - Lyon, ms. 5458, p. 9
3 - Lyon ms. 5479, pp. 10, 11 y 12. Quadro dos irmãos de “A Beneficência”.
3a - Nota do Blog Primeiro Discípulo: Cremos tratar-se aqui dos irmãos de sangue de J.B.W. que o tinham auxiliado na fundação de "la bienfaisance".
4 - Lyon ms. 5473, pp. 23 a 30. Este Irmão Giraud morreu em 10 de julho de 1783. Prunelle aconselhou que fosse substituído pelo Irmão Faure, pelo menos para o papel de Depositário.
5 - A. Stevert, Nova história de Lyon, 1899 T. III p. 426. O plano reproduzido por este autor permite situar a loja um pouco à direita do local onde atualmente se encontra a Igreja do Santo Nome de Jesus. A terra foi comprada em 6 de janeiro de 1782, por 4.000 libras, aos Hospícios de Lyon. Os principais membros da "Beneficência" são listados como adquirentes.
6 - As atas do Capítulo provincial de Cavaleiros Maçons da Cidade Santa da V Província foram conservadas entre os papéis de Charles de Hesse, que mantém a Grande Loja de Copenhague. Nós as conhecemos por M. Le Forestier.
I.C.J.M.S.
Que Nossa a Ordem Prospere !!!
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