"A compaixão; sempre boa é, em todos os casos, a celestial precursora da justiça."
Concepción Arenal (1820 - 1893)
Quando tratamos da Recepção no Regime Escocês Retificado às palavras Justiça e Clemência são marcantes para o Aprendiz. São o "ponto central" da Iniciação revelado na fala do Irmão 2º Vigilante apenas e somente após o Juramento, com a seguinte formula: “V.∙. Mestre, o Aprendiz está colocado a Ocidente, mas nada poder ver com sucesso se não receber o primeiro raio de luz”. Revelando-nos através destas palavras que toda a Recepção prepara o candidato para receber os “primeiros raios de luz” emanados da Justiça e da Clemência que lhe são apresentados como um flash, resultado do trovão que ele escutou ao final de cada uma das três viagens. Nestas três viagens o candidato é preparado para receber a Justiça emanada do Oriente; através das falas do VM, e os da Clemência, nas do Irmão Introdutor no Ocidente, que tornarão o “Sofredor” capaz de suportar os primeiros raios da Verdadeira Luz e Aprendiz Maçom do RER.
A Clemência só é possível se acompanhada da Compaixão; e a Compaixão recebe o tempero da Justiça. Exatamente como o exemplo do Cristo Redentor e seu sofrimento na Cruz cujos frutos são a Compaixão, a Clemência e a Justiça por e para a humanidade. E assim como Cristo Sofredor, o Aprendiz no RER também recebe o glorioso título de Sofredor. Uma exortação antes de receber a Luz expõe claramente que a coragem e a confiança em Deus (Fé) são essenciais: “As leis da Justiça são eternas e imutáveis. Aquele que, assustado pelos sacrifícios que ela exige, recusa submeter-se lhe é um covarde que se desonra e se perde...” (Extrato da Recepção do Ritual de AM).
Aperceber-se da dor, da paixão ou do sofrimento do outro, só será plenamente entendido por um Coração Reto e bem cuidado pela Justiça e a Clemência, gerando Misericórdia verdadeira no Coração do maçom Retificado. Esta comoção causa o estremecimento e faz vibrar o espírito que, trabalhando corretamente, se retorce com a dor alheia e insufla no coração do homem a Caridade necessária para tomar uma decisão e passar da inercia a ação. O Aprendiz incia o trabalho caridoso em si mesmo, buscando em sua alma as mazelas causadas pela materialidade; julgando seus atos, pensamentos e ações à imitação do Cristo para com a humanidade e por consequência aos demais seres desta terra: "Meu Irmão, se tiveres um coração justo e sincero nada receies. A Clemência tempera os rigores da Justiça em favor dos que se submetem generosamente às suas leis. Usa portanto de moderação para com os outros homens, quando aqueles se considerarem culpados perante ti" (Extrato da Recepção do Ritual de AM) .
Pois bem Irmão, no ‘centro’ da Recepção Justiça e Clemência se tornam como uma chave que; além de abrir o Coração do maçom em consonância com seu Espírito, pondo em marcha uma Caridade ativa, deverá lhe abrir a inteligência para a Fé, sem interferência de suas próprias paixões: “... Não hesites nunca, meu Irmão, e sê justo para com todos os homens, sem consultar as tuas paixões nem os teus interesses pessoais...”(Extrato da Recepção do Ritual de AM) .
O conhecimento de si mesmo, mediado pela Justiça e a Clemência, torna o maçom retificado inteligente em sua Fé, mas acima de tudo, inteligentemente cristão. Isto é parte do plano Divino de Retificação do homem através do Cristo, proposto por Willermoz, onde cada irmão é a imagem e semelhança de Cristo (conforme Rm 8,29); isto é, cada um ser, alter Christus, outro Cristo (tal qual ocorre por ocasião do sacramento da ordem). Esta semelhança com Cristo só é possível quando o maçom retificado entrega sua inteligência voltada para a matéria para as verdades cristãs. Assim a Justiça e a Clemência são dois degraus da escada que refletem as virtudes teologais.
A Caridade exige Amor Verdadeiro, e não emoção. Consiste ainda em um sentimento de compaixão, não de piedade passiva, e sim ação na prática da Caridade. A Caridade é resultado ainda das virtudes humanas e devem aflorar como adorno na pedra bruta em que o Aprendiz trabalha. As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem. As virtudes morais são humanamente adquiridas. São os frutos e os germes de atos moralmente bons e dispõem todas as potencialidades do ser humano para comungar no amor divino. (CIC 1804)
Agindo em conjunto, Justiça e Clemência, tornam a Caridade em Compaixão autêntica. O homem nasceu para cuidar bem do mundo que Deus criou e viver em harmonia uns com os outros. Nascemos para cultivar e praticar a virtude, que é a vontade de praticar o bem. Justiça e Clemência suscitam e estão ainda intimamente ligadas às três virtudes Teologais infundidas no cristão pelo batismo: Fé, Esperança e Caridade.
Não existe caridade pela via da expectativa, da contemplação passiva. Não é caridoso aquele que alimenta piedade e dó e nada faz a favor do seu semelhante. O amor é o sentimento que deve sustentar todas as ações de Caridade, e não podemos confundi-lo como paixão ou emoção, ter consciência de que tudo emana da Justiça e da Clemência do Pai faz da Caridade um movimento ativo.
Neste breve relato podemos tomar ciência da importância das palavras Justiça e Clemência na Recepção do RER. São elas a ‘mola mestra’ que impulsiona o Sofredor no trabalho de desbastar a Pedra Bruta. Devem ser meditadas e postas em prática na plenitude de seu significado. Encerramos com os escritos do Ir Jean Baptiste Willermoz que corroboram com as santas palavras de São João Evangelista e da Santa Igreja:
“Aquele que perde a Luz começa a perder a vida e a Verdade afasta-se dele”. Ritual do Aprendiz
"É nisso que se conhecem quais são os filhos de Deus e quais os do demônio: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, como também aquele que não ama o seu irmão. (I São João 3, 10)".
"Não há santidade (perfeição humana) sem renúncia e sem combate espiritual" (CIC).
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
Referências:
- Bíblia Católica
- Ritual do Aprendiz Maçom RER
- Catecismo da Igreja Católica
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