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LIBERTATEM LAPIS

Os quatro graus simbólicos do Rito Escocês Retificado

Atualizado: 14 de out. de 2020


Jean-Marc Vivenza



Extrato de sua obra “Os Elus Cohen e o Regime Escocês Retificado”; Capítulo V: “Expiação, purificação, reconciliação e santificação: os quatro tempos da reedificação do Templo do menor espiritual” - “ como vamos traduzir, para o Regime Escocês Retificado, esta ‘ciência do homem’...”, que procede diretamente do ensinamento martinezista sobre a qual se apoia por meio de correções prévias e significativas emendas efetuadas para volta-la conforme as verdades da fé cristã?


De que maneira esta “ciência” singular conseguirá, concretamente, tomar forma para conseguir fundirem-se inteiramente nos diversos graus e níveis da “retificação”, até tal ponto que se tornara tão íntima com o Regime Retificado que é agora relativamente delicado, devido a genialidade com a qual Willermoz soube, mediante toques suaves, distribuir os elementos desta ciência em seu sistema, extrair para projetar sobre ela uma luz que lhe permite aparecer em toda sua integra profundidade e clara formulação.


A única maneira de conseguir resolver estas legítimas questões, cuja elucidação é indispensável aos que desejam chegar a compreender a essência espiritual autêntica do Retificado, é perguntar-se em que consiste o primeiro e maior objetivo do Regime fundado por Jean Baptiste Willermoz. A esta pergunta se pode aportar uma resposta simples e imediata, que nos é exposta pela Instrução secreta dos Grandes Professos: “O único objetivo da iniciação é conduzir do Pórtico ao Santuário”; o que significa que o Retificado tem a finalidade de “esclarecer ao homem acerca de sua natureza, sua origem e seu destino”, não possuindo outro programa que o da “Reintegração”. É evidente, como o demonstra Willermoz, que se o homem não houvesse degradado sua natureza livrando-se da prevaricação, seria inútil iniciar hoje em dia tal processo de regeneração.


Porém agora, apodrecendo em seu estado lamentável, um importante trabalho se lhe impõe posto que o homem seja “indigno de acercar-se ao Santuário”, trabalho que poderia resumir-se na imperativa obrigação para o Menor espiritual caído de obrar em recobrar seu estado primitivo original, que foi o objetivo reconhecido da verdadeira Iniciação pelo intermédio de seus profetas e de seus enviados que recomendavam sempre “uma multiplicidade de lustrações e purificações de todo tipo que exigiam aos iniciados, e somente após haver-lhes preparado desta maneira, lhes faziam descobrir o único caminho que pode conduzir ao homem até seu estado primitivo e restabelecer-lhe em seus direitos perdidos” (Instrução secreta).


Não há outra finalidade para a iniciação, nem outro objetivo mais precioso e vital, o que sustentou com grande força e enérgica convicção Jean Baptiste Willermoz, então se fez necessário organizar um caminho, preparar una “via” que se encarnará no que quis ser, e se pensou na Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, a retificação comprometida en 1778 en Lyon. Curiosamente, para levar a prática deste processo de reintegração do homem, e quase invisivelmente dando-lhe a primeira vista um verniz “ético” ou “moral”, que chega a enganar alguns Maçons, e não os menos instruídos, o Retificado retoma por sua conta sem divulga-lo em demasia as teses de Martinez relativas ao culto primitivo. Reproduzindo os grandes princípios da doutrina dos Cohen: “O homem, ser espiritual menor, tinha que operar um culto. Era puro e simples, porém havendo degradado seu ser e desnaturalizado sua forma, seu culto mudou. Se tornou sujeito a lei cerimonial do culto. O homem, que participava da natureza divina e completa a quádrupla essência, deve render um culto que corresponda as quatro faculdades divinas das quais é imagem e semelhança”.


É certo que o culto celebrado pelos Cohen integrava elementos do culto celebrado por Adão, mas aperfeiçoando-os, fazendo-os mais eficazes e justos: “Culto de expiação, purificação, reconciliação, santificação. O último corresponde ao pensamento divino, o terceiro a vontade ou ao verbo, o segundo a ação, o primeiro a operação. O homem em seu primeiro estado somente tinha que operar para um culto de santificação e louvores. Era o agente pelo qual os espíritos, que devia trazer de volta, deveriam operar os outros três. Ao haver caído, deve opera-los ele mesmo. Estes quatro cultos se designavam na antiga lei pelos quatro diferentes sacrifícios que fazia o grande sacerdote, através das quatro espécies de animais. Também o eram pelos quatro tempos, ou festas principais, e pelas quatro orações diárias. O verdadeiro culto foi ensinado a Adão após sua Queda pelo anjo reconciliador, foi operado santamente por seu filho Abel em sua presença, restabelecido por Enoque que formou novos discípulos, esquecido depois por toda a terra e restaurado por Noé e seus filhos, renovado por Moisés, Davi, Salomão, Zorobabel e finalmente perfeiçoado por Cristo em meio dos doze apóstolos na Última Ceia”[1].


Este culto nunca será ensinado em termos diretos aos membros do Regime Retificado, posto que Willermoz reservasse seu conhecimento, não prático, mas teórico, unicamente aos Cavaleiros Professos e aos Grandes Professos. Entretanto, se conduzirá aos irmãos do Regime por um processo de regeneração espiritual tal que cumprirá, sem estarem realmente conscientes disto, os princípios, as regras, as leis e cerimoniais deste culto, levando-lhes a comprometer-se, lenta e harmoniosamente, em um santo labor de regeneração espiritual durante todo o tempo de sua vida maçônica.


O caráter fundamental do quaternário toma com o Regime Retificado; que se liberta dos marcos da maçonaria estruturada em três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre; tal evidente dimensão que posiciona o sistema de Willermoz em uma atitude de brusca e, para alguns, chocante originalidade, de tal forma que vai se acoplar com as convicções da doutrina Cohen, que retoma para seu propósito a este respeito e as faz completamente suas.


Assim, para reedificar o templo tripartido destruído e em ruínas, o Menor de potencia quaternária deverá, em quatro tempos, reencontrar os elementos do culto original fundado sobre os quatro sacrifícios, as quatro orações diárias e as quatro festas principais. Descobrimos então muito melhor porque Willermoz, que desejava situar sua Ordem sob os auspícios do “verdadeiro culto” e do sacerdócio primitivo, edificou seu sistema maçônico em quatro graus e não em três.


Voltando-o a um sentido consumado da pedagogia espiritual sobre as grandes linhas da historia universal, Jean-Baptiste Willermoz levou então toda a perspectiva de seu sistema iniciático em uma sutil e extremadamente realista obra de regeneração. Seguindo quase passo a passo as diferentes etapas que vieram a Adão, que desgraçadamente escutou ao pai da mentira, ser despossuído de seu estado glorioso, sendo expulso do Éden para sofrer, neste mundo tenebroso, o espantoso duelo de um exílio que lhe valerá, devido a uma penosa expiação, a principio sofrida, mas que todo homem terá que aceitar e por em prática para poder colaborar no trabalho de purificação que permitirá a humanidade reencontrar a amizade de Deus e beneficiar-se da graça reparadora e santificadora de seu Filho, oferecida hoje em dia gratuita e livremente a toda criatura desejosa de reencontrar o caminho que conduz a inefável comunhão com o Eterno pela reconstrução do Templo universal tripartido.


Estas três partes do Templo universal, e por meio do Menor, serão particularmente marcadas e ressaltadas no seno do Regime Escocês Retificado, o qual, tomando e adaptando magistralmente a forma arquitetônica do Templo que Salomão edificado en Jerusalém (forma organizada segundo as diferentes estancias do santo edifício: Pórtico, Santo, e Sanctum Sanctorum, perfeitamente adaptado, ao menos simbolicamente, no que deve ser a reedificação espiritual de cada filho de Adão), convida aos irmãos a franquear os muros que os afastam, desgraçadamente, do recinto sagrado e, em continuação, penetrar piedosamente, abaixando a cabeça com o sentimento de sua falta, no interior deste majestoso Templo para poder, finalmente, ao entrar no Santuário, louvar a Divindade e lhe celebrar um verdadeiro culto, magnificando a gloria do Pai, do Filho e do Espírito, cantando a imensidão de seu Amor.


Neste esquema tripartido de reconstrução, tudo participa com um meticuloso respeito à Palavra da Revelação, tudo está em profundo acordo com a doutrina dos pais da Igreja, tudo se corresponde com um exigente conhecimento da realidade espiritual e antropológica que preside harmonicamente a constituição interior de cada ser e condiciona rigorosamente aos mínimos progressos em seu caminho pessoal até o Reino da Verdade.


Quando tratavam a questão do caminho espiritual, os doutores da fé falavam efetivamente de um progresso que se decompunha em três tempos distintos, respectivamente: a purificação, a iluminação e a união. A maioria dos tratados a respeito explicava com todo luxo de detalhes o que distinguia estes três tempos, e descreviam a maneira de avançar no seno destas etapas essências da perfeição cristã onde a alma se purifica sentindo sua inteligência, sua memoria e sua vontade. Mas a judiciosa intuição de Willermoz foi a de conjugar, reunindo os quatro tempos do culto primitivo com a reconstrução tripartida do Templo Universal, a perspectiva da “Reintegração” tal como a descreveu Martinez de Pasqually, com os critérios seguros e sábios da tradição secular da teologia ascética e mística.


Esta pertinente “aliança” desembocará na constituição de uma arquitetura iniciática muito eficaz, respeitosa dos fundamentos da Revelação, atenta ao sentido simbólico próprio que podiam constituir para a criatura caída os graus de seu retorno amistoso acerca de Deus.


Apresentando ao irmão de maneira clara o Pórtico, o Templo e o Santuário como tantos recintos que terá que franquear para aceder a plenitude da iniciação que espera obter por seu compromisso na Ordem, o Regime Escocês Retificado, ao reconstituir com suas três classes (Maçonaria, Cavalaria e Professo) as três partes tradicionais do Templo, se inscreveu desde então como uma verdadeira escola de realização evangélica, a saber, voltar a dar consciência, aqui abaixo, a cada membro, irmão querido do Senhor, do lugar que lhe corresponde e lhe espera desde sempre no Céu próximo do Eterno. Estas três partes do Templo respondem a um ternário que sabemos ocupa um lugar fundamental no Regime Escocês Retificado, e vão desempenhar um papel central desde o ponto de vista da aplicação do trabalho iniciático que somente poderá apoiar-se; este claro, porque tudo depende disto, tudo procede disto e tudo conduz a isto, sobre o ternário no sentido genérico do termo. Robert Amadou publicou uma prancha muito instrutiva a respeito em seu prefacio das Lições de Lyon, precedido desta advertência: “O ternário foi eleito entre as dez páginas do livro do homem porque é necessário começar com o que se tem. Três é do mundo universal, segundo o qual tudo é produzido, e número das formas produzidas; número do Verbo e do Espírito Santo em ação, número de seus agentes criadores; número de nosso mundo, pobres de nós, ricos de nós”.


Com o objetivo que se torne um paradigma permanente em seu sistema maçônico, Willermoz, fino pedagogo, adiciona a este quadro geral os três tempos da historia do homem e da reconstrução de seu Templo, insistindo sobre o trabalho necessário derivado da compreensão da esta perspectiva universal que condiciona em cada período e para todas as gerações que se hão sucedido e que se sucederão neste mundo, o destino dos filhos de Adão esperando a reconciliação que lhes abrirá por fim as portas do Reino.


Sobre este fim, escreveu Saint-Martin: só será alcançado por aquele que haja passado pelo crisol da purificação, tenha sofrido todas as provas que a justiça exige aos culpáveis menores e tenha trabalhado o tempo requerido a gloria do Grande Arquiteto do Universo. Este será o salario que receberá cada eleito quando haja fielmente cumprido com os deveres de aprendiz e de companheiro, para merecer ser recebido mestre, melhor dizendo, ser admitido ao culto no altar e levar o incensário”.


Não podemos deixar de recordar as palavras dirigidas pelo irmão Orador ao novo iniciado do Regime Escocês Retificado, explicando-lhe o sentido das três viagens que acaba de realizar: “Os três estados de Buscador, Perseverante e Sofredor estão tão ligado no homem de desejo que nos parece necessário recorda-los juntos através de cada uma das viagens. As três viagens na escuridão representam a penosa carreira que o homem deve percorrer e os imensos trabalhos que deve realizar sobre seu espírito e sobre seu coração e o estado de privação no qual se encontra quando abandonado a sua própria luz. A espada sobre o coração designa o perigo das ilusões as quais está exposto durante sua jornada passageira, ilusões que não pode rechaçar, mas com vigilância e depurando sempre seus desejos. As trevas que o rodeiam designam também aquelas que cobriam todas as coisas no principio de sua formação. Finalmente, o guia desconhecido que lhe foi dado para percorrer este caminho é o emblema do raio de luz inato no homem, única via para sentir o amor a verdade e poder chegar até seu Templo”.


[1] As Lições de Lyon, nº 99, 22 de junho de 1776.


I.C.J.M.S.

Que Nossa Ordem Prospere !!!

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