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O Regime Retificado e os Irmãos Não Cristãos

Atualizado: 27 de out. de 2020

Já na nossa primeira postagem, intitulada simplesmente “Rito Escocês Retificado”, tentamos esclarecer que o R.E.R., integrado a Maçonaria Universal (que exige de seus candidatos apenas a crença em um Deus Criador e em uma vida por vir ), abriga em suas fileiras maçons de todas as confissões religiosas, até porque a doutrina incorporada nos rituais do R.E.R e em sua simbologia, sendo profundamente cristã, reflete, acima de tudo, o anseio original pelo sagrado, que vem acompanhando toda a humanidade desde seu alvorecer, anseio esse onde, naturalmente, se inserem as mais diversas formas de crença.


E na postagem “Rito Escocês Retificado - Cristianismo Atenuado ?” falamos sobre o fato de que os Pais da Igreja muitas vezes expressaram a ideia de um bem, que era tão luminoso em si, que superava crenças, na ocasião apresentamos um excerto do pensamento de São Justino (Martir) para dar um pequeno sustentáculo a tal tese; dado que o pensamento desse grande Santo combinava perfeitamente com o objetivo de nossos trabalhos em loja: o cultivo de um bem universal - oposto ao mal - e disponível a todo homem de boa vontade, bons princípios e bons costumes. Nessa postagem, lembramos ainda o que foi dito na primeira: “no início, o R.E.R abrigava em seus quadros apenas membros de religiões de denominação cristã e de confissão trinitária. Aliás como fazia a maior parte da maçonaria, senão toda ela, até o fim do século XVIII. O R.E.R nasce com uma natureza cristã calçada no ecumenismo e, com o tempo, se deixa naturalmente evoluir (Assim como toda maçonaria) … Vale lembrar que o termo ecumênico provém da palavra grega οἰκουμένη (oikouméne) e significa mundo habitado. Em um sentido amplo é a procura da unidade entre todas as igrejas cristãs (católica, anglicana, protestante e ortodoxa) e, no sentido lato, pode designar a unidade entre as religiões. E é exatamente em direção a esse sentido lato, que a compreensão da maçonaria e do R.E.R. evolui, tornando-se universalista ao acolher a todo e qualquer irmão maçom independente de suas crenças.”


Alertamos ainda, nessa mesma ocasião, para o fato de que, se por um lado o R.E.R ganha adeptos abrindo suas asas para abrigar e alimentar, tal qual o pelicano eucarístico, a todos os seus filhos “dispersos”, por outro lado, ele sofre duros golpes vindo de muitos desses mesmos filhos que se empenham, quase desesperadamente (e as vezes em desespero mesmo) em encontrar ou criar restrições que buscam limitar, em maior ou menor medida, o alcance da realidade cristã do rito (Ainda que essa realidade seja totalmente demonstrável desde o Ritual de Aprendiz Maçom).


E quantas não são as vezes que um maçom retificado, homem livre e de bons costumes, sentindo-se amado por Deus e vivendo como filho amado, entregue a fidelidade para com a santa tradição cristã e a fé na Santíssima Trindade, apegado aos princípios e as tradições cavaleirescas e maçônicas, doando-se ao bem do próximo e ao amor da divindade, lutando para dominar suas paixões e deixando-se encher pelas virtudes que Nosso Senhor Jesus Cristo lhe provém, não deseja - por heroico ato de amor - ao sentir o perigo das ameaças ditas acima aproximarem-se e ameaçarem o tesouro que ele tanto ama e pelo qual tanto lutou, não lança - como Pedro Apóstolo ou como bom cavaleiro - mão a espada a fim de acabar com a ameaça que se lhe parece visível ?


E qual o golpe que lhe parece mais certeiro nesse momento ? Simplesmente banir aqueles que ele considera um risco para a doutrina do R.E.R… e como conseguiriam tal intento ? Baseando-se em uma passagem da “Instrução Final do Recém Recebido ao Quarto Grau do Regime Escocês Retificado” que diz: “ Os quadros colocados sob teus olhos, as explicações que te foram feitas, e as instruções que tu vens recebendo há muito tempo, fizeram conhecer o porquê [os X, os Y, e todos] daqueles que não professam a religião cristã, não são admissíveis nas Lojas”.


Mas calma irmãos, assim como fez com São Pedro, Nosso Senhor Jesus Cristo nos adverte: "Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu? " (Jo. 18:11).


A razão para não faze-lo é simples e encontra-se logo no mesmo ritual: “Sim, a Ordem é cristã. Deve sê-lo, e ela somente pode admitir em seu seio cristãos ou homens bem-dispostos a ser de boa-fé, a aproveitar os conselhos fraternos pelos quais eles podem ser conduzidos”.


Com a palavra nosso amado pai, Jean Baptiste Willermoz:


Finalmente, a iniciação não é apenas útil mas extremamente necessária aos homens de boa fé, muito mais numerosa do que se pensa, que creem firmemente na existência de um Deus criador de todas as coisas, bom , justo, que castiga e recompensa, mas que, pela falta de conhecer suficientemente os pontos da doutrina primitiva, já citados em artigo anterior, custa-lhes reconhecer a divindade de Jesus Cristo e, ainda mais, a necessidade da redenção dos homens através da encarnação de um Deus (fazendo-se homem). Tais homens meditativos para quem as demonstrações teológicas mais utilizadas e regularmente apresentadas como provas difíceis de rechaçar (ainda que muito combatidas), não são suficientes; Aqueles que não são convencidos por nada... É para eles que a iniciação é extremamente necessária, é para eles que deve ser especialmente destinada. Não duvido, dado que muitas vezes testemunhei seus resultados felizes, que estes homens de boa fé, uma vez convencidos e voltados a si mesmos por força das consequências imediatas dos pontos da doutrina que lhes foi apresentada, rompem-se em choro, traduzindo sua mudança interior por meio de lágrimas de amor e agradecimento para com Aquele que, por estarem em desgraça (fora da Graça), haviam desconhecido; convertem dai em diante em inquebrantáveis colunas da Fé Cristã.


É por isso que a Ordem exige para os mais altos graus uma crença absoluta na Unidade de Deus, na imortalidade da alma humana e a exige “menos absoluta” para a pessoa divina de Jesus Cristo, e vemos que mesmo na profissão de fé dos Cavaleiros, como em outros atos relativos, se mostra mais indulgente a este respeito e praticamente se conforma com uma boa e firme vontade de crer nas verdades que são necessárias. É porque ela sabe que tem os meios particulares de trazer essa crença e convencer os homens de boa fé.


Eis aqui também a razão pela qual se exige de todos os membros uma tolerância universal que se faz um principio e um dever absoluto para todos; já nisso se imita o exemplo daquele que disse: “não vim a este mundo para que as pessoas se portem bem, vim para aliviar e curar os que estão enfermos”.


Depois de conduzi-los por meio da instrução à crença religiosa fundamental e necessária, a Ordem deixa para a Graça Divina o cuidado de operar neles as mudanças interiores ou exteriores que creia necessárias conforme Sua providência. A ordem se proíbe de julgar e mais ainda de condenar [...] deixando o julgamento para o único que conhece em verdade os pensamentos e as intenções dos homens.


Veja, meu querido irmão, que a iniciação está especialmente reservada aos irmãos doentes, isto é, para aqueles que sentem vivamente os sofrimentos e a causa de sua enfermidade e desejam sinceramente a cura. É inútil para os outros e, na maior parte das vezes, poderia tornar-se um alimento para o orgulho, para a vaidade e para a curiosidade humana.“ - Documento interno da Loja “La Triple Unión”, no Oriente de Marselha (BnF com assinatura FM2 292), numeração interna da loja 1803-1813, intitulado “Artigo Secreto Anexo a Minha Carta de Primeiro de Setembro de 1087”.


Meus Bem Amados Irmãos, lembremo-nos sempre da passagem em Marcos 7:31-27


“Naquele tempo, Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole.


Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”


Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.”


Sejamos pacientes e amorosos; como diz o Autor Sagrado: "Ele tem poder ilimitado para salvar aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus, já que está sempre vivo para interceder por eles (semper vivens ad interpellandum pro eis)" (Hb 7, 25).


No fim, todos teremos que dar conta dos talentos que o Senhor nos confiou (Mt 25:14-30).


I.C.J.M.S.


Que Nossa Ordem Prospere !!!


Nota:


Tenhamos em mente que não estamos nos referindo a maçons anti-cristãos mas a maçons não cristãos.

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