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Para que Serve a Maçonaria ?

O texto a seguir foi originalmente publicado no blog orthodoxeoccident.blogspot.com. Trata-se de uma reflexão do Padre Ortodoxo Jean-François Var, um verdadeiro gigante cujo trabalho incansável representou valiosa contribuição para o entendimento do verdadeiro espirito que deve subsistir no Rito Escocês Retificado. Suas analises cuidadosas e suas reflexões bem fundamentadas jogaram luz sobre muitos assuntos cuja narrativa daqueles que se colocam de forma clara como pensadores anticlericais, ou mesmo anticristãos, persiste em lançar a maçonaria cristã em um carrocel de trevas.


Através de sua escrita, o Padre Var ofereceu uma visão única e perspicaz do Regime Retificado, destacando nuances e detalhes que muitas vezes passam despercebidos aos homens de nosso tempo (tão mergulhados na forma "morna" e "diluida" com que o cristianismo atual nos é apresentado - muitas vezes pelas próprias autoridades religiosas). Sua abordagem revelou não apenas seu profundo conhecimento do assunto, mas também sua habilidade de comunicar de forma clara e acessível, tornando seu trabalho uma leitura valiosa para aqueles que buscam uma compreensão mais profunda da maçonaria e de sua união (indisoluvel) com os valores cristãos.


Em um mundo onde a desinformação muitas vezes prevalece, o trabalho do Padre Var se destaca como um farol de sabedoria e discernimento. Suas reflexões não apenas desafiam conceitos errôneos, mas também nos convidam a refletir mais profundamente sobre a complexidade do Regime Retificado. Como resultado, sua contribuição é uma referência inestimável para aqueles que buscam uma compreensão e aprofundamento, tanto na vida maçônica como na vida cristã.


Vamos ao texto:


Um amigo, um maçom experiente, compartilhou comigo o seguinte discurso proferido por um grande orador provincial cerca de dez anos atrás. A mensagem que ele contém me parece conter verdades que ainda são boas de serem ouvidas.


Há mais de dois séculos, nosso famoso irmão Joseph de Maistre questionou:


"De onde vêm esses rituais que aparentemente não têm sentido, esses símbolos que não representam nada? Homens de diferentes lugares se reúnem (talvez por séculos) para se alinhar, jurar nunca revelar segredos que não existem, fazer gestos peculiares e depois sentar-se à mesa? Por que não podemos simplesmente nos divertir, comer e beber sem mencionar nomes como Hiram, o Templo de Salomão e a estrela flamejante?"


São perguntas intrigantes, perguntas importantes. E lamento por aqueles entre nós que nunca se fizeram a pergunta: Afinal de contas, a maçonaria, para que serve?


Posso ir mais longe? Sim, posso. Qual é o jovem maçom, ou até mesmo o maçom mais antigo, que não se deparou com situações que deixam seu entusiasmo inicial abalado? Situações em que a fraternidade parece se resumir a camaradagem ruidosa, semelhante àquela entre amigos de escola ou de exército? Mesmo em reuniões formais, a busca pela verdade, que tanto nos orgulhamos, frequentemente se torna uma afirmação da nossa própria verdade, acompanhada do desprezo pela opinião dos outros, levando a disputas acaloradas que ferem a fraternidade. A igualdade, que tanto pregamos, muitas vezes parece ser deixada de lado em uma corrida por honras e um desejo de ser notado, o que é conhecido como "cordonnite". A autoridade que é inerente a uma hierarquia pode facilmente se tornar autoritarismo arbitrária e desejo de poder. A caridade e a benevolência geralmente resultam em belas palavras, mas raramente em ações concretas, começando com atenção e cuidado em relação aos nossos irmãos da mesma loja.


[Nota do Blog Primeiro Disicpulo: O termo "cordonnite" é um termo maçônico frances, uma espécie de "giria maçônica" que remete a uma doença imaginária sofrida pelos maçons apreciadores de honras e posições, que colecionam e prontamente se exibem com cordões e outras decorações correspondentes.]


Para alguns de nós, que fazem parte da Maçonaria, pode ser uma experiência dolorosa descobrir as fraquezas dessa irmandade e até mesmo experimentar a traição de "falsos irmãos". Há muitas situações maçônicas que podem desapontar aqueles que têm expectativas elevadas.


Sim, meus irmãos, a Maçonaria pode parecer uma comédia humana, como aquelas descritas por Balzac. É um retrato das fraquezas, falhas e até mesmo vícios humanos, incluindo as nossas próprias, já que somos tanto observadores quanto participantes.


Diante disso, muitos se perguntam: "Afinal, para que serve a Maçonaria? Por que gastar tanto tempo, esforço e dinheiro nisso?"


Eu não vou esconder isso de vocês, meus irmãos. Eu fui um daqueles jovens maçons desiludidos no passado. Agora, como um maçom experiente, gostaria de dizer a esses jovens maçons, e talvez a alguns de vocês que me ouvem hoje, o que um veterano me disse naquela época, um veterano cuja experiência maçônica o enriqueceu com sabedoria e serenidade, adquiridas apesar das dificuldades. Seu conselho era mais ou menos assim:


"Meu irmão, tudo o que você diz é verdade, é uma observação justa, mas você não está enxergando o quadro completo. Concentrando-se apenas nas decepções, você esquece todos os irmãos notáveis, que fazem grandes contribuições à Ordem e aos seus irmãos. Esses irmãos não buscam reconhecimento, pois acreditam que estão apenas cumprindo seu dever. Eles estão sempre presentes para ajudar, ensinar, encorajar e confortar seus irmãos quando necessário, sempre com grande discrição. São esses irmãos notáveis que você não teria a oportunidade de conhecer, se não fosse pela Maçonaria."


Então, para que serve a Maçonaria? Em primeiro lugar, como o pastor James Anderson escreveu nas Constituições, ela é o "Centro da União e o meio de estabelecer uma verdadeira amizade entre pessoas que, de outra forma, permaneceriam distantes para sempre". Isso, meus irmãos, é uma experiência que vocês provavelmente já tiveram ou, se não, terão no futuro.


Em sua busca legítima por questionar, meu irmão, você passou do otimismo para o pessimismo. No entanto, a verdade é que a Maçonaria nos ensina a lucidez, a habilidade de ver os seres humanos como realmente são - nem completamente bons, nem completamente maus. E, quando falo de seres humanos, estou falando de todos nós, porque compartilhamos com os outros seres humanos, nossos irmãos, características comuns, incluindo defeitos e qualidades.


Este é um dos grandes ensinamentos da Maçonaria. Ela nos ensina a nos conhecermos, e nos conhecermos é o primeiro passo para entender os outros. Na iniciação ao grau de Companheiro, somos convidados a nos olhar e nos ver como realmente somos. E na cerimônia de instalação, somos aconselhados a "imitar o que é louvável nos outros e corrigir em nós o que vemos como defeitos nos outros". Este é um conselho de grande valor.


Além disso, a Maçonaria nos ensina o valor das provações, ou seja, que algo positivo pode surgir de situações negativas. Por exemplo, a traição de "falsos irmãos" pode ser vista como uma provação, mas também pode ser uma oportunidade para crescer. A redenção por meio de Cristo, por exemplo, exige a traição de Judas antes de acontecer.


Finalmente, você deve entender que os maçons não são melhores nem piores do que outros seres humanos. Eles não são super-humanos. O que os diferencia dos outros, a quem chamamos de profanos, é o desejo genuíno de se aprimorar e se tornar uma pessoa melhor. A Maçonaria não é uma sociedade de seres perfeitos, mas uma escola de aperfeiçoamento. Ela fornece as ferramentas e ensina como usá-las, mas depende de cada um de nós aplicá-las. Isso requer esforço, paciência, perseverança, discernimento e constância. Se as dificuldades e obstáculos nos desencorajam em vez de nos motivar, talvez nossa vocação não seja tão forte.


Além disso, a Maçonaria não busca criar super-homens. Ela visa ajudar os homens a se tornarem autênticos, verdadeiros homens. Ela nos ensina a praticar as virtudes, não por uma questão moral, mas como ferramentas para construir nossa humanidade. Isso envolve o autodomínio, a eliminação de comportamentos inumanos e o aprimoramento de nossa humanidade. Tudo isso se resume a um ato de doação de si mesmo. Através da doação de si mesmo, superamos o egoísmo que nos aprisiona e nos torna estéreis, nos impedindo de ser autênticos e completos.


Essa doação de si mesmo assume duas formas na Maçonaria: o amor fraternal, que se baseia na caridade e resulta em beneficência, e o amor à verdade, o amor a Deus, que nos guia para a busca da verdade e da sabedoria. Essas são as duas dimensões da condição humana que buscamos restaurar como maçons: a Fraternidade e a Verdade.


Essas são as reflexões que nunca me canso de compartilhar com todos os irmãos, muitas vezes reconhecendo o jovem maçom perturbado que fui no passado. E achei apropriado compartilhá-las com vocês, pela última vez que falo neste local.


Então, para que serve a Maçonaria? Ela pode ser, como a língua de Ésopo, a melhor ou a pior das coisas. Depende exclusivamente de nós, meus irmãos, torná-la a maior força do bem, buscando nosso próprio aprimoramento.


I.C.J.M.S.

Que Nossa Ordem Prospere !!!













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