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Sobre a Santíssima Trindade no Regime Escocês Retificado

Atualizado: 27 de out. de 2020

[“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai… Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho ...”] - Profissão de Fé Niceno Constantinopolitana.


[“Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor… creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica … ”] - Profissão de fé Católica.


[ “… creio firmemente na existência de um só Deus, criador e princípio único de todas as coisas, cuja ação toda poderosa se manifestou no universo pela tripla essência, poder e ação indivisível do Pai, do Filho e do Espírito Santo…“] - Profissão de Fé dos C.B.C.S.


[ “… Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” ] - Ritual de Abertura do Capítulo de C.B.C.S.



A Indivisibilidade da Santíssima Trindade



Ao estudarmos o “Tratado de Reintegração dos Seres” nos deparamos com a seguinte proposição:


“Se fosse possível admitir personalidades distintas no Criador, seria preciso aceitar, então, quatro em vez de três, relativamente à quádrupla essência divina, que já conheceis … E através disso que concebemos a impossibilidade de que o Criador seja dividido em três naturezas pessoais “ e prossegue: “Essas três pessoas estão em Deus apenas relativamente às suas operações divinas e não se pode concebê-las de outro modo sem degradar a Divindade, que é indivisível e que não pode ser susceptível, de modo algum, de ter em si várias personalidades distintas umas das outras...”


Não surpreende que tal discurso, que parece advir do monarquianismo em sua face modalista (1), tenha sido fortemente negado por Jean Baptiste Willermoz que, movido pelo desejo de eliminar os erros cristológicos / trinitários de Martinez (erros que empurravam a Doutrina da Reintegração a uma teorização teológica de caráter heterodoxo), se viu obrigado a dirigir seus esforços no sentido de eliminar qualquer vestígio herético que estivesse nela agregada e que a impedisse de encontrar conformidade junto a sã doutrina teológica e, consequentemente, a qualquer forma de iniciação cristã aceitável. A este trabalho, dedicou-se Willermoz, ainda na apresentação das “Lições de Lyon”, atitude que sugere a existência de uma determinação e de uma reflexão anterior sobre o tema, amplamente madura, reiterando:


“O quadro das três poderosas faculdades inatas ao Criador nos dá, ao mesmo tempo, uma ideia do mistério incompreensível da Trindade: O pensamento - atribuído ao Pai, o verbo ou intenção - atribuído ao Filho, a operação - atribuída ao Espírito. Assim como a vontade segue o pensamento e a ação é resultado do pensamento e da vontade, assim o verbo procede do pensamento e a operação procede do pensamento e do verbo cuja adição misteriosa desses três números também chega ao número senário, princípio de toda criação temporal. Reconhecereis por meio desse exame tres faculdades realmente distintas, procedendo uma das outras e produzindo resultados diferentes, e, sem dúvida, todas reunidas em um mesmo Ser único e indivisível.”


Essa caminhada em direção a uma maior “justeza dos fatos” empreendida por Willermoz é da mais alta importância, não apenas por conter em si a virtude necessária para “migrar” a doutrina de Martinez do quaternário para o trinitário, mas também para reafirmar, com grande rigor, o lugar fundamental das Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo dentro da Santíssima Trindade. Tal iniciativa não era apenas uma espécie de “preocupação” em desviar-se da fé Católica, mas responde amplamente a consciência do significado próprio do Dogma da Trindade no contexto da economia espiritual que deve operar-se em cada alma, já que todos somos chamados, como Filhos Adotivos de Deus por meio da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a convertemo-nos em partícipes da Natureza Divina; conforme nos diz II Pedro 1:3,4 Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; E nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. Logo, nos é necessário criar conformidade em nosso caminho rumo a divinização (2), sobre o que é a Trindade Divina a fim de que possamos nos deixar penetrar pelo mistério da União Hipostática que, pela humanidade de Cristo, nos une à divindade, mesmo que de modo acidental (3).


Quando cremos então que é necessário aprofundarmo-nos nos conhecimentos relativos a dimensão trinitária de Deus, não raramente escutamos que a proclamação do Dogma da Trindade foi algo tardio, que surgiu devido a algumas manobras do Imperador Constantino que transformaram o Concílio de Nicéia, no ano de 325 de nossa era, em uma corte passiva de registro, submetida aos pontos de vista imperiais em matéria de teologia. Essa crítica se expande de tal maneira, que alguns chegam a questionar a essência trinitária da fé dos evangelhos, sob o pretexto de que seria apenas uma adição autoritária estranha a pureza da Revelação, em total contradição com o verdadeiro espírito do “cristianismo primitivo”, que imaginam, obviamente de forma “pueril e romântica”, livre de todo tipo de aspecto dogmático possível, deixando assim a porta amplamente aberta a um conjunto de especulações (as vezes bem fundamentadas, outras vezes simplesmente risíveis) que pode abarcar toda e qualquer forma de teorização desde que essa não contenha a visão oficial de nenhuma das religiões cristãs institucionalizadas (difícil entender todo esse medo); e isso não obstante o fato de que o Regime Escocês Retificado, como bem sabemos, deve receber em seu seio (ao menos em teoria) somente a Cristãos ou a “homens bem dispostos a sê-lo” - mas certamente quem busca de forma tão desesperada combater a teologia, sem nela sequer tentar se aprofundar, não parece tal homem.


Agora, ainda que pareça óbvio dizê-lo, é necessário reafirmar com todas as forças possíveis que não se pode ser cristão e não trinitário, como compreendeu perfeitamente Jean Baptiste Willermoz e os irmãos do século XVIII, sob a pena de recusar a essência central da Revelação e, por conseguinte, condenar-se a praticar um Regime Escocês Retificado que esvaziaria de um de seus fundamentos espirituais de maior importância, reduzindo-se então a uma mera casca vazia.


Temos consciência que a palavra “dogma” pode soar agressiva a alguns ouvidos contemporâneos para os quais nada supera o valor da “liberdade” (como se não estivessemos em estado de queda e - logo - de “aprisionamento”), mas insistimos - parafraseando nossos Pais Fundadores - que só pode haver liberdade autêntica quando apoiada na Verdade e, no caso do Regime Retificado, essa verdade leva a um nome, o do Divino Reparador dos Mundos que veio a nós para nos resgatar e nos ensinar (pois todos os homens desde Adão estavam retidos prisioneiros sob as cadeias do infernal tirano que originariamente se rebelou contra o Criador) a maravilhosa lei do Deus de Amor.


Em tempo oportuno esse assunto será aprofundado em nosso blog.


I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!


Notas


1 - O Monarquianismo Modalista ensina que a unidade de Deus é incompatível com uma distinção de Pessoas dentro da Divindade. De acordo com o modalismo, Deus manifestou-se diversamente como o Pai (principalmente no Antigo Testamento), como o Filho (principalmente desde a concepção de Jesus até a Sua ascensão) e como o Espírito Santo (principalmente após a ascensão de Jesus ao céu). O Monarquianismo Modalista tem suas raízes no falso ensinamento de Noeto de Esmirna por volta do ano 190. Noeto se chamou de Moisés e chamou seu irmão de Arão, e ele ensinou que, se Jesus era Deus, então Ele deve ser o mesmo que o Pai. Hipólito de Roma se opôs a essa falsidade em seu "Contra Noetum". Uma forma primitiva do Monarquianismo Modalista também foi ensinada por um sacerdote da Ásia Menor chamado Práxeas, que viajou para Roma e Cartago por volta de 206 d.C. Tertuliano rebateu o ensinamento de Práxeas em “Contra Práxeas” por volta de 213. O Monarquianismo Modalista e suas heresias correlatas também foram refutadas por Orígenes, Dionísio de Alexandria e o Conselho de Niceia em 325.


2 - O processo de divinização aqui referido é o da união hipostática graças ao mistério da encarnação de Nosso Senhor.


3 - Se bem que, desde aquele início no qual o Verbo se fez carne no útero da Virgem, jamais tenha existido entre as duas formas divisão alguma e durante todas as etapas do crescimento do corpo as ações sempre tenham sido de uma única pessoa, todavia não confundimos, por mistura alguma, o que foi feito de maneira inseparável, mas percebemos pela qualidade das obras que cada coisa seja própria de cada forma… Embora, de fato, seja um só o Senhor Jesus Cristo e, nele, uma única e a mesma seja a pessoa da verdadeira divindade e da verdadeira humanidade, compreendemos todavia que a exaltação com a qual, como diz o Doutor dos gentios, Deus o exaltou e lhe deu um nome que supera todo nome, se refere àquela forma que devia ser enriquecida com o aumento de tão grande glorificação. (DH 317 e 318) - Concilio de Calcedônia.




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