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Todo Simbolo Expressa Uma Verdade Não Manifesta

  • Foto do escritor: Primeiro Discípulo
    Primeiro Discípulo
  • há 12 horas
  • 6 min de leitura

Temos a felicidade de apresentar aos nossos leitores mais um excerto da magnífica obra de Ramón Martí Blanco e Eduardo R. Callaey, "Conversaciones en el claustro: sobre el Régimen Escocés Rectificado y la masonería cristiana". Dessa vez, os autores nos conduzem a uma reflexão profunda e serena sobre a natureza do símbolo e sua íntima relação com a fé cristã, sustentáculo e alma de nossa Ordem. Raramente encontra-se em textos maçônicos tamanho convite à contemplação, chamando-nos a transcender o mero estudo historicista e nos  conduzindo a tocar as vivas raízes da espiritualidade contida na maçonaria cristã.


O simbolismo, presente em todos os ritos, poucas vezes encontra a mesma profundidade que possui no Rito Retificado; aqui, o simbolismo não se reduz a um mero conjunto de imagens, mas revela-se como um meio pelo qual se manifesta uma verdade superior, uma realidade transcendente que só pode ser plenamente compreendida à luz da fé revelada. Assim, o diálogo aqui apresentado nos recorda que a verdadeira força do símbolo reside em sua capacidade de conduzir o maçom a uma experiência viva do mistério divino, não como uma abstração distante, mas como uma presença que transforma e orienta a vida em direção ao âmago do cristianismo: o próprio Cristo Reparador.


Desejamos que este momento de estudo e este convite à meditação fortaleçam em nossos corações a consciência da responsabilidade que nos foi confiada: sermos guardiões da tradição e testemunhas fiéis de uma fé que não se curva às tortuosas interpretações do pseudoesoterismo ou às superficialidades que tantas vezes desfiguram o verdadeiro mistério. Que, assim, possamos perseverar no caminho da verdadeira iniciação, aquela que conduz à transformação interior e à união com o Grande Arquiteto do Universo, fonte suprema de toda luz e sabedoria.


Vamos ao Texto:


Interlocutor 1 - Tua resposta, Querido Irmão, leva-me a colocar-te outra questão que tem sido motivo de minha profunda meditação. É evidente que, em nossa doutrina Retificada, o Grande Arquiteto do Universo é Deus, sem sombra de dúvida. Não se trata de um símbolo, mas do próprio Pai. Alguns maçons reduzem este princípio a um mero símbolo e afirmam que, na Maçonaria denominada precisamente “simbólica”, cada um de seus arquétipos — denominados justamente “símbolos” — pode ser visto sob diversas perspectivas. Nossa Ordem possui uma “Classe Simbólica”, composta por quatro graus: Aprendiz, Companheiro, Mestre (estes três comuns a todas as ordens maçônicas) e um quarto grau, o de Mestre Escocês de Santo André. Mas surge a questão: o símbolo é uma mera ferramenta para o trabalho intelectual? Existe, no nosso simbolismo, um referencial transcendente que o eleve a instrumento de espiritualidade, para além da condição meramente especulativa, tantas vezes defendida?


Interlocutor 2 - Nem Deus, nem o Evangelho — que para os cristãos é o seu Livro Revelado — são um símbolo. “A Bíblia não é um emblema” [1], afirma a Instrução por Perguntas e Respostas do Grau de Aprendiz do Rito Escocês Retificado. Recordo-me aqui de um estudo do nosso Irmão e amigo Jean-François Var (O Trabalho do Maçom Retificado), que trata exatamente desse tema. Para os cristãos — diz Var em seu trabalho, e eu acrescento: para os maçons retificados — a Bíblia e o Evangelho que ela contém não são símbolos, mas uma realidade espiritual concretizada. Para os judeus, a Torá é uma presença física de Deus, é a materialização de Sua Palavra. Para nós, cristãos, é algo análogo, com a particularidade de que essa Palavra, esse Verbo de Deus, é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. O Evangelho, portanto, é uma forma de Encarnação do Verbo, ou, para tornar as coisas ainda mais palpáveis, é o próprio Verbo Encarnado, o Cristo, fisicamente presente. Do ponto de vista da substância, há equivalência absoluta entre a presença de Cristo no Evangelho e Sua presença na Eucaristia. A maneira — ou, para empregar um termo da escolástica, a forma — difere, mas a substância é idêntica [2].


Portanto, é na união com Cristo — não apenas espiritual, mas também fisicamente, pelo contato de nossa mão com Sua Presença — que contraímos nosso compromisso. A adesão exige e o compromisso sela a “fidelidade à Santa Religião Cristã” e a todas as verdades que ela ensina, tendo como centro, e em primeiro lugar, a Encarnação do Verbo, proclamada — e com que esplendor! — no Prólogo do Evangelho de São João, sobre o qual fazemos nosso juramento.


A maçonaria especulativa está enferma do seu próprio nome. O pensamento humano, iluminado apenas por si mesmo, não pode senão gerar monstros. O intelecto, quando nega qualquer outra luz além da sua própria, conduz inevitavelmente à dispersão — o que, por outro lado, é absolutamente contrário à principal aspiração maçônica —, perdido na interminável multiplicidade de ideias que é capaz de gerar. Sem o referencial da Bíblia e do Evangelho — que, como dissemos, de modo algum são símbolos —, sem esse ordenamento superior, é natural que tudo passe a ser visto como meramente simbólico, e consequentemente interpretado da forma que melhor nos convier.


Para a Ordem Retificada, tal como praticada pelo Grande Priorado da Hispânia, toda a simbologia maçônica — os utensílios e ferramentas — deve ser estudada e interpretada à luz do Evangelho. O símbolo tem como finalidade velar uma verdade de ordem superior, e nossa mente e nosso intelecto devem trabalhar sobre ele, refletindo, para transcender o próprio símbolo e alcançar a Verdade que ele oculta. Mas esse trabalho só pode ser fecundo se estiver iluminado por uma Luz de ordem superior. Caso contrário, faremos do símbolo um fim em si mesmo, e giraremos descontroladamente ao redor de seu vértice, sem direção nem medida. Se assim procedermos, então a maçonaria especulativa se reduz exatamente a isso: um conjunto de meras especulações.


Como dizia Var em seu trabalho de 1998 [3], nós, maçons, estamos consagrados “irrevogavelmente” a Deus enquanto maçons, pelos trabalhos que vamos realizar na condição de tais. E aqui não há nada de especulativo. Devemos estar atentos a um vício que se tornou um verdadeiro “tic” na linguagem maçônica. Os maçons falam muito sem refletir. Quantas vezes ouvimos muitos deles encherem a boca com expressões como “criar o espaço sagrado” ou “criar o tempo sagrado”? Não é que, em si mesmas, as noções de espaço e tempo sagrados sejam falsas, já que, em princípio, o maçom de tradição sempre trabalha “para a Glória do Grande Arquiteto do Universo”. Porém, é preciso reconhecer a realidade: para a maioria, essas expressões não passam de meras fórmulas de cortesia. E o que muitos, mesmo sem plena consciência — o que agrava ainda mais a situação —, verdadeiramente acreditam, é que, por meio dos ritos de abertura da Loja, os maçons seriam capazes, como que por uma fórmula mágica, de criar o sagrado ou algo sagrado. Este é um estado de espírito extremamente pernicioso — para não dizer sacrílego —, e as expressões que o traduzem devem ser vigorosa e definitivamente proscritas.


Essas expressões precisam ser rejeitadas, na medida em que estão em total ruptura com a tradição maçônica — tradição à qual o Rito Escocês Retificado permaneceu fiel, enquanto outros, em maior ou menor grau, dela se desviaram.


Notas: 1 - Nota do Blog Primeiro Discipulo: Essa sentença do Ritual de Aprendiz nos oferece uma importante correção de rota à tendência, por vezes difusa em ambientes simbólicos ou iniciáticos, de reduzir tudo a "símbolo", esvaziando assim o conteúdo real das verdades reveladas. Um dos maiores prazeres que extraimos em pertencer a Ordem Retificada é a gratidão e admiração que recebemos de afirmações tão claras daquilo que constitui o cerne da fé cristã: o Verbo se fez carne (Jo 1,14), não como figura ou representação, mas como realidade substancial e histórica, plenamente acontecida. Afirmar que "a Bíblia não é um emblema" é tocar um ponto vital da teologia cristã. A Revelação divina não se exprime apenas por ideias ou imagens elevadas, mas por uma Palavra viva, eficaz e sacramental, que comunica aquilo que expressa. Na economia cristã da salvação, não há dualismo entre o símbolo e o real, mas sim uma sacramentalidade que une forma e substância, sinal e conteúdo.


2 - Nota do Blog Primeiro Discípulo: Convém, contudo, cuidar para que tal linguagem não dê margem a equívocos: não se afirma uma presença sacramental do Verbo nas páginas da Escritura à maneira da Eucaristia, mas sim que a Sagrada Escritura é inseparável da Pessoa de Cristo, cuja Palavra nela ressoa viva e eficaz. O contato reverente com o Evangelho — especialmente quando acolhido em espírito de fé e oração — é contato com o próprio Cristo, não de modo físico ou substancial, como na Eucaristia, mas espiritualmente real. A Bíblia é, pois, mais do que um conjunto de escritos sagrados: é uma epifania contínua do Verbo, que se comunica à Igreja e à alma fiel.


3 - Editado posteriormente em 2014, o livro: La franc-maçonnerie à la lumière du verbe, Jean-François Var; pág. 260.


I.C.J.M.S. Que a Ordem Prospere !!!

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