O Pai Fundador do Regime Escocês Retificado, arquiteto chefe desse majestoso edifício que permanece de pé não obstante as vicissitudes que se lhe opõe no decorrer da existência, Jean Baptiste Willermoz, foi um dos maiores gigantes intelectuais que a Maçonaria teve a honra de abrigar em suas fileiras. Figurando com destaque entre as mais eminentes e consideráveis personalidades que ajudaram a fincar as bases da evolução da Maçonaria Francesa (mas não somente ela) destacou-se de forma especialíssima por sua ativa e transformadora participação dentro da Ordem aliada a sua plena disposição de colocar-se sempre à serviço de sua cidade, da religião e da beneficência (chegando a constituir verdadeiro exemplo cristão para maçons e para não maçons). Mas não é somente o brilhantismo intelectual, a capacidade organizacional ou vida devocional e caritativa de Jean Baptiste Willermoz que chamam a atenção: Os textos que registram sua participação no Convento de Wilhelmsbad em 1782 demonstram que ele tinha uma capacidade de apreensão metafísica fora do alcance da maioria dos maçons da sua época (confirmada frequentemente por meio das magníficas conclusões e reflexões encontradas em correspondências trocadas entre ele e os outros Pais do Regime Retificado, bem como pelas instruções que legou aos Professos).
Podemos dizer sem medo de exageros que, entre os escritores maçônicos do século XVIII que conhecemos, Willermoz foi o mais importante teórico metafísico a emprestar sua pena a Ordem. Sua concepção metafísica sobre a maçonaria ultrapassa as questões morais e sociais e vai ao encontro de uma abordagem puramente espiritual e esotérica, sendo uma concepção que contempla o homem como um todo: seu passado, seu presente e seu porvir, isso dado ao fato que ela é relativa ao SER do homem, sendo então uma concepção totalmente ontológica, abraçando a totalidade dos tempos (do fim ao início), o que se antecipa ao trabalho teórico de René Guénon na medida que já comporta em si a ideia de uma Revelação Primitiva saída de uma iniciação primordial, da qual a iniciação maçônica é tão somente uma modalidade. Essa “visão perene” (verdade metafísica una, supra-formal e transcendente) é também exposta por Joseph de Maistre em suas memórias dirigidas ao Duque Ferdinand de Brunswick-Lunebourg, Grão Mestre da Maçonaria Escocesa da Estrita Observância, por ocasião do Convento de Wilhelmsbad - 1782; que ao descrever o “cristianismo transcendente” diz:
“A verdadeira religião tem mais do que dezoito séculos; nasceu no dia em que nasceram os dias. Voltemo-nos à origem das coisas e demonstremos, por meio de uma filiação incontestável, que nosso sistema traz ao depósito primitivo os novos dons do Grande Reparador (Jesus Cristo)”.
É interessante recordar que no século XVIII a metafísica era considerada equivalente a uma explicação racional da realidade e que somente no século XIX alguns passaram a tê-la por pura especulação. A tradição escolástica identificou o objeto de estudo da metafísica com o da teologia, ainda que tenha distinguido as duas pelos métodos usados: para explicar Deus, a metafísica recorre à razão e a teologia à revelação. Tendo sido versado em ambas as ciências podemos afirmar que Willermoz foi, no pleno sentido da palavra, um verdadeiro sábio.
E foi justamente sua sabedoria (somada a inspiração direta) que permitiu, mediante toques suaves, que ele distribuísse os elementos do conhecimento e da compreensão das Revelações Divinas em seu sistema iniciático, polvilhando-os entre os diversos graus para que sobre eles fosse projetada uma luz que os permitisse aparecer em toda sua integra profundidade e clara formulação.
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
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