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A Classe Secreta dos Professos do Regime Escocês Retificado - Parte IV

Atualizado: 19 de set. de 2022

Extraído do Capítulo VII do livro "Un Místico Lyonés y los secretos de la Francmasonería, Jean Baptiste Willermoz (1730-1824)", de Alice Joly, Edições Télètes, Paris, 1986. Reprodução integral da edição Mâcon de 1938.


Faltam-nos os cadernos utilizados para a instrução dos Professos. Tudo o que nos resta do plano de instruções consiste em algumas páginas, ainda assim incompletas[1]. Uma coisa é certa: a doutrina dos Professos não é, de forma alguma, original; ela é extraída diretamente dos ensinamentos de Pasqually. Ao ensinamento de seu mestre, Willermoz fez apenas um acréscimo: A engenhosa filiação que faz remontar aos filhos de Noé a origem das iniciações secretas, a qual forma a lenda do grau da Profissão; no entanto, mesmo isso, era somente um desenvolvimento de uma das teses de seu mestre, não sendo uma adição original[2]. O trabalho efetuado nas conferências do Templo dos Elus Cohen em Lyon, as instruções compostas para os Professos, eram o resultado dos esforços que Willermoz havia realizado durante muitos anos para compreender a Doutrina da Reintegração e também para concilia-la, tanto quanto possível, com a ortodoxia católica[3].


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Aqui se confirma o que anteriormente já tínhamos dito; Willermoz não apenas seguiu a doutrina de seu mestre, ele a atualizou e a protegeu (ou ao menos tentou faze-lo) dentro do Regime Retificado. Há algo para se observar sobre a razão dele se esforçar em conciliar tal doutrina à ortodoxia católica ao invés de concilia-la ao pensamento protestante predominante dentro da ordem na época (os nobres ligados a Estrita Observância na época eram de maioria protestante), no entanto trataremos disso no futuro.]


Assim como o Cohen, o Professo aprendia que Deus é uno, trino e quádruplo, segundo se considere sua potência ou sua natureza; que o mundo físico foi criado após a revolta dos espíritos perversos para ser deles uma prisão; que a matéria é de essência trinitária e é formada pela combinação de três elementos: sal, enxofre e mercúrio. Que toda matéria será finalmente reabsorvida levando ao desaparecimentos de todos os seres do mundo mineral, vegetal e animal; que todos os seres são divididos em quatro classes, cada vez mais afastadas do centro divino, conforme sua missão seja mais temporária e sua forma mais material; que é preciso distinguir entre os seres que seriam emanados, que seriam instrumentos passivos da vontade divina, e os que seriam emancipados e gozariam de livre arbítrio, finalmente, que duas forças antagônicas (bem e mal) estariam em ação universo.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Em futuro breve faremos uma postagem demonstrado as absurdidades da crença Cohen se comparada com o clássico magistério cristão. Mas nesse momento especifico chamamos atenção para a questão dos três elementos na criação, razão pela qual o candidato é submetido a prova com apenas três elementos (ao invés de quatro) durante a recepção no primeiro grau.]


A história do destino do homem tinha um lugar importante na iniciação. Sua narrativa seguia o mesmo esquema de Pasqually no longo desenvolvimento de seu tratado, mas de uma maneira mais clara e mais audaz no que tange a certos pontos delicados. Willermoz ensina que o homem foi criado à imagem de Deus; superior a toda natureza espiritual, temporal e material, além de poderoso (em toda acepção do termo) para ser “um meio reconciliador para o princípio do mal”, mas que falhou em sua tarefa, sendo punido pela sua prevaricação com a morte. Morte espiritual, felizmente. Após a sua queda, ele se tornou um ser passivo e "monstruoso" devido à aliança anormal do espiritual e do material que constitui sua natureza degradada. “Seu crime é a fonte de todos os males que afligem a humanidade.”. O homem tem apenas uma tarefa: reconciliar. Esta tarefa não é impossível, em princípio, porque “Adão recebeu uma ajuda muito poderosa” e porque a obra de Cristo “Divino Reparador Universal” e seu ensinamento - cujo significado secreto só foi conhecido pelos seus discípulos - abre caminho para nós e nos promete sucesso em tal empreendimento. Os emblemas maçônicos são trazidos de volta a essa mística devendo ser interpretados por meio dela. O Templo de Salomão, após os misteriosos planos recebidos de Davi e executados por Salomão com a ajuda de Hiram e dos primeiros maçons, foi construído à imagem do homem e do universo. Estudar os símbolos do Templo é estudar um e outro. Alguns elementos da aritmosofia, o sentido dos números 3, 6 e 9 por exemplo, e do número 4 (divino) completavam a instrução do Grande Professo[4].


Willermoz ao compor a doutrina dos Professos, estava apenas repetindo, de uma forma mais condensada, suas antigas convicções; tampouco teve algum escrúpulo em empregar o vocabulário e as expressões típicas de seu finado mestre. No entanto, ele não transmitiu o ensinamento de Pasqually por completo. Ele distinguia duas partes em seu conhecimento secreto: uma “histórica e teosófica" da qual ele havia feito “um resumo preciso” para uso de seu grau de Professos, a outra contendo noções sobre “classes de seres espirituais” e “planos de operações” que ele não acreditava ter o direito de dispor[5].


Tanto a geografia como a cosmografia mística do universo singular de Pasqually, assim como a parte prática, as orações, as operações teúrgica e todos os sistemas de interpretação, números, hieróglifos e caracteres que permitiam a compreensão dos “passes”, não eram ensinados por completo na terceira classe. O Professo aprendia apenas a teoria acerca da história do mundo e do homem, ao contrário de um Cohen que teria a oportunidade de se comunicar com seres espirituais, intermediários do Divino, e atuar misteriosamente na imensidão do universo.


Willermoz dava mais valor à prática do que à teoria. É por isso que designa o ensino da classe dos Professos sob o nome de "ciência religiosa", evitando a expressão "culto verdadeiro" ou "culto divino" (ambas utilizadas pelos discípulos de Pasqually). Assim distinguia com certa sutilidade o segredo dos Professos do segredo dos Cohen, podendo persuadir a si mesmo que não havia traído este último, posto que só comunicava aos seus discípulos a primeira parte. Por tal motivo, dizia aos Professos debutantes que o ensino que iriam receber servia-lhes apenas para inflamar sua imaginação e encantar sua curiosidade, sendo um método de vida espiritual contemplativo; enquanto que na verdade ele preludiava toda a magia cerimonial de Dom Martinez de Pasqually.


Estando, portanto, em ordem com sua consciência para poder ensinar a verdade, Willermoz decidia o avanço dos Professos na ciência uma vez que sabia de sua conduta e suas disposições. Em Lyon, a sua presença assegurava o bom andamento dos trabalhos do Colégio. Nas outras cidades mantinha correspondência pessoal com os discípulos mais interessantes.


O círculo de Chambery, em meio a um grupo harmonioso de alunos confiáveis e dóceis, trouxe uma nota discordante. Os saboyardos estavam, depois de 1774, em contínua relação com o Diretório de Lyon. Eram muito ávidos por instrução e desejavam ardentemente possuir documentos que explicassem o objetivo da maçonaria. Sua capacidade de distinguir nos documentos oficiais enviados pelo Grande Capítulo aquilo que era falso e inútil tinha em Antoine Willermoz[6] um interlocutor. poder-se-ia pensar que esses exigentes irmãos haviam acolhido com alegria a reforma de Lyon e a instituição da Classe dos Professos que substituia com uma teosofia ambiciosa as pitorescas lendas acerca da Ordem Templária. Com efeito, o irmão a. Floribus, Joseph de Maistre, logo foi seduzido pelo alimento mais substancial que essas novidades pareciam oferecer à sua curiosidade. Em 1779 ele foi a Lyon para instruir-se e fazer-se receber com seus amigos. Mas ao estudar as instruções recebidas, elas lhe pareceram muito arbitrárias, faltando-lhes clareza. Em junho de 1779, ele encarregou o irmão Revoire de ir a Lyon, levando um grupo de questões a ser esclarecidas pelo Colégio Metropolitano.


Willermoz respondeu-lhe muito rápido, mas de forma muito fria[7]. Recusava-se a explicar as origens da sua doutrina secreta e declarava que, para provar o seu verdadeiro valor, não era necessário senão assinalar como era harmoniosa e satisfatória. Isto era justamente o que Joseph de Maistre não aceitava. A doutrina não lhe parecia de todo coerente e ele comunicou isso a seu instrutor Lyones. Suas objeções, lógicas e espirituais, conduziam sobretudo para o dogma que ensinava que o homem devia manter distância dos espíritos perversos. Nesse caso, ele comparou o plano divino às "decisões de um almirante imbecil que, em vez de ir abater seus inimigos com seu grande navio, envia-lhes pequenos barcos para se divertir e ser derrotado". Exigiu então que seus escrúpulos fossem aplacados, e que seus questionamentos fossem esclarecidos, pedindo a Willermoz que viesse, ele mesmo, expor os pontos mais difíceis do ensinamento secreto.


Willermoz não se preocupou. Mandou escrever a Gaspard de Savaron que os saboiardos deveriam primeiro vir a Lyon para trabalhar com os seus Irmãos e neles encontrar inspiração. Em 15 de julho de 1780 Joseph de Maistre enviou um novo questionário a Willermoz. Provocando desta vez o mau humor de Willermoz, porém um pouco tarde, pois a carta que conhecemos é de 3 de dezembro. Willermoz não respondeu a nenhum dos questionamentos de Joseph de Maistre, limitando-se a condenar o espírito detestável que esse demonstrava. Recordou a Joseph de Maistre que a escola dos Professos não era uma escola de livre discussão; seu objetivo era se instruir para acreditar, mas o círculo de Chambery estava se instruindo para duvidar. A falha principal dos irmãos de Sabóia vinha, segundo Willermoz, de trabalharem muito com a razão e pouco com o coração; e quanto a Joseph de Maistre, sua falha provinha de sua falta de preparação e de sua ignorância. Ele não estava suficientemente maduro nem suficientemente instruído para provar o Fruto da Sabedoria.


Após esta diatribe, não há mais vestígios de relações íntimas entre Willermoz e o Conde de Maistre. Era uma oportunidade para os lyoneses colocarem em prática as disposições dos estatutos que permitiam que um discípulo fosse excluído da Ordem sem ter que ser avisado. Talvez tenha sido isso que levou o irmão a Floribus, cujo espírito crítico estava bem agitado, a uma sociedade onde todos tinham que pensar e agir de acordo com as instruções de apenas um dos membros[8].


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: O que foi narrado acima mostra um pouco mais sobre a personalidade controladora de Jean-Baptiste Willermoz e sobre a forma sectária e intransigente com a qual ele conduzia (ou tentava conduzir) o Regime a qual dera origem; em mais de um momento ele demonstrou não aceitar pensamento critico, objeções ou antagonismo por parte de seus irmãos (que ele as vezes parecia ter como discípulos). As exceções a isso só se faziam notar quando essas oposições surgiam da parte de membros mais proeminentes da Ordem, smj.]



Notas:


1 - Lyon, ms. 5475.


2 - Observe-se que as instruções de Pasqually dão origem à ideia de que é de sábio para sábio que o verdadeiro culto divino foi transmitido. As notas pessoais de Willermoz contém vestígios claríssimos da importância que essa ideia tem para ele; bem como da ideia da permanência da verdadeira doutrina sob a roupagem de cultos diversos.


3 - Alguns estudos, cópias e fragmentos de cartas conservados entre os documentos de Willermoz atestam esse esforço persistente. Pode-se citar: cópia de um sermão de Páscoa (1773), sobre a morte de Cristo e o estado do homem depois de sua morte. “Notas a examinar”, contendo reflexões sobre o Genesis, etc. Lyon, ms. 5526.


4 - Damos esse rápido resumo da doutrina dos Professos do “Quadro de Matérias da Iniciação Secreta”, Lyon ms. 5475, peça 3, o qual nos parece o mais antigo documento da doutrina dos Professos. Os outros fragmentos e resumos dos manuscritos citados diferem muito pouco (títulos gerais de seis cadernos. Resumo da doutrina secreta) e nos parece que foram concluídos em uma época mais tardia.


5 - Este é o ponto de vista que oferece a Charles de Hesse em uma carta de 22 de abril de 1781.


6 - Carta de Antoine Willermoz, 1.777, Lyon, ms.5525 p. 9.


7 - Carta de J.B. Willermoz a Joseph de Maistre, 9 de julho de 1.779. Dermenguen, Sueños, pp. 164-168.


8 - Cit. E. Dermenghen, Joseph de Maistre, místico, 923, Paris; e do mesmo autor, Joseph de Maistre, Memória inédita ao duque de Brunswick, 1.925 pp. 39 a 46. Ver também P. Vulliaud, Joseph de Maistre, Franc-maçon, 1.929.



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