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A Classe Secreta dos Professos do Regime Escoces Retificado - Parte III

Extraído do Capítulo VII do livro "Un Místico Lyonés y los secretos de la Francmasonería, Jean Baptiste Willermoz (1730-1824)", de Alice Joly, Edições Télètes, Paris, 1986. Reprodução integral da edição Mâcon de 1938.


A Profissão, segundo seus estatutos - Colégios e Grandes Professos.


A preparação do Convento Geral da Ordem Retificada toca a tal ponto a propaganda mística de Jean Baptiste Willermoz que fica difícil abordar o aspecto exterior do que aparece nos registros dos Protocolos do Diretório de Lyon sem nos lançarmos a alguma especulação acerca da mesma. Não se conhece muito bem a verdadeira inspiração desse círculo maçônico, e se conhecemos algo a seu respeito isso se deve às notas apresentadas acerca das sessões do Comitê (que temos aqui resumido). Sua verdadeira atividade, sua razão de ser, não se encontrava nos assuntos oficiais. A prova da falta de interesse de Willermoz pelas questões administrativas pode ser vista nos mesmos registros. Após 10 de dezembro de 1.778, as notas do Comitê Diretor da Provincia de Auvérnia foram redigidas de forma negligente. Numerosas páginas foram deixadas em branco e não foram substituídas; já os registros das sessões foram feitos em folhas soltas (a parte). O conjunto (como um todo) dá a impressão de desordem. A parte mais interessante da história dos Cavaleiros Benfeitores é a história da fundação e do desenvolvimento dos círculos dos Professos. Os graus característicos da Profissão, classe misteriosa somada aos graus ostensivos da Ordem Retificada, onde se guardaria o segredo da maçonaria primitiva, já estavam fixados antes da reunião de 1788; todavia se encontravam em estado de esboço. Quando os congressistas se dispersaram, Willermoz, com a ajuda de seus colaboradores, dedicou-se a dar os últimos retoques às regras e estatutos[1], assim como as instruções da Profissão e da Grande Profissão[2]. Neste trabalho, Perisse e Paganucci serviram unicamente como copistas; Willermoz decidiu tudo cuidando de cada detalhe.


O objetivo da instituição era iniciar aqueles dentre os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa que fossem julgados dignos do “conhecimento dos mistérios da antiga e primitiva maçonaria, assim como dignos de receber explicações sobre o significado dos símbolos e das alegorias maçônicas"[3]. Mas que tipo de Cavaleiro poderia ser julgado digno de ter acesso a este grau mais elevado e a seus segredos? Willermoz se preocupou em definir claramente quais eram as qualidades e os defeitos que determinariam a possibilidade de recrutar ou não um Cavaleiro para tal grau. Era necessário estabelecer regras claras, já que designados os primeiros professos, a eles caberia recrutar outros. O sujeito devia ser virtuoso, de boa reputação e possuir sólidos princípios religiosos. Carregar orgulho excessivo sobre seu nascimento, ser vaidoso quanto a seus talentos e ser demasiado inclinado às ciências naturais, eram más qualificações, quase proibitivas, assim como ter uma imaginação exagerada. Willermoz não queria que fossem escolhidos, portanto, espíritos tímidos e muito apegados aos preconceitos da época; Também proibiu personagens fracos e aqueles que poderiam ser culpados de frivolidade ou inconstância.


O artigo II dos estatutos descrevia assim a instituição:


“Os graus se realizam em dois tempos ou atos, que exigem em cada um compromissos particulares relativos a seu objetivo. O primeiro (dos Professos) destina-se unicamente a indicar a necessidade e o objetivo das iniciações, sendo apenas preparatório para o segundo. O segundo, chamado de Grande Professão, concede o título de Grande Professo. Cada uma dessas classes tem uma palavra particular para reconhecimento dos irmãos”[4].


Os Professos e os Grande Professos tinham a obrigação estrita de esconder sua qualidade como tais e, naturalmente, as instruções a que teriam acesso, tanto dos maçons comuns como dos Cavaleiros Benfeitores.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Não é necessário muito esforço intelectual para se constatar características sectárias na proposta ora apresentada. A palavra seita vem do latim secta e significa cortada, separada. Uma seita é a reunião de um grupo de pessoas cuja concepção de mundo peculiar própria deriva dos ensinamentos principais de um grupo maior (geralmente religioso) e dele se torna uma espécie de “variação” regida por ensinamentos ou interpretações diferentes do mesmo. Na maioria das vezes julga-se maior, melhor ou mesmo mais puro do que o grupo que lhe deu origem e, em todas as vezes, crê-se apto a transmitir um tipo de verdade que o outro falhou em transmitir.]


Depois de conhecidos os estatutos e os rituais, o cerimonial da Ordem era simples e totalmente impregnado de religiosidade, muitas das expressões originais e dos símbolos dos Elus Cohen eram nele utilizados.


No primeiro grau se dava uma reunião de Cavaleiros Professos já iniciados. O recepcionado pronunciava o seu compromisso e depois o assinava. Recebia então a instrução secreta e lhe era dada também a palavra de reconhecimento do grau. Tal compromisso era o mesmo que tinham assinado os membros do Convento de Lyon e a instrução dada era provavelmente a mesma de Turkheim lhes havia comunicado. Desta forma estava o Professo apto a compreender o que deveria entender por “mistérios da antiga e primitiva maçonaria”. Tratava-se de um sistema teosófico inspirado na Bíblia e cuja originalidade consistia em dar prosseguimento à essência mesma da Maçonaria e, mais ainda, a de todas as religiões da terra; a essência de toda verdade.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Não estamos certos acerca do quanto essa ideia de "essência de todas as religiões da terra” avançou dentro do Regime Retificado. Basta ver a instrução do grau de Mestre Escocês de Santo André onde se excluiria a possibilidade de um não cristão aderir às fileiras da Ordem: “Os quadros colocados sob teus olhos, as explicações que te foram feitas, e as instruções que tu vens recebendo há muito tempo, te fazem conhecer bastante àqueles que não professam a religião cristã, e que não são admissíveis em nossas Lojas.”]


Tal como na Sociedade dos Cavaleiros Benfeitores, os graus simbólicos eram apenas etapas preparatórias para a terceira classe; mesmo o grau de Professo nada mais era do que um “grau de espera”, um “tempo” em que os instrutores julgavam o valor e as aptidões daquele que queria se tornar Grão Professo. Não existia um tempo determinado para se alcançar o grau seguinte posto que isso dependia “unicamente dos sentimentos e das disposições do candidato"[5].


Mas era no grau seguinte onde se deveria começar a verdadeira instrução secreta. No entanto se dava com a mesma solenidade que o primeiro. O candidato escutava a leitura dos estatutos aos quais deveria aderir. Então se ajoelhava diante do presidente da sessão e pronunciava seu compromisso especial, fazendo com a mão o sinal maçônico do companheiro. Depois assinava o compromisso de seu grau e começava já a contar entre o número dos Grande Professos. A recepção acabava com a leitura de uma instrução especial onde se explicava a “verdadeira causa da iniciação” e se pronunciava a palavra de passe do grau. Assim, introduzido entre seus pares, o novo Grande Professo podia já participar dos círculos de instrução e conferências livres, onde reinava a igualdade[6] e onde não se fazia nada depois das orações rituais, além de ler e explicar cada ponto da doutrina secreta.


A Ordem tinha uma espécie de centro comum[7] onde se encontrava o depósito das instruções. Era esse centro que dirigia o ensinamento e dele dependia a criação de Colégios de Grande Professos. Era necessário que houvesse três Grandes Professos na mesma cidade para que fosse possível constituir um Colégio Especial, ou seja, um verdadeiro ramo do Colégio Metropolitano, possuindo cópia dos compromissos, estatutos e disposições preliminares com o direito a recrutar e instruir novos membros[8].


O Colégio Metropolitano tinha três dignitários: o Presidente, o Depositário e o Censor dos Colégios Particulares; neste modelo deveriam eleger, na medida do possível, os mesmos oficiais.


A capital da associação era Lyon. Nos estatutos[9] Willermoz disfarçava a razão essencial deste fato sob amplas considerações geográficas e sempre se preocupava em esconder o seu verdadeiro papel, fazendo recair sobre o Convento de Galias a responsabilidade de tal organização.


O Presidente era um personagem decorativo que dizia as orações antes e depois das reuniões, recebia os Irmãos admitidos e fixava a data das conferências. Devia tratar com o Depositário e o Censor para toda nova fundação e suas três assinaturas autenticavam os documentos que emitiam aos Colégios particulares em nome do Colégio Metropolitano. O Censor era uma espécie de Vigilante cuja tarefa era antes de tudo fazer respeitar os regulamentos.


O Depositário era o verdadeiro chefe da Ordem, já que o objeto da associação era o estudo de uma doutrina que somente ele conhecia bem. Consagrava-se a "correspondência pessoal e direta com aqueles de quem houvera recebido o depósito das instruções, dos quais se podia esperar um acréscimo da luzes, mas isso não significava que se dava alguma comunicação dessa correspondência, fazendo-se segundo sua prudência tanto ao Colégio Metropolitano como aos Colégios particulares"[10].


Apesar da imprecisão desta fórmula, não se pode dizer que o árbitro último dos misteriosos correspondentes, o Depositário, não tinha que dar nenhuma explicação quanto à origem dessas instruções, no caso de variações que poderia introduzir posteriormente. Por outro lado, enquanto os outros dois altos dignitários do Colégio eram eleitos pelos Grandes Professos, era o Depositário quem designava a seu substituto a quem especificava quais seriam seus poderes e seu cargo.


Pode-se supor que Willermoz havia reservado para si, dado a liberdade e importância de suas funções, o cargo de Depositário Geral, já que era um cargo feito exatamente para seu uso pessoal. Graças a esses arranjos confortáveis, a Sociedade dos Professos, uma Confederação de Colégios de iniciados fora das Lojas, apresentou-se como uma organização flexível e simples que dependia inteiramente dele.


Ao estudar os estatutos, parece que o Lyones não desejava fundar um instituto de ciências secretas à maneira dos Filaletas, mas uma escola de caminho espiritual e de aperfeiçoamento místico. Para conhecer a verdade o Professo tinha que merece-la; era-lhe recomendado controlar suas paixões, praticar a caridade e testar sua coragem e fé[11]. O compromisso do Professo não era apenas o juramento de silêncio, mas um ato de fé ao Deus Todo Poderoso. O Grande Professo assumia compromissos mais precisos, como afirmar seu vínculo total com a religião cristã, fazendo voto de perfeição. Ao final de seus compromissos, como nas orações rituais, que abriam e encerravam as sessões, imploravam a ajuda de Deus e de suas luzes.


Willermoz estava tão convencido de que o êxito de seus ensinos dependia das disposições que traziam seus discípulos, que aconselhou os instrutores a não usar muito a persuasão para com os sujeitos lentos em compreender, ou que levassem a matéria à discussão; o melhor era não acelerar artificialmente uma instrução que deveria tornar-se uma verdadeira conversão como obra da vontade, mais do que da inteligência.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: O que se observa aqui é mais uma característica de seita: a denegação do pensamento crítico e a concentração do ensino sobre aqueles que se mostrassem aptos a aderir “in totum” a filosofia do mesmo. demonstrando (desde o início) disposição à conformidade e identificação com o grupo.]


Para garantir a atenção dos iniciados acerca da importância que tinha o esforço pessoal do mesmo na caminhada a qual se abria para ele, Willermoz acrescentou mais tarde ao cerimonial de recepção aos Grandes Professos um "Diálogo entre o Chefe Iniciador e recém recebido”[12] insistindo unicamente nesse ponto. O discípulo aprendia que não deveria pedir revelações próprias para satisfazer sua imaginação; propunha-se lembrar "que um verdadeiro desejo sem mistura de motivo humano" é o que mais importa e que o caminho da ciência passa pelas regiões áridas do sacrifício e da mortificação do coração e do espírito.


É o que já permitia prever a prova do grau simbólico de Companheiro, onde Diante de um espelho coberto por um véu, era dito: “Se o desejas verdadeiramente, tens coragem e inteligência, afasta este véu e aprenderás a conhecer-te.” Essa bela prova, certamente agradava muito a Willermoz por sua aparência enigmática e pela duplicidade de seu sentido extraído diretamente do ensinamento de Pasqually.


A doutrina dos Cohen, já o sabemos, estabelecia entre a natureza do homem e do mundo estreita correspondência, pretendendo que quem a soubesse ler em si mesmo, conheceria ao mesmo tempo o plano divino.


Mas se Willermoz defendeu as qualidades de coragem e vontade, seguindo seu mestre, também representou uma tradição mais geral; seu ensino goza de todos os métodos de treinamento místico. É uma realidade experiêncial que toda vocação espiritual exige sobretudo esforço. A alma que busca a verdade, a arte ou o divino necessita de uma forte vontade para afastar-se dos hábitos e das aparências, tendendo para o mundo especial de sua contemplação. No entanto, não podemos deixar de pontuar que o Chanceler de Lyon só conseguiu compreender da vida mística o papel da vontade e da renúncia: Quanto tempo ele hesitou no limiar do templo Cohen? Quantas cartas enviara a Bordeaux expressando suas dúvidas e decepções? É verdade que por muito tempo ele esperava obter sua própria conversão espiritual, não por esforço e desejo, mas pelo caminho mais fácil dos fenômenos e maravilhas sensíveis. É sempre mais fácil dar conselhos sábios aos outros do que praticá-los em si mesmo. Em todo caso, deve-se dizer, em defesa do Chefe dos Professos, que a falta de concordância entre seus princípios e sua conduta não vinha dele, mas de seu professor. A doutrina de Pasqually, com todas as suas pretensões à espiritualidade, era, acima de tudo, um sistema mágico bastante grosseiro, ou pelo menos bastante material. Nenhum dos Cohens, nem mesmo o mais dotado para a vida mística, jamais se livrou das tarefas iniciais daquele mau começo. Willermoz, que não estava entre os mais talentosos discípulos, na verdade estava bem longe disso, permanecera ávido do maravilhoso ao longo de toda sua vida, acreditando de boa fé viver nas regiões puras do mundo do espírito.


As disposições que regulam os ensinamentos da doutrina mostram até que ponto ele os considerava sagrados. A Ordem dos Professos parecia feita, mais do que para ampliá-la, para preservá-la da profanação. Se, apesar das precauções, um homem indigno chegasse ao templo, ele era expulso às pressas. Para isso, longe de despertar sua curiosidade, fazia-se um esforço para cansá-lo. Ele não teria permissão para avançar em graus nem em conhecimento, as datas das conferências seriam alteradas e ele não seria avisado sobre elas. Assim, ele seria sutilmente repelido e excluído de fato "sem necessidade de impedi-lo"[13].


Poder-se-ia acreditar que, perseguindo um objetivo tão elevado, tendo uma ideia tão elevada da vocação a que se destinava a sua Ordem, tendo estabelecido regras tão sábias quanto severas, Jean Baptiste Willermoz teria tido bastante dificuldade em encontrar modelos de todas as virtudes civis e maçônicas em cristãos fervorosos e livres de preconceitos, além de dóceis e resolutos, enfim os “autênticos homens de desejo” que podiam se tornar Professos. Mas não é bem assim, ou porque os Cavaleiros Benfeitores tinham as qualidades necessárias ou porque confiava em alguns deles, sete Colégios de Grandes Professos foram instituídos entre as principais lojas escocesas que aderiram às condições do Convento de Lyon. Na França, na Itália e até na Alemanha, a Classe Secreta contava com sessenta membros em 1782.


Notas:


1 - Lyon, ms. 5475, p. 1, “Estatutos e Regulamentos dos Grandes Professos”. Estes estatutos foram publicados por M. P. Vuillaud em “Joseph de Maistre, franco-maçom” pp. 45-51.


2 - Lyon, ms. 5475, p. 3, “Instrução Secreta aos Professos”; peça 4, Títulos Gerais dos Cadernos de Instrução; peça 5. Resumo Geral da Doutrina. Estes documentos foram publicados por M. P. Vuillaud em “Joseph de Maistre, franco-maçom”.


3 - Lyon, ms. 5475, p. 1, art. 1.


4 - Lyon, ms. 5475, p.1 p. 6


5 - Lyon, ms. 5475, p. 1, p. 10, artigo 16.


6 - Os Professos deviam colocar-se em círculo para as conferências, a fim de que essa igualdade ficasse materialmente demonstrada.


7 - Lyon, ms. 5475, p. 1, p. 11.


8 - Os estatutos aconselhavam que não se multiplicassem os Colégios. Um Colégio por cada Prefeitura devia ser suficiente. Havia o temor de multiplicar indiscrições, ao multiplicar as cópias das instruções, o que impunha tal moderação.


9 - Lyon, ms. 5475, pieza 1, p. 14, art. 20.


10 - Lyon, ms. 5475, pieza 1, p. 14, artículo 30


11 - Lyon, ms. 5475, pieza 1, pp. 4 a 8.


12 - Diálogo depois da recepção de um Irmão Grande Professo entre o chefe iniciador e o novo recebido. Lyon, ms. 5475, peças 6 e 7. A escrita trêmula do original (p.7) mostra que a data da escrita é de quando Willermoz já tinha a vista ruim, ou seja, depois de 1789.


13 - Lyon, ms. 5475, p. 1.


I.C.J.M.S.

Que Nossa Ordem Prospere !!!






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