A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo Em "O Homem Deus"
- Primeiro Discípulo
- há 60 minutos
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"Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé" (1Cor 15,14). Essa contundente simplicidade, presente na afirmação paulina, torna claro o caráter central do que é a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo para a fé de seus seguidores. Não estamos a lidar aqui com um elemento acessório, de um apêndice edificante à narrativa do evangelho, mas do próprio núcleo irradiador da economia salvífica. A Ressurreição é o "sim" definitivo do Pai ao sacrifício do Filho, o triunfo da Vida sobre a morte, a confirmação da verdade de tudo quanto Cristo ensinou e realizou. Sem ela, como bem observou Santo Agostinho, "toda a pregação apostólica se desvaneceria tal qual fumaça ao vento".
Ao longo dos séculos, o mistério inefável da Ressurreição tem sido objeto de profunda contemplação e reflexão teológica. A tradição sustentada pela Igreja, desde os Padres Apostólicos até os grandes teólogos do mundo moderno, tem procurado penetrar, com temor e reverência, nas profundezas deste acontecimento que transcende a própria história, embora nela se inscreva de modo indelével. Contudo, não raro, surgiram interpretações que, movidas por pressupostos filosóficos estranhos à Revelação, acabaram por desvirtuar aspectos essenciais deste mistério central da fé.
Hoje, de forma especialíssima, propomo-nos expor a concepção da Ressurreição de Cristo presente na obra de nosso pai fundador, Jean-Baptiste Willermoz, intitulada O Homem-Deus, Tratado das Duas Naturezas — texto que, embora pretendesse não se chocar com a tradição cristã, incorpora aspectos doutrinários herdados de seu mestre, Martinez de Pasqually, os quais Willermoz procurou reinterpretar e cristianizar à luz dos mistérios da fé.
Em breve, voltaremos ao tema analisando com profundidade toda essa exposição, mas, por ora, convidamos o leitor a acolher com espírito orante e coração atento as linhas do Tratado das Duas Naturezas, nas quais ressoa a voz de um cristão profundamente convicto de que, na Ressurreição, resplandece o sentido último de toda a existência humana: ser em Cristo, com Cristo e por Cristo, restaurado na glória de sua origem.
sobre a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo
Passagem 1
"Imediatamente a Sabedoria incriada, o Verbo de Deus, que é Deus, o Filho único, imagem e esplendor do Pai Todo-Poderoso, ofereceu-se para se unir intimamente e por toda a eternidade à inteligência humana do novo Adão, para fortificá-lo em seu sacrifício, para assegurar, para completar o seu triunfo e torná-lo, por uma ressurreição gloriosa, realmente vencedor da morte."
Passagem 2
"uma multidão de milagres incontestáveis, que operava na frente deles, não viam nele nada mais que um homem, e negaram-lhe sua Divindade. Seus discípulos, mesmo seus apóstolos, embora instruídos por ele e testemunhas dos mesmos prodígios, não creram imediatamente, apenas aos três dias após sua morte, convencidos da verdade de sua ressurreição que ele mesmo havia predito, e recebendo suas instruções durante quarenta dias, vendo-o ascender divinamente ao céu, na sua humanidade glorificada."
Passagem 3
"perfeita renúncia, até a consumação de seu sacrifício expiatório, e assegura-lhe o triunfo sobre todas as potências do inferno desencadeadas contra ele, deixando-lhe todas as honras da vitória. E, como prêmio do bom uso que fez de seus próprios meios, e do potente socorro que lhe é dado, é ressuscitado da tumba pelo Verbo, glorificado, divinizado, elevado ao mais alto dos céus, onde é colocado sobre um trono eterno juntamente com ele, a quem se funde, por assim dizer, estabelecido como o Soberano Juiz dos vivos e dos mortos, e o Deus eternamente visível aos anjos e aos homens santificados que reconhece como seus irmãos."
Passagem 4
"tanto fulgor na pessoa de Jesus Cristo, em que concluiu a instrução de seus apóstolos por este discurso sublime onde lhes revelou mais claramente, como ainda não o tinha feito, sua própria divindade oculta em sua humanidade, os sofrimentos, as ignomínias e a morte à qual iria ser entregue pela traição de um entre eles, a sua ressurreição gloriosa três dias depois, as grandes esperanças que deviam conceber e, por último, a perfeita e eterna glorificação de sua humanidade; seguiu até o Jardim das Oliveiras."
Passagem 5
"da morte e de Satã, empregou durante os três dias da sua sepultura, estes três dias que o resto ignora e foram invisíveis a todos os homens da terra."
Da ressurreição e dos corpos gloriosos
"Porém, mal o terceiro dia é começado, ressuscita gloriosamente do túmulo pela sua pura potência divina, e começa a mostrar-se aos que o amaram o mais ternamente possível, sob uma nova forma corporal, em tudo semelhante à que havia tido entre os homens, mas glorioso e impassível, da qual se reveste, e que faz também desaparecer à sua vontade."
Passagem 6
"atualmente revestido, nele reconhecendo apenas uma matéria mais depurada. É Jesus Cristo mesmo que vai provar-lhes a diferença essencial destas duas formas corporais e sua destinação, revestindo se de um após a sua ressurreição, após ter destruído a outro no túmulo. Jesus, homem-Deus, querendo tornar-se em tudo semelhante ao homem real, para poder se oferecer como um modelo que pudesse imitar em tudo, apresentou-se nascendo revestido de uma forma material perfeitamente semelhante à do homem punido e degradado."
Passagem 7
"passo que a forma material de Jesus, concebida pela única operação do Santo-Espírito e sem nenhuma participação dos sentidos materiais, é incorruptível. Mas, Jesus Cristo deposita no túmulo os elementos da matéria, e ressuscita numa forma gloriosa que não é mais do que a aparência de matéria, que não conserva mais os Princípios elementares, e que não é mais do que um envelope imaterial do ser essencial que quer manifestar a sua ação espiritual e tornar-se visível aos homens revestidos de matéria."
Passagem 8
"de Isaac e da punição de Sodoma, do anjo condutor do jovem Tobias, e um grande número de outros aparecimentos semelhantes dos espíritos puros, dos quais a forma corporal foi reintegrada em si e desapareceu tão logo a sua missão específica estava terminada. Provam todos a mesma verdade. Jesus Cristo ressuscitado, reveste-se desta forma gloriosa cada vez que quer manifestar a sua presença real a seus apóstolos, para fazer-lhes conhecer que é desta mesma forma, ou seja, de uma forma perfeitamente semelhante e tendo as mesmas propriedades, que o homem estava revestido antes de sua prevaricação."
Passagem 9
"sua perfeita reconciliação, no fim dos tempos. Será lá, com efeito, que será a ressurreição gloriosa dos corpos, que serão, ao mesmo tempo, alterados pelos homens reconciliados, bem como o expressou São Paulo mas, que não serão alterados pelos rejeitados. É esta, enfim, a ressurreição gloriosa, por cuja ingestão real do corpo e o sangue de Jesus Cristo traz a todos, que participam dignamente, o germe frutificador."
Passagem 10
"destino deste lugar de delícias não foi totalmente destruído: A Justiça divina satisfez-se, então, de estabelecer uma guarda "armada de espada de fogo" para defender sua entrada. Mas, o homem-Deus que satisfez plenamente, pela sua submissão e pela sua morte, a Justiça divina, é deste centro de dor e de ignomínia que ressuscita gloriosamente, e triunfando na sua humanidade, reabilita o homem e toda sua posteridade no direito primitivo de poder habitar ainda o centro destas regiões celestiais."
Feita a exposição, convidamos, pois, todos os nossos irmãos retificados a uma renovada contemplação do mistério pascal, permitindo que a luz fulgurante da Ressurreição de Cristo penetre suas consciências e reavive nelas a esperança viva da glória prometida. Que cada um se deixe interpelar pelas verdades eternas aqui evocadas, não como meros conceitos abstratos, mas como realidades operantes que exigem conversão, adesão e transformação de vida.
Na Ressurreição do Verbo Encarnado, somos chamados a reconhecer a nossa própria vocação última: renascer do homem velho para a criatura nova, passar da morte para a vida, da ignorância para a luz, da dispersão para a comunhão plena com Nosso Senhor Jesus Cristo.
Que esta meditação dos textos acima suscite em todos nós o desejo sincero de viver já neste mundo como ressuscitados em Cristo, selados por Sua vitória, sustentados por Sua graça, e orientados para aquele Reino onde Ele governará gloriosamente entre os Seus, como Primogênito dentre os mortos e Sumo Pontífice da nova criação.
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
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