Síntese
A Ordem dos Cavaleiros Templários foi fundada em 1118 por Hugo Payns ou Payeng, que convocou oito outros cavaleiros para irem a Jerusalém a fim de assistir aos peregrinos da Terra Santa. O Papa Honório II aprovou a Ordem em 1128 e São Bernardo fez a revisão da Regra baseada nos três votos de pobreza, castidade e obediência (1130). Em março de 1139 o Papa Inocêncio II deu à Ordem sua Constituição definitiva e a isentou da jurisdição episcopal. Os Cavaleiros revelaram coragem e disciplina extraordinárias no desempenho de sua missão em favor dos peregrinos. Suas propriedades estendiam-se pela Europa Ocidental; no começo do século XIII tinham nove mil "comandarias", que lhes davam uma renda de 12 milhões de libras para sustentar sua ação apostólica.
Em 1303 o rei Filipe IV o Belo da França lhes confiou a guarda do tesouro real; em 1304 celebrou elogiosamente suas obras de piedade e misericórdia. Todavia em 1307 foram traídos por um chefe de comandaria (Esquiseu de Floyran) , que levantou graves acusações contra a Ordem: abusos sexuais, práticas idolátricas, culto de Bafomé, vã glória … O papa Clemente V através do Concílio de Vienne (1311-1312), não condenou os Templários à prisão ou à morte, como queria o rei francês, Felipe, entretanto fechou a Ordem dos Templários. Ao contrário daquilo que conhecemos sobre os Templários, a Ordem não foi condenada à fogueira pela Inquisição. Eles foram absolvidos e extintos pelo papa no ano de 1312 , embora Felipe tenha utilizado seu poder temporal para execução de alguns membros da Ordem.
Pano de Fundo
As monarquias da idade média, sobretudo até ao século XIV, se caracterizavam como monarquias feudais, onde não existia de forma clara a distinção entre a propriedade privada e a propriedade pública. Na verdade, as diferenças entre as funções dos cargos senhorial e régio eram bastante confusas e estavam muitas vezes interligadas. Pode dizer-se que o rei sintetizava na sua pessoa o senhor e aquele que é mais importante entre os senhores. Havia uma limitação do poder do monarca, segundo a própria estrutura feudal do reino. Armas e soldados eram disponibilizados pelos senhores feudais ao rei , que detinha o poder mas era totalmente dependente da colaboração dos senhores feudais sendo estabelecido tal poder segundo regras bem definidas e mútuas.
O rei possuía um poder efetivo concedido pelos seus iguais, conservando estes um poder da mesma ordem nos seus domínios particulares. Além de ter que "partilhar" do poder com os senhores feudais , o rei era sempre obrigado a estar sob as diretrizes do Vaticano. A Igreja era quem legitimava o poder de reis e imperadores – o que era simbolizado na coroação e na unção deles pelo papa -, criando até mesmo teorias para explicá-lo. Entre essas a mais difundida foi a dos “dois gládios” (gládio quer dizer espada), desenvolvida sobretudo no pontificado de Gregório VII (1073-1085). Segundo ela, o poder dos reis (gládio temporal) governava os corpos, enquanto o poder do papa (gládio espiritual) governava as almas. Ora, pela doutrina cristã, a alma era mais importante do que o corpo, logo o poder da Igreja era superior aos soberanos. Estes estavam sujeitos ao julgamento do sumo pontífice, exatamente por serem inferiores a ele.
A Supressão da Ordem do Templo
Felipe IV é considerado o primeiro dos soberanos modernos, por resistir às pressões da Igreja e dos senhores feudais e centralizar o poder em sua própria figura. Foi o primeiro rei a fazer uso de exércitos mercenários para não depender de soldados e armas dos senhores feudais. Realista e cuidadoso, cerca-se de conselheiros provenientes da burguesia e não da aristocracia feudal. Interessado em reforçar o poder real e as finanças do reino, expulsa da França os judeus e confisca-lhes terras e bens. Faz o mesmo com a Ordem do Templo que acusa de heresia e sodomia, suprime a organização, condena seus dirigentes a morrer na fogueira e retém seus bens. Em 1296 entra em conflito com o papado ao lançar impostos sobre os bens da Igreja e ao impedir que saíssem da França os recursos destinados ao Vaticano.
Especialmente sobre o processo dos templários , Felipe queria inicialmente unir as ordens militares de cavalaria, de preferência transformando a si mesmo em grão-mestre. O plano não foi em frente e Filipe decidiu tomar medidas drásticas: em 1307, ordenou secretamente a prisão de todos os 15 mil templários da França. O próprio Jacques de Molay foi preso , a acusação oficial era previsível: heresia. Tudo não passava de perseguição política. Era uma receita prática para se livrar de gente incômoda. Tanto é assim que as acusações – renegar Cristo e cuspir em imagens dele, praticar sodomia ritual e adorar um misterioso ídolo de 3 cabeças ou com forma de gato ou bode chamado Baphomet – aparecem, com poucas mudanças, em todos os outros processos contra heréticos da época. Quase nenhum historiador vê traços de verdade nessas histórias. Há quem suponha que o tal Baphomet fosse, na verdade, a relíquia de algum santo, ou que a negação de Cristo fosse parte de técnicas templárias para escapar com vida das prisões muçulmanas fingindo ter se convertido, mas a história da ordem não parece apoiar essas especulações.
O fato é que até o papa Clemente V criticou as prisões arbitrárias. Na ocasião um processo papal foi instalado para averiguar as acusações – muitos templários confessaram sua culpa induzidos por tortura e depois voltaram atrás diante dos enviados de Clemente. A ideia foi corajosa, mas resultou na morte de 54 membros da ordem: segundo as regras da Inquisição, hereges confessos que voltassem atrás deveriam ser imediatamente executados.
A investigação papal não achou provas de heresia. Mas a pressão de Felipe continuava, e Clemente V acabou concordando com a dissolução da ordem em 1311. O rei conseguiu alguns bens dos templários, mas de forma clandestina: a decisão do papa foi legá-los aos hospitalários, enquanto os ex-cavaleiros entravam para mosteiros de outras ordens ou se tornavam mercenários.
Conclusão
O processo dos Templários foi efeito da política absolutista de Felipe o Belo e seu chanceler Nogaret, apoiados pelos legisladores do reino. Os dois promotores da ação exerceram forte pressão sobre o Papa Clemente V, que era pouco enérgico e demasiado conciliador. Durante o processo a Santa Inquisição foi reduzida à categoria de instrumento do monarca francês não tendo então a Igreja responsabilidade direta sobre suas ações.
Fontes:
Fedeli, Orlando. Templários em << http://www.montfort.org.br/perguntas/templarios.html >>
Bettencourt, Dom Estêvão - Revista Pergunte e Responderemos, Quem eram os templários ?
Pernoud, Régine - Templários.http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=E7C36432-A923-CC9F-C6440441E94EBEA0&mes=novembro2004Guimarães,
Claudio Santos - As Relações de Poder Entre o Monarca e o Papa e as Competências Institucionais Nos Processos Dos Templários na França Entre os Anos de 1307 a 1312
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
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