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Aspectos Internos e Externos: Regenerando-se ou Praticando Cosplay?

"Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve" - O gato de Cheshire em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.


“A palavra ‘iniciar’, em sua etimologia, quer dizer aproximar, unir ao princípio; a palavra initium significando tanto princípio quanto começo. E, desde então, nada é mais comum à todas as verdades que o costume das iniciações em todos os povos, nada mais apropriado à situação e à esperança do homem que a fonte de onde descendem todas as iniciações, cujo objetivo ao qual se propõe em todas as partes é: anular a distância existente entre a luz e o homem, o de aproximá-lo a seu princípio, restabelecendo-lhe ao mesmo estado em que se encontrava no começo” - Louis Claude de Saint Martin em “Quadro Natural das Relações entre Deus, o Homem e o Universo”


“A Franco-maçonaria quando bem meditada (pensada) , os convida sem cessar, por toda sorte de meios, a vossa natureza essencial. Ela busca, de forma constante, aproveitar todas as ocasiões para fazê-los conhecer a origem do homem, seu destino primitivo, sua queda, os males que resultaram em consequência dessa queda e os recursos que a bondade divina proporciona para que possam triunfar. [...] A maçonaria tem um objetivo universal, que a moral não pode alcançar. É verdade que a prática da sã moral e dos deveres em sociedade parece ser o objetivo dos graus, mas essas virtudes não podem ser o objetivo real. Se fossem, para que teríamos a necessidade do uso dos emblemas (símbolos), dos mistérios e da iniciação? O objetivo da maçonaria é esclarecer o homem sobre sua verdadeira natureza, sobre sua origem e sobre seu destino” - Conde Joseph de Maistre em “La Francmasonería: Memoria inédita al Duque de Brunswick"


As frases acima, excetuando-se, é claro, a do Gato de Cheshire, expressam uma “visão filosófica perene” (verdade metafísica una, supra-formal e transcendente) presente em toda a extensão da obra de Jean Baptiste Willermoz (organização de rituais, cartas e livro) cuja concepção metafísica sobre maçonaria, que ultrapassa questões morais e sociais, vai diretamente ao encontro de uma abordagem puramente espiritual e esotérica, sendo uma concepção que contempla o homem como um todo: seu passado, seu presente e seu porvir, relativa ao SER do homem, de caráter ontológico [1], e que abraça a totalidade dos tempos.


Para repassar essa visão, Willermoz organizou concentricamente seu Rito de forma que o mesmo portasse uma cadeia de ensinamentos capazes de conduzir um peticionário ao progresso de seu próprio ser, Isso nos foi legado por meio do estudo dos símbolos, máximas e instruções presentes em nossos rituais e que nos são transmitidas à medida que avançamos nos graus diversos de nossa Ordem.


Segundo Jean François Var a iniciação e trajetória no RER é triplamente relativa:


  • Relativa a Deus: Deus-Princípio, criador e ordenador de todas as coisas, Deus-Providência, tanto reparador por sua ação como providencial para anular os efeitos da queda (privação divina absoluta).

  • Relativa ao Homem: A sua condição passada, presente e futura. A iniciação é exclusivamente para o homem. Sem o homem, não há iniciação.

  • Relativa a história: Por um lado a história metafísica e ontológica do homem que recolhe os termos da queda, reparação da queda e restauração ou reintegração. E por outro lado a História Sagrada pela qual a Providência torna possível a iniciação, adaptando-a aos sucessivos estados do homem, adequação essa pensada, desejada e tornada real pela Providência.


Ora, todo esse conhecimento está para nós disponível em duas formas a saber: a externa e a interna.


Todo rito maçônico pode ser compreendido de diversas maneiras, e todas elas tocam tanto a dimensão interna quanto a externa. O aspecto externo de um rito inclui suas práticas rituais, crenças visíveis (expressas em emblemas ou de outra forma) estruturas organizacionais e suas manifestações públicas. No entanto, um rito também envolve elementos internos mais profundos que não podem ser expressados pelos aspectos externos: crenças fundamentais, valores morais, experiências espirituais pessoais e um sentido de comunidade (no caso do RER até mesmo de regeneração/salvação).


Enquanto o aspecto externo é visível e muitas vezes tangível, ele tende a ser mais superficial e não pode sustentar um rito por si só. Se um rito fosse baseado apenas em práticas externas (passos, paramentos, cor de velas, aventais, diálogos entre os irmãos no correr da sessão, rosetas de chapéu, formato de espadas, o raio que o parta, etc) sem um compromisso real com as crenças subjacentes e os valores espirituais que deve propagar, ele poderia se tornar vazio e perder sua essência. O envolvimento e o apego aos elementos externos deve existir sim, por tradição, conformidade e até mesmo por conveniência, mas nunca devem deixar de ser uma via para o aprofundamento em direção aos elementos internos do rito.


Para que a lição iniciática, legada por nossos pais fundadores, seja autêntica e significativa , é importante que haja uma conexão entre os aspectos externos e internos. As práticas externas podem servir como expressões visíveis das crenças e valores internos, reforçando a espiritualidade e a trajetória de cada um dos iniciados. No entanto, se os aspectos internos estiverem ausentes ou forem negligenciados, o rito se torna superficial e perde sua influência transformadora.


O maçom que, despreza os elementos internos do rito a que pertence (de forma muito mais drástica se esse rito for o RER) se afasta da prática da verdadeira jornada e acaba por transformar a maçonaria em uma espécie de concurso de fantasia, assemelhado a um cosplay para adultos. Despido de aspectos interiores, um rito maçônico se reduz a uma mera casca. O que resta dele é uma superfície da qual o núcleo foi arrancado, uma estrutura desprovida de substância. Essa internalidade, que constitui a base da transmissão do ensinamento sagrado e imutável da Ordem, é o que define intrinsecamente o sentido mais profundo e íntimo de um rito maçônico: a 'Ordem por excelência', guardiã de conhecimentos precisos e secretos derivados de Deus, do mundo e do homem.


"Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve" - O gato de Cheshire em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.


Nota:


1 - Ontologia é um ramo da filosofia que lida com a natureza fundamental da existência, da realidade e da estrutura do ser. É uma disciplina que busca entender as categorias de ser, os tipos de entidades que existem, as relações entre essas entidades e a natureza da realidade em si. A palavra "ontologia" deriva das palavras gregas "ontos" (sendo) e "logos" (estudo ou discurso), o que significa o "estudo do ser".


Em termos mais simples, a ontologia procura responder a perguntas como:

  • O que é real?

  • O que significa existir?

  • Quais são as categorias básicas de ser?

  • Qual é a relação entre objetos físicos, conceitos mentais e entidades abstratas?

A ontologia pode ser dividida em várias subáreas, cada uma focando em aspectos específicos da realidade. Algumas das principais subáreas incluem: Ontologia metafísica: Lida com questões fundamentais sobre a natureza da realidade, como a existência de entidades concretas (objetos físicos) e entidades abstratas (como números e conceitos).

  • Ontologia social: Explora as características das entidades sociais, como instituições, grupos e relações sociais, e como elas se relacionam com as entidades individuais.

  • Ontologia da mente: Investiga a natureza da mente, a relação entre a mente e o corpo, e se os estados mentais são entidades distintas das atividades cerebrais.

  • Ontologia da arte: Examina a natureza das obras de arte, sua existência e como elas se relacionam com o mundo real.

  • Ontologia aplicada: Aplica conceitos ontológicos a áreas específicas, como ciência da informação, ciência da computação e linguística, para organizar e estruturar conhecimento e dados.

Em resumo, a ontologia é uma disciplina filosófica que explora os conceitos mais fundamentais sobre o que é real e como a realidade está estruturada. Ela busca analisar a natureza da existência e entender as relações entre diferentes tipos de entidades no mundo.


I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!!




















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