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Carta ao Príncipe Charles de Hesse-Cassel em 8 de Julho de 1781

Atualizado: 16 de out. de 2020

Nota Introdutória do Blog Primeiro Discípulo:


Para a tradução desta carta valemo-nos da publicação de Gerard Van Rijnberg em sua obra: “Épisodes de la vie ésotérique (1780-1824)”. A original encontra-se entre os arquivos da Grande Loja Nacional de Copenhagen. A importância de tal texto não escapará a quem tem acompanhado o nosso blog e dedicado algum tempo a leitura dos muitos artigos que já publicamos, em especial outras cartas (ou fragmentos das mesmas) de Jean Baptiste Willermoz. Nesta que agora apresentamos, o comerciante de sedas de Lyon trata da definição e classificação dos diversos gêneros de ciências ou das relações existentes entre a Maçonaria e a Ordem do Templo [1]. O pensamento de Willermoz encontra-se, como se verá, já totalmente estabelecido; podemos dizer que aqui está expresso com maior nitidez e firmeza do que nos anos posteriores a essa correspondência, já que está isento de certos circunlóquios que se fariam necessários às suas intervenções no Convento. Também poderemos apreciar que estes documentos têm, na verdade, um duplo emprego, ao apresentar uma análise particularmente incisiva dos diversos gêneros de Maçonaria praticados nos tempos de Willermoz e, por quê não, também nos nossos.


A Carta


Lyon, 8 de julho de 1781


Para melhor dar a conhecer a V.A.S. [2] sobre aquilo no qual fundamento minha opinião, deveria remontar-me as definições gerais que conheço nesta matéria. Assim pois, direi primeiramente que me parece essencial não confundir a verdadeira Maçonaria com a Maçonaria Simbólica [3]. Uma encerra, em si mesma, uma ciência muito vasta da qual ela é o meio, a outra, sob uma denominação convencional, a escola na qual se estuda de uma maneira preparatória esta ciência velada em sentido figurado. Uma delas seria, sob diferentes nomes, tão antiga como a existência do próprio homem degradado; já a outra é muito mais moderna (ainda que já bastante antiga) e sua denominação atual parece ser posterior a última revolução sofrida pelo Templo de Jerusalém, que veio a tornar-se seu fundamento. Esta escola, nasceu no silêncio do segredo e do mistério, a época do seu nascimento ficou perdida na escuridão dos séculos que transcorreram desde o último saque do templo.


Não creio que seja possível definir com precisão uma época fixa. Nem tampouco que se possa crer que os cavaleiros Templários tenham sido fundadores nem da verdadeira maçonaria nem da simbólica, seja no nascimento ou no ocaso de sua Ordem [...] Mas não renuncio a crer, sem obstante estar convencido disso, que esta instituição secreta já existisse antes deles, que teria sido talvez sua fonte; que, se se quiser, tenha servido de base até mesmo a sua instituição particular; que tenham cultivado e propagado através dela durante seu reino a ciência da qual ela constituía o véu; véu com o qual se encobriram perpetuando entre eles e seus descendentes a memória de suas desgraças, tratando por tal meio de repará-las .


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: No artigo “Willermoz - Um Teórico Metafísico a Serviço Da Maçonaria”, antecipamos exatamente o que se vê aqui. Nele, havíamos dito que: “Sua concepção metafísica (de Willermoz) [...] contempla o homem como um todo: seu passado, seu presente e seu porvir [...] o que se antecipa ao trabalho teórico de René Guénon na medida que já comporta em si a ideia de uma Revelação Primitiva saída de uma iniciação primordial, da qual a iniciação maçônica é tão somente uma modalidade.”. Nesse trecho da carta, Willermoz “arrisca” reconhecer tal perenidade e ensaia compreender ligação entre a Ordem Maçônica, tal qual ele idealiza, e a Ordem do Templo… sendo a primeira anterior a segunda].


Tudo isso, ainda que sem provas suficientes, poderia ser admitido - caso houvesse necessidade - com mais ou menos verossimilhança. Os anais ingleses fazem menção de uma grande loja nacional em York no ano de 926 [4], ou seja, cerca de dois séculos antes do estabelecimento da Ordem dos pretensos fundadores da Maçonaria. Estes mesmos documentos reconhecem também que existiam Maçons antes dessa época em França, Itália e outros lugares, e certamente o amor próprio nacional inglês teria suprimido esta história caso não tivesse tido fundamento real.


É, pois, plausível que a Ordem do Templo, instituída no início do século XII e no mesmo país que é reputado por ter sido o berço dos principais conhecimentos humanos [5], tenha podido participar da ciência maçônica, conservá-la e transmiti-la independentemente de outras classes de homens terem podido fazer o mesmo. Em uma palavra, se o próximo congresso geral for da opinião de conservar as relações maçônicas com a antiga Ordem do Templo, não vejo nenhum inconveniente em apresentar esta Ordem como tendo sido depositária dos conhecimentos maçônicos e conservadora especial das formas simbólicas; mas é muito arriscado apresentá-la como fundadora, porque se encontram sempre e em todas as partes, opiniões contrárias que são muito difíceis de refutar.


Volto então ao cerne da questão. Penso que existe para o homem atual uma ciência universal pela qual ele pode chegar a conhecer tudo o que se relaciona com sua composição ternária de espírito, alma e corpo nos três mundos criados, isto é, na natureza espiritual, na natureza animal [6] e na elementar corporal.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Recomendamos a leitura do artigo “Composto Ternário e Natureza Binária, as revelações do R.E.R”, que versa sobre o assunto].


Não faço aqui menção do quarto mundo, o Divino, porque não é dado ao homem em seu estado atual chegar até ele e, se por acaso, pode consegui-lo, não é mais que subsidiariamente. Por meio desta ciência pode esperar apropriar-se das virtudes dos três mundos e procurar seus frutos. A ciência universal, abraçando as três naturezas, subdivide-se também em três classes ou gêneros de conhecimentos naturais e relativos; e cada uma destas classes é ainda suscetível de algumas subdivisões particulares, O que multiplica, em muito, os ramos do conhecimento humano. Mas como as duas naturezas inferiores [7] são por assim dizer confundidas em uma só, que é denominada natureza sensível, resulta disto que todos os conhecimentos que lhe estão relacionados são também confundidos em um só e mesmo gênero, que abraça várias espécies, que resulta que aqueles que seguem especialmente uma espécie nem sempre se entendem com aqueles que seguem outra, ainda que do mesmo gênero.


Dividirei a massa inteira de conhecimentos somente em dois gêneros e, para distingui-los, chamarei um de superior e o outro de inferior, mas como um e outro são exclusivamente do domínio intelectual ou ativo do homem - e de nenhum modo da incumbência de sua natureza inferior passiva - o primeiro pode aumentar seu bem estar temporal [8] pela ajuda dos dois gêneros e multiplicar por eles os prazeres de sua natureza e de seu estado atual misto [9].


No entanto a primeira espécie sempre será relativamente superior à sua finalidade que é totalmente espiritual. Por meio dela, a inteligência, desfazendo-se de alguma forma do sensível ao qual está ligada, eleva-se a sua mais alta esfera e estou inclinado a crer que nela se encontra o conhecimento do verdadeiro culto e do ministério sacerdotal, pelo qual o sacerdote oferece seu culto ao Eterno por meio de Nosso Divino Senhor e Mestre Jesus Cristo, pela família ou nação que representa.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Alguns veem nesse trecho da carta de Jean Baptiste Willermoz uma alusão direta a ordem dos Cohens, simplesmente pelo fato da palavra “Cohen” significar “sacerdote” e pelo fato de que a elevação a esse grau fosse feita por meio de uma “ordenação”. Nenhuma afirmação, repetimos: Nenhuma, poderia ser mais pueril ou, talvez, mais maldosa do que essa. Atribuir a propriedade do sacerdócio histórico dirigido ao culto a Nosso Senhor a um pequeno grupo que, em um fragmento temporal, resolveu auto denominar-se “sacerdotes” é no mínimo uma tentativa de usurpação (Que na verdade não foi feita por eles mas por alguns homens de nosso tempo e sua incrível mania de tudo sectarizar). Olhemos a questão mais de perto e, antes de que o leitor prossiga, recomendamos a leitura de Lc 12:32-48. Esse evangelho contém duas parábolas: na primeira, o Senhor se refere em geral a seus discípulos e discÍpulas, "empregados e empregadas", que aguardam ansiosos a sua vinda gloriosa; na segunda, fala do "administrador fiel e prudente", isto é, dos responsáveis por tomar conta da casa de seu Senhor, da Igreja. Tenhamos em mente que, na verdade, há apenas um só verdadeiro e eterno sacerdote, Jesus Cristo, mediador único entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Mas dado que os fiéis se tornam por seu Batismo, membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, segue-se que todos eles participam de algum modo do único sacerdócio de sua divina Cabeça. Diz o catecismo católico: “Toda a comunidade dos crentes, como tal, é uma comunidade sacerdotal. Os fiéis exercem o seu sacerdócio baptismal através da participação, cada qual segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei. É pelos sacramentos do Batismo e da Confirmação que os fiéis são "consagrados para serem [...] um sacerdócio santo". Pois bem, é unicamente, baseados nessa premissa que grupos como os de Pasqually poderiam dar um legítimo culto a Deus assim como nós o podemos. Entretanto, o sacerdócio em si, cabe apenas a alguns escolhidos por Deus que, exercendo a função que o Senhor lhes designou, devem guardar, edificar e guiar a Igreja de Cristo; são eles que, por mandato divino, são postos "à frente do pessoal de sua casa" para dar de comer "a todos na hora certa". Trata-se pois de ministros da Santa Igreja, no sentido forte do termo, quer dizer, de homens que agem, não em seu próprio nome, mas na pessoa (in persona) que deles se serve, que os envia, que lhes atribui certa função e a capacidade necessária para realizá-la.”]


É também somente nela que recebi as luzes e instruções e na qual tive a felicidade de adquirir algumas provas que sempre trarão consolo para minha vida. Talvez eu também tenha negligenciado demais as chances de me instruir em relação à classe que chamo de inferior; pelo menos, eu me censurei desde que tive a oportunidade de me convencer de que o conhecimento sobre isso pode servir como passos para alcançar o primeiro e talvez também como um meio de operar de forma mais virtualmente, mas há muito tempo estou sujeito ao medo de me sentir muito atraído pela ânsia de sucesso no sensível e por isso ser obrigado a parar no meio do meu caminho, como aconteceu com tantos outros; de modo que, sempre me esforçando para me colocar acima do sensível, e tendo encontrado consolo em meus esforços dado a algumas realizações raras, para dizer a verdade só vi a superfície do conhecimento que se relaciona a elas, não tendo conseguido sondar a profundidade deles, o que significa que não estou em boa disposição para defini-los e determinar nem sua espécie nem sua extensão, e por esse motivo decidi buscar novamente e aproveitar para me instruir nas ocasiões antes negligenciadas. Caso consiga, então poderei julgar de maneira mais sã o conjunto do todo e apreciar cada parte que o compõe; talvez ai eu possa chegar a ser mais útil aos outros do que sou no presente [10].


Não tenho dúvidas de que a segunda classe encerra conhecimento preciosos para o homem e se a chamo de inferior é somente por comparação a primeira, cujo objetivo único é grandioso em toda sua natureza, útil, majestoso e sublime para aqueles que buscam com reta intenção. Mas também se veem vários sistemas muito diferentes que, no entanto, têm muitas analogias entre eles em seu fim ou em seus meios. Não tenho intenção de falar aqui senão daqueles que podem conduzir a alguns conhecimentos das ciências naturais, e para aqueles que não têm qualquer relação direta com estas. Tampouco quero fazer menção da ciência de evocação dos espíritos que alguns, sobretudo na Alemanha, têm aplicado à Maçonaria, porque o que há de bom nesta ciência pertence a uma classe mais elevada e o que se encontrar de mal deve ser para sempre ignorado; só citarei os principais deles que neste gênero chegaram a meu conhecimento.


Um pretende que a Maçonaria ensine alquimia, ou a arte de fazer a pedra filosofal, e gostaria de ver as lojas mobiliadas com atanores e alambiques. Outro, desprezando a arte mecânica dos sopradores de ouro, que estes buscam com tanto ardor, dá um sentido mais elevado à ciência hermética e parece querer empregar, para obra, outros meios. Espera reencontrar a palavra perdida que os Maçons buscam, e por meio dela obter uma panaceia universal pela qual se curarão todas as enfermidades humanas e se prolongará a duração ordinária da vida. Finalmente, outro, empreendendo um vôo ainda mais elevado, pretende que se ensine aos verdadeiros Maçons a arte única ou a ciência da grande obra por excelência pela qual, segundo ele, o homem adquire a sabedoria, trabalhando em si mesmo o verdadeiro Cristianismo praticado nos primeiros séculos da era cristã e regenerando-se corporalmente, renascendo pela água e pelo Espírito segundo o conselho que foi dado a Nicodemos, que com ele se surpreendeu. Este outro assegurando que conhece a verdadeira matéria da obra, assim como os verdadeiros vasos, fogão e fogo da natureza pelos quais opera, assegura também que pela conjunção do Sol e da Lua e praticando exatamente o que está indicado emblematicamente nos três graus simbólicos, será produzido um filho filosófico [11] , pelas virtudes do qual o possuidor prolongará também seus dias, curará as enfermidades e espiritualizará, por assim dizer, seu corpo, se tiver coragem e confiança para ir buscar a vida até nos braços da morte. Pararei aqui, estes sistemas e sobretudo os dois últimos, cobrem geralmente o que os outros apenas dão indícios parciais.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Já em um de nossos primeiros artigos, intitulado “Sobre o Despojamento Dos Metais no Grau de Companheiro”, havíamos falado sobre essa visão de um “processo alquímico interior”. Essa “noção” não é algo necessariamente estranho ao buscador contemporâneo mas certamente era uma forma extremamente refinada de pensar o sagrado em pleno século XVIII. No artigo, falávamos: “... as máximas representam já uma via que conduz a purificação ante as impurezas que os metais representam, assim , a fórmula para a alquimia anterior já lhe é revelada, cabendo a ele adotá-la para que a transmutação desejada ocorra…”]


Quanto ao querido Irmão Barão Haugwitz, ainda não sei de quais dos sistemas citados ele mais se aproxima [12]. Sua explicação sobre as palavras Jakin e Boaz, e o que indica relativo as propriedades do terceiro grau parece estar bastante relacionado com aquilo que eu conheço dos últimos que já citei. Além disso, me chegou por diversas vias que sua loja em Görlitz, na Silésia, tem a ciência hermética como finalidade, mas creio que devo suspender minha tentativa de formar juízo sobre isso até receber a tradução que V.A.S. me enviará.


Embora não tenha nenhuma noção estabelecida sobre as vias pelas quais estes conhecimentos tão antigos como o mundo se encontram unidos no cristianismo tendo inclusive por meio deste sido aperfeiçoados, não desdenho admitir que São João Evangelista, que tratou sobre a Essência do Verbo Divino com tanta energia e sublimidade, tenha reunido os antigos professores das ciências naturais e tenha levado seus conhecimentos a perfeição por meio da Luz do Evangelho; perfeição com que chegaram até nós [13]; mas uma tal filiação que não seria demonstrada por uma simples verossimilhança, seria de suficiente peso para aqueles que buscam a verdade ? Sobretudo intervindo sobre a Ordem dos Templários ? Eu acho que tudo pode ser resolvido convenientemente caso se considere apenas como verossímil aquilo que não pode ser provado, mas não como certo.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Se fossemos fazer a nota que esse parágrafo merece, ela por si só, se tornaria um artigo. Mas vamos a alguns pontos:


1 - Quando Willermoz diz: “Embora não tenha nenhuma noção estabelecida sobre as vias pelas quais estes conhecimentos tão antigos como o mundo se encontram unidos no cristianismo...” ele assume já uma ‘percepção’ sobre a ideia de uma Revelação Primitiva saída de uma iniciação primordial, da qual a iniciação maçônica é tão somente uma modalidade, todavia ele não é capaz ainda de teorizá-la conseguindo apenas intuí-la.


2 - Quando diz: “...se encontram unidos no cristianismo tendo inclusive por meio deste sido aperfeiçoados…” nosso Pai Fundador reconhece que há sim sabedoria anterior ao cristianismo (como revelara S. Justino Mártir “Ele espalhou sementes da verdade antes de sua encarnação, não apenas entre os judeus, mas também entre os gregos e bárbaros, especialmente entre os filósofos e poetas, que são os profetas dos pagãos.”) mas reconhece também que esta é muito inferior a sabedoria de Deus encarnada em Nosso Senhor Jesus Cristo, como nos diz a parábola da mulher samaritana: ”Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede” (Jo. 4:13,14) e que nosso amado S. João Evangelista levou o conhecimento dos que vieram antes à perfeição que SOMENTE o Evangelho pode permitir alcançar.


3 - Para corroborar o que foi dito, cito um trecho da declaração Nostra Aetate do Concílio Vaticano II: “A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas.


4 - Por fim um apelo aos irmãos retificados que encontram-se tão filosoficamente/religiosamente pulverizados como os maçons do século XVIII. Faixas, aventais, capas, espadas, seitas de “sopradores de vidro” ou seitas cujas bases se estabelecem sobre o “engarrafado” esoterismo “new age” que nos ofertam todos os dias como vias para a luz … nada, absolutamente nada disso, nos aproxima do Cristo, perfeição que Willermoz nos incitou a buscar… Guardem em seus corações “Meus Ir quando, para aperfeiçoar o Vosso trabalho buscardes a Luz que vos é necessária, lembrai-vos que ela se encontra no Oriente e que é aí e só aí que a podereis encontrar”. O Evangelho é a nossa luz e Cristo é nosso Deus.]


Tudo dependerá pois do gênero de provas ou probabilidades que o querido Irmão Barão de Haugwitz esteja disposto a apresentar. Mas eu penso que o ponto mais essencial, na conjuntura atual, caso se queira estabelecer de uma vez por todas no regime uma base definitiva e invariável, é não apresentar aos Maçons, neste momento de reforma, um objetivo real e possível em sua espécie, e cujo efeito pode chegar a ser verdadeiro para aqueles que, tendo estado suficientemente preparados e provados, sigam fielmente os meios que lhes serão indicados pelo próprio sistema já que, só os alimentarão no futuro como se fez no passado, de princípios vagos de teoria, sem lhes garantir a certeza do êxito de maneira que possam esperar recebê-lo pela prática mesma dos efeitos que lhes são prometidos, há que temer que, cansados de promessas ilusórias que em geral lhes tem feito a Maçonaria, se cansem por completo e definitivamente [14].


O sistema da Ordem dos Grandes Professos difere essencialmente dos precedentes em que, não prometendo nenhum resultado físico e não anunciando um fim espiritual moral ao alcance de todos aqueles que são admitidos, cumpre perfeitamente com seu objetivo. Mas se a este primeiro sistema for adicionado outro, tal como me parece possível, que promete alguns êxitos físicos na ciência natural, antes de anunciá-lo deve estar seguro de poder dar aos escolhidos os meios certos para procurar a prova de sua verdade.


[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Nesse ponto de sua vida, parece que Willermoz ainda acreditava na possibilidade de manifestação de fenômenos físicos que indicassem “ao iniciado a segurança de sua salvação” baseando-se sobretudo na palavra de Pasqually que afirmava que “o homem só tem que querer, terá poder e potência”. Todavia toda sua busca nessa direção acabou por traduzir-se unicamente em desilusão e desconfiança, como pode ser visto em nossa postagem: “Jean Baptiste Willermoz na Escola de Martinez de Pasqually: Gênese do Regime Escocês Retificado”]


Notas:


1 - Essa relação é riquíssima em termos metafísicos.


2 - Abreviatura de Vossa Alteza Sereníssima.


3 - Willermoz transmite uma concepção de Maçonaria que não a liga necessariamente a sua origem histórica documentada mas que a faz uma espécie de “portadora de conhecimentos especiais” destinados a um fim espiritual específico ou, ainda, a um veículo para obtenção de tais conhecimentos.


4 - Esta menção provém das Old charges (das quais várias foram traduzidas nos travaux de Villard de Honnecourt). Anderson a reproduziu citando um "documento de arquivo" datado do reinado de Eduardo IV, do século XV, mas não lhe atribui data (cf. Constituições de Anderson, editadas e traduzidas por D. Ligou, Lauzeray International, 1978, Págs. 32-33). Ao contrário, Thory, em sua Ata Latomorum (1815, reimpressão de Slatkine reprints, 1980, Pág. 3) situa o evento no ano 926: “Edwin torna-se Grande Mestre: Com o consentimento do rei (sc.Athelstan) estabelece a sede da Confraternidade em York. É deste centro, que se chamou Gran Logia (Grande Loja) de onde saíram uma grande parte de logias ou reuniões particulares de Maçons da Grã-Bretanha”. Ano (926) e denominação (Grande Loja) são pois idênticos para Willermoz e para Thory, e ambos tiveram que beber na mesma fonte.


5 - Willermoz refere-se a França.


6 - “Animal” aqui, esta relacionado a “anima” (alma).


7 - Quer dizer a natureza “corporal” e a natureza “animal”.


8 - O bem estar humano.


9 - “Misto” porque é meio espiritual e meio sensível; “atual” (por oposição ao estado original) como resultado da queda. Toda essa análise se inspira estreitamente em Martinez de Pasqually.


10 - Este tom humilde, pouco habitual em Willermoz, se explica pelo seu desejo de ser informado a respeito dos elevados conhecimentos que ele julgava que Charles de Hesse e Charles A. G. Kurt von Haugwitz teriam e que outorgariam aos seus.


11 - No sentido alquímico da expressão. Willermoz distingue claramente a alquimia dos “sopradores” e a alquimia espiritual.


12 - Em uma carta de 15 de Janeiro de 1781, Charles de Hesse menciona que o Irmão Haugwitz era seu instrutor e o adjetiva como homem muito digno.


13 - Em uma carta datada de 22 de setembro de 1780, Charles de Hesse afirmara: Eu sei

que o apóstolo são João, o bem amado do nosso Divino Salvador, é o fundador da terceira Maçonaria (ou seja, do sistema “que os suecos professam ...”, os outros dois sistemas, um “indica. o materialismo mais concreto” e o outro “aquele de onde Hund tirou o da Estrita Observância” [...] “se já não de toda a Maçonaria, tendo reunido os magos que conheciam e buscavam pelo caminho da natureza ao Senhor que devia vir, instruiu-os de sua vinda, e ensinou a seus discípulos o verdadeiro caminho no qual São João substituiu aquele que eles seguiam até então, e que deixou de ser o verdadeiro” (Van Rijnberg, op. cit. Págs. 19-20).


14 - Estes efeitos “práticos”, ou como se diz mais adiante, os “êxitos físicos”, evidentemente que não podem ser produzidos de outra maneira, na ideia de Willermoz, que pela aplicação, precisamente, de as práticas teúrgicas aplicadas na Ordem dos Eleitos Cohen à qual não deixa de se referir implicitamente ao longo de toda esta passagem.


I.C.J.M.S.


Que Nossa Ordem Prospere !!!

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