“O céu e a terra existem e, através de suas mudanças e variações, proclamam que foram criados [...]. E todas as coisas , e podemos afirmar sem medo que a intuição dos redatores das Escrituras não estava errada, porque se existe um Nome Divino por excelência riado a nós mesmos [...]. O artista impõe uma forma à matéria que, já existindo, pode recebê-la: assim a terra, a pedra, a madeira, o ouro ou qualquer outra coisa. Mas de onde proviria a matéria, se não tivesse criado? [...] Que criatura existe, senão porque tu existes? Portanto, disseste uma palavra, e as coisas foram feitas. Com tua palavra as criaste” - Sto Agostinho (Conf., XI, 4, 6; 5, 7).
A Ideia da Criação “Ex Nihilo”
É interessante, a essa altura, refletirmos a respeito da questão que nos ocupa, a fim de saber: como o Ser pôde dar o ser a tudo que existe, e como é que este mesmo Ser possui o ser de forma independente ?
Que o Ser eterno e infinito tenha dado o ser (ou em sentido concreto para facilitar o entendimento: a vida, ou a existência) a tudo o que existe neste mundo é, sem dúvida nenhuma, para os cristãos em geral (discípulos ou não de Willermoz), uma verdade inegável, um conceito inquestionável; mas, para alguns (especialmente aos adeptos da teoria Aristotélica da edução pelo motor imóvel e afins), a coisa caminha justamente para o lado contrário, pois não haveria nada menos claro do que a concepção de que tudo o que existe tenha vindo do nada; concepção que, no entanto, é um dos fundamentos mais essenciais da Fé, visto que, da realidade ou não da mesma, depende todo o conjunto de possibilidades da História Santa e da veracidade da Escritura e da Revelação (inclusive do valor do caminho iniciático retificado que funda seu critério de credibilidade sobre as bases do evangelho) (1). Tenhamos em mente pois a importância que tal questão teve na antiguidade (e que de fato conserva ainda nos nossos dias) e que sem a apreensão daquilo que ela realmente significa corremos o risco de comprometer a totalidade de nossa adesão aos artigos de fé, aquilo que chamamos verdades divinas. Além disso, se o problema da criação do mundo “ex nihilo” preocupou os filósofos desde os primeiros séculos de nossa era (2), esta ganhou no século XVIII uma adesão feroz e ruidosa que visava, acima de tudo, negar as verdades reveladas pela Santa Religião Cristã, como bem observou Joseph de Maistre em “Noites de São Petersburgo”: “Os físicos que tenho encontrado não admitem em absoluto a criação propriamente dita. Ao contrário, essa palavra os torna iracundos, e vários dentre eles fizeram desse ódio sua profissão de fé…”
E Joseph de Maistre não estava enganado... Efetivamente, o “Século das Luzes” caracterizou-se por uma forte carga anti-religiosa e pela vigorosa rejeição a todos os dogmas da Igreja; as inúmeras publicações nesse sentido que surgiram naqueles anos são a prova disso. Assim, desde 1729, apareceram inúmeros exemplares de “O Testamento”, livro póstumo do Padre Jean Meslier (1664-1729), que ecoou consideravelmente pelos círculos intelectuais da época, negando com feroz ironia todos os ensinamentos da religião; este, foi seguido em 1758 da obra póstuma de Claude-Adrien Schweitzer (chamado “Helvétius”): “Do homem, das faculdades intelectuais e de sua educação”, ensaio que considerava que a crença em Deus e na alma eram frutos diretos da nossa incapacidade para entender as leis da natureza. Então, em 1770, Paul-Henri Thiry, Barão d’Holbach, escreve o “Sistema da Natureza ou das Leis do Mundo Físico e do Mundo Moral“, texto abertamente anticlerical e ateu, que sugeria desligar a moral de toda referência religiosa e religá-la apenas aos princípios naturais… Deu-se assim também com Julien Jean Offray de La Mettrie (1709-1751), com Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814), apelidado de “o Marquês de Sade” que retomaram as teses materialistas da antiguidade e se impuseram sobre os filósofos enciclopedistas, tarefa iniciada em 1750 por Denis Diderot (1713-1784), obra singular na qual vão participar quase todos os escritores representativos da época: Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Étienne Bonnot de Condillac (1714-1780) e d'Alembert (1717-1783)... e isso não encontraria naquele século o seu fim (3) … Feita tal observação, vamos em frente.
Santo Agostinho tratou do tema em diversas das suas obras, especialmente para responder as críticas dos maniqueus que consideravam o relato da ação de Deus na Criação (Gênesis, capítulos 1 ao 3) uma cosmogonia como outra qualquer. Para Agostinho, Deus com o atributo da Onipotência criou, não de uma matéria preexistente mas "do nada", tudo o que há. A criação "ex nihilo" não deve ser entendida como criação a partir de um nada substancial, como se nada fosse alguma coisa; em “A Natureza do Bem”, ao explicar a expressão “nada foi feito sem Ele”, do Evangelho de João, diz Agostinho: “E, assim, se disse: ‘Sem Ele não foi feito nada’, uma vez que o nada, quando se usa com verdadeira propriedade, não é alguma coisa, não importa que se diga”. Portanto, ele defende que Deus levou o mundo à existência, a partir "do nada", nada significando pois absoluta inexistência.
No fragmento de texto extraído da obra “Confissões” que reproduzimos no caput deste artigo, o filósofo afirma que a própria contingência e transitoriedade das coisas existentes é prova de que não procedem da mesma natureza do Ser que as criou, pois, se assim não fossem, seriam imutáveis e necessárias, assim como Deus. Ou seja, está na natureza das criaturas serem contingentes, o que exclui a teoria de autogeração, pois a transitoriedade das criaturas que as coloca diante de um risco constante e necessário de retornar ao não ser, conduz necessariamente para explicar seu existir a um ser necessário e incontingente; como comenta Agostinho: “Todas as naturezas corruptíveis não são naturezas se não porque procedem de Deus; mas não seriam corruptíveis se tivessem sido geradas D’ele, porque então seriam o que é Deus mesmo. Por conseguinte, qualquer que seja a sua espécie, qualquer que seja a sua ordem, elas só possuem porque foram criadas por Deus; e, se não são imutáveis, é porque foram tiradas do nada” (De nat. boni).
Daí se conclui: todas as criaturas, são mutáveis e contingentes pois foram criadas do nada, não a partir da natureza de Deus, o único detentor da imutabilidade. A consequência natural de tal doutrina é que Deus torna-se o único Ser, e tudo o mais (que não é Deus) são reles entes, que devem sua existência e seu ser ao Ser, pois, por Ele foram criadas. Logo, o Ser é, sempre foi, e nunca deixará de sê-lo, dado sua imutabilidade, imperecibilidade, necessidade e atemporalidade. Todo restante da criação, porém, só passa a ser quando o Ser o cria, e quando o Ser desejar ele deixará de ser, pois, assim como é da essência de Deus ser necessário, é da natureza da criação ser contingente. Tal condição, empurra sempre o que é contingente para o "não ser" em constante devir; devir natural que só não empurra tudo o que é contingente para o "não ser" porque o Ser continua como mantenedor da existência da criação, como demonstra Santo Agostinho: “Assim, magnífica e divinamente disse o nosso Deus ao seu servo: ‘Eu sou aquele que sou’; e ‘Dirás aos filhos de Israel: Aquele que É me enviou a vós’. Ele é verdadeiramente, porque é imutável. Com efeito, toda e qualquer mudança faz não ser ao que era; portanto, Ele é verdadeiramente o que é imutável, e as demais coisas, que por Ele foram feitas, d’Ele receberam o ser segundo o seu modo particular” (De nat. boni., 19)
A Eternidade de Deus é o Próprio Deus
Na verdade o assunto já foi até tratado acima, todavia a explicação para a eternidade de Deus é, por si só, evidente: A eternidade não existe fora de Deus, como bem constatou São Tomás de Aquino: “A eternidade de Deus não é outra coisa senão o próprio Deus”. A eternidade é ao mesmo tempo Deus, e "o Ser de Deus" é, portanto, de onde tudo vem, e o "nada" de antes do tempo, quando nada existia (para tornar mais claro antes da existência de qualquer coisa). Isso lembra uma passagem de Jean-Baptiste Massillon (1663-1742) a qual Joseph de Maistre reproduziu em seu “Noites de São Petersburgo”: “Todo este mundo visível só está feito para o século eterno onde já nada passará: tudo o que vemos não é senão a figura, a espera das coisas invisíveis [...] Deus não atua no tempo mais que para a eternidade.” - Massillon, Sermão sobre as aflições.
O tempo está ligado ao mundo criado (lembrando que, como “o mundo”, o R.E.R compreende o universo criado), é constitutivo deste mundo e, porque não dizer, é esse mundo… Mas antes do mundo não existe tempo em absoluto e antes do tempo não existe mundo, o contato entre o “nada” e o “ser”, entre o “nada” e “a existência”, é ”a eternidade infinita” de Deus, é a eternidade como substância insubstituível do Ser eterno e infinito, um Ser “que não tem nem começo nem fim”, que “de eternidade em eternidade é Deus” (Salmo 90:2), que sempre foi e será, porém em uma duração que não se situa no tempo: “intemporal”.
O mundo criado é um mundo temporal, é um “mundo tempo”, a ponto de a ideia de um tempo antes do mundo ser impensável, inconcebível (Agostinho trata disso muito bem em suas reflexões no segundo volume de “Cidade de Deus”).
O Ser Coeterno não é precedido por nenhum tempo, adentrando os séculos pela “iminência de sua eternidade”, Sendo antes que todos os tempos, subsistindo em um eterno presente, o Ser eterno e infinito não tem nem passado nem futuro, é “a eternidade”; não é distinto do não tempo, é um não tempo que é nada, que é o nada (nihil), um puro nada, de onde tudo veio, e de onde se criou o mundo presente e as criaturas.
É por tal motivo que em todas as reflexões que versam sobre Deus, sobre “o Ser Primordial”, deve-se levar em conta primeiro, e antes de mais nada, que é preciso compreender a barreira ontológica que nos separa do Infinito, não tentar compreender “como Deus é”, mas sobretudo “como Ele NÃO É”, como não está situado no tempo, como “não é existente”, como não é temporal, como não é visível; ou seja, aquilo que Santo Tomás de Aquino resume nestas palavras: “De Deus consideremos não como é, mas como não é”, situando sua meditação na continuidade do Pseudo Dionísio, o Areopagita, doutor por excelência da “via negativa” (apofática), cuja duradoura influência na Idade Média se notará de forma sensível entre os principais doutores e teólogos.
A tradição hebraica, como testemunhado pelo profeta Baruch, proibia a pronúncia do nome de Deus, chamava-lhe “o Eterno”, e podemos afirmar sem medo qeu a intuição dos redatores das Escrituras não estava errada, porque se existe um Nome Divino por excelência “o Eterno” o é de maneira exemplar; diz o próprio Deus: “eterno é o Pai, eterno é o Filho, eterno é o Espírito Santo” (5) : a confissão da “coeternidade” das pessoas equivale à confissão da sua Divindade comum. Reclamando para si mesmo esta eternidade, Jesus proclama sua divindade: “Antes que Abraão fosse, eu sou” (João VIII, 58), magnífica “confusão dos tempos” que restitui à eternidade não como uma duração, que ignora, mas sim como sua intensidade: “Une o teu coração com a eternidade de Deus e serás eterno, espera com Ele os acontecimentos que passam diante de ti”.
Eis aí a explicação da razão pela qual o Divino, do mero ponto de vista das impressões existenciais imediata, parece subsistir em um profundo silêncio, dissimular-se no seio de uma noite misteriosa ou de ter sua morada em um deserto quase que inacessível aos homens. No entanto estamos cônscios que Sua presença misteriosa está permanentemente ativa no interior de cada movimento, cada sopro, cada momento presente; Deus permanece discreto mas firmemente ligado a suas criaturas, sendo Ele mesmo aquele em quem temos “a vida, o movimento e o ser” (Atos 17:28), aquele que atua em cada coisa e as sustenta em seu próprio ser, a mais íntima forma de realidade (6), em cada instante (7), pois segue sendo o “Ser eterno e infinito, que é a bondade, a justiça e a própria verdade; que pela palavra poderosa e invencível deu o ser a tudo o que existe”.
Notas:
1 - As diversas passagens abaixo, extraídas do Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, bastam para demonstrar a importância das Sagradas Escrituras no seio do Regime Escocês Retificado e, consequentemente, a confiança que nelas depositamos, sem a qual a iniciação se tornaria algo sem um objetivo real:
“Prosterna-te perante o Verbo encarnado e bendiz a Providência que te fez nascer entre os Cristãos. Professa em todos os lugares a divina religião de Cristo, e nunca te envergonhes por lhe pertencer. O Evangelho é à base das nossas obrigações. Se não acreditasses nele, cessarias de ser Maçom".
“O Evangelho é a Lei do Maçom, em que deve incessantemente meditar e seguir. A Espada que lhe estava em cima significa a força da Fé na Palavra da Verdade, sem a qual a lei por si só, não poderia conduzir o Maçom à Verdadeira Luz.”
“A Bíblia não é um símbolo, mas ela ensina-nos a Lei que foi conservada no Santuário do Templo e sobre a qual todo o Maçom deve meditar…”
2 - Os primeiros filósofos, cujos argumentos foram retomados depois por todos os pensadores materialistas de todos os séculos, principalmente por aqueles do Iluminismo, sempre afirmaram que a existência da natureza consiste numa eternidade de nascimentos e de mortes, numa corrente ininterrupta de movimentos e mudanças incessantes. Epicuro (-342,-270) por exemplo, começando seu raciocínio com a problemática do tempo, e fazendo referência ao princípio pré-socrático: “o nada não poderia nascer do nada”, mostrava-se rigorosamente conforme com as opiniões e princípios fundamentais da Grécia Antiga. Assim Platão, falando dos atomistas, os nomeará “os filhos da terra” (Platão, O Sofista, 245 e sq; Leis, X, 888), ou seja, aqueles que orientaram todos os seus esforços para demonstrar que, como a matéria se ordena segundo seu próprio movimento, era a única realidade sem origem e sem fim. Com efeito, a eternidade da matéria foi afirmada primeiro pelos pré-socráticos, Tales (-625, -547), Anaximandro (v. -610, -546) e Anaxímenes (-585, -525) até Heráclito (-544, -480) e Demócrito (-470, -370). Aristóteles retomará este tema e o desenvolverá amplamente em suas obras, depois Lucrécio (-98, -54) escreve De Rerum natura que expõe em versos o pensamento de Epicuro. Mais tarde, além de Siger de Brabant (1240-1280) e Boecio de Dacia (+ 1284) que defenderam no seio da Universidade medieval a eternidade do mundo e da matéria, são argumentos similares que encontramos nos aristotélicos muçulmanos como Avicena (980-1037) e Averroes (1126-1198), mas também Moisés Maimônides (1135-1204), o que obrigou também a São Tomás de Aquino (Suma teológica, I, q. 46, a. 1. videtur quod 2), a levar em conta esta concepção no seu exame da Criação. Esta idéia de uma eternidade da matéria foi de Giordano Bruno (1548-1600) em sua obra “Sobre a infinitude do Universo”. No entanto, foi no século XVII quando se verão expressar com mais virulência as teses materialistas com Tomás Hobbes (1588-1679), que propôs em seu Leviatã (1651) uma visão dessacralizada da compreensão do mundo, seguido por John Locke (1632-1704), depois por Pierre Bayle (1647-1706), que publicou em 1697 seu “Dicionário Histórico e Crítico”, obra que propôs uma versão do saber na qual Deus está ausente, prefigurando o célebre “Dicionário Filosófico” de Voltaire que teve a influência que já sabemos.
3 - Reivindicando a herança dos materialistas franceses do século XVIII, não é anódino constatar que em sua tese de doutorado, “Diferença da filosofia da natureza em Demócrito (v.-460 - v.-370) e Epicuro (v.-341 - v.-270)”, que depois de estabelecer claramente o que distingue as teorias atomistas de Demócrito e Epicuro, Karl Marx (1818-1883) chegou logo ao ponto que mais lhe importava, ou seja o problema do tempo: “O tempo deve ser excluído da noção de átomo, do mundo do ser, insistirá Marx, porque a matéria não é eterna e autônoma senão quando se faz abstração nela do elemento temporal, e nisso Demócrito e Epicuro estão de acordo” (K. Marx, Obras Filosóficas, vol I. Campo Livre, 1981). Aqui tocamos o ponto central da concepção materialista de Marx: “Há que reconhecer aqui algo muito profundo, diz Marx, o entendimento que não abrange como a substância pode ser independente (não criada), se pergunta como nasceu no tempo. O que lhe escapa, nessa operação (intelectual), é que fazendo da substância algo temporal, também faz do tempo algo substancial e destrói desta maneira a noção, porque o tempo feito absoluto já não é temporal” (Ibid.). Marx, ao abordar a questão do conceito grego da existência afirmando a eternidade da matéria, apodera-se de fato de um tema que vai colocar no centro de seu discurso materialista: “a eternidade do mundo”. É importante, sobretudo, notar que faz sua, totalmente, a postura dos gregos - para ele a ideia de criação é uma pseudo ideia.
Por que? Porque pressupõe que se coloque em um momento anterior ao ser um nada fictício, e que daí passa ao ser. É o que expõe Marx em seu famoso diálogo filosófico dos Manuscritos de 1844: “Quem gerou o primeiro homem e a natureza em geral? Eu só posso responder: sua própria pergunta é um produto da abstração. Pergunte-se como você chegou a esta pergunta; pergunte-se se sua pergunta não se faz partindo de um ponto de vista a que não posso responder porque é absurdo. Pergunte-se se esta progressão existe como tal por um pensamento razoável. Se você fizer a pergunta da criação da natureza e do homem, você faz por abstração do homem e da natureza [...] Você os coloca como se eles não existissem e, no entanto, você quer que eu prove que eles existem. Eu te digo então: deixe sua abstração e abandonará também sua pergunta, ou se você quer limitar-se a sua abstração, seja coerente, e pensa no homem e na natureza como se não existissem, então pensa em ti mesmo como se não existisses, posto que você é natureza e homem [...] sua forma de fazer abstração do ser da natureza e do homem não tem nenhum sentido, ou você é até este ponto tão egoísta que você coloca tudo como o nada e quer ser algo você mesmo?” (K. Marx, Manuscritos de 1844, Editora Sociais, 1962). É desnecessário acrescentar que a maioria dos pensadores do século XIX adotaram, com mais ou menos matizes, às teses materialistas, e supuseram todos, no mínimo, a eternidade da matéria como uma evidência: Hegel (1770-1831), Schopenhauer (1788-1860), Ludwig Feuerbach (1804-1872), Friedrich Nietzsche (1844-1900), etc. Além disso, além do pensamento filosófico, não se deve subestimar a enorme influência de Charles Darwin (1809-1882) sobre as consciências, que publicará, em 1859, seu livro “A origem das Espécies”, explicando, ainda que não negue formalmente a criação divina a reduz a quase nada, que as espécies evoluem por selecções naturais, coincidindo assim com Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) que, antes, já tinha dito que o mundo não foi criado tal e como diz a Bíblia, estabelecendo nas mentes um clima geral de profunda desconfiança, que se espalhou e quase se generalizou desde então, a respeito das teses da Revelação.
4 - “Antes de Deus fazer o céu e a terra, não fazia coisa alguma”. Com efeito, se fazia alguma coisa, que coisa fazia senão a criatura? E oxalá assim eu possa saber tudo aquilo que, realmente, desejo saber, tal como sei que não estava criada nenhuma criatura antes de ser criada alguma criatura. Mas se algum sentido volúvel vagueia pelas imagens dos tempos anteriores à criação e se admira de que tu, Deus onipotente,e criador e sustentáculo de todas as coisas, artífice do céu e da terra, durante inumeráveis séculos se abstivesse de tão grande obra, antes de afazeres, ele que desperte e repare que se admira de coisas falsas. Com efeito, como podiam ter passado inumeráveis séculos, que tu próprio não tinhas feito, sendo tu o autor e criador de todos os séculos? Ou que tempos teriam existido que não tivessem sido criados por ti? Ou como podiam ter passado se nunca tivessem existido? Sendo tu o obreiro de todos os tempos, se existiu algum tempo antes de fazeres o céu e a terra, por que motivo se diz que tu te abstinhas de agir? De fato, tu tinhas feito o próprio tempo, e os tempos não puderam passar, antes de tu fazeres os tempos. Se, no entanto, não existia nenhum tempo antes do céu e da terra, por que razão se pergunta o que fazias então? Na realidade, não havia ‘então’, quando não havia o tempo.” (Confissões de Sto Agostinho, Livro XI cap XII e XIII)
5 - Credo de Santo Atanasio (Quicumque vult)
6 - Geralmente é considerado em teologia, e de acordo com o que São Tomás expõe (Summ. Teol., 1, c. 8, a. 3), que Deus está naturalmente presente nas criaturas de três maneiras diferentes:
Pelo efeito de seu “Poder” porque todos os seres estão submetidos a seu poder;
Por sua “Presença” em tanto quanto está mais presente em nós que nós mesmos;
Por sua “Essência”, desde que age em toda parte, comunicando sem cessar a vida, o movimento e o ser.
7 - O tempo, em si mesmo, em seu próprio ser, não tem que ser real, porque não se torna real, salvo no momento em que que é percebido e pensado pela mente; o tempo não existe senão na mente, no momento em que a mente tem consciência dele, ou seja, no instante presente, e unicamente no instante presente, que é o único tempo real no seio do qual se desenvolve a vida, tudo o que advém ocorre sempre no presente, toda a vida existe apenas em um presente constante e permanente, que é a única dimensão da existência.
I.C.J.M.S.
Que Nossa Ordem Prospere !!!
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