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LIBERTATEM LAPIS

Willermoz e cagliostro

Atualizado: 16 de out. de 2020


Encontramos na biblioteca municipal de Lyon nas cartas trocadas entre Willermoz e Charles de Hesse (em particular na de oito de novembro de 1784) algumas preocupações com as operações de teurgia praticadas por alguns de seus contemporâneos, onde anunciava a presença de Cagliostro em Lyon desde outubro daquele ano. Sobre quem escreveu:

“Com ele tive quatro entrevistas particulares, na última nos enfadamos, por uma diferença extrema de princípios e convicções sobre pontos fundamentais, deixamos aqui a tarefa em face de maçons egípcios, o que reneguei vigorosamente e não nos tornamos ver”.


É possível que Willermoz conhecesse as histórias sobre Cagliostro, de sua origem e seu passado obscuro. Nascido em 1743 na cidade de Palermo na Itália, durante sua juventude se juntou a um bando de criminosos tendo sido preso várias vezes. Foi iniciado aos 17 anos na alquimia por Marano, este teria sido enganado e morto por Cagliostro que, após isto, fugiu e passou a viajar, indo ao Egito, Grécia, Pérsia, Índia e Etiópia, estudando o ocultismo e alquimia. Por estes motivos talvez JBW tivesse receios quanto às verdadeiras intenções de Cagliostro conforme se verifica em sua correspondência com outros estudiosos contemporâneos.


Um ano depois dedica uma longa carta ao mesmo destinatário, datada de 6-8 de novembro de 1785, onde descreve em minucias suas conversas com Cagliostro onde começa assim: “Entretanto Cagliostro segue na Bastilha...” e “continua mencionando o nome do cardeal de Rohan e o assunto do colar (em referência ao caso do colar de diamantes da rainha Maria Antonieta da Áustria)”. Conta com detalhes todos os milagres que se atribui Cagliostro, dentre os quais um “longo conjuro (feito em público com estardalhaço) e um mandamento feito pelo ‘Grande Deus’ aos espíritos infernais que o obedeçam no que ele quiser...”.


Willermoz entra nos detalhes das entrevistas. A ida de Cagliostro na França era para estabelecer seu rito egípcio, adotando o pseudônimo de “O conde Fênix, elegendo a loja “A Beneficência”, se fixou em Willermoz o convocando para constituí-lo como “depositário de todos os (seus) conhecimentos e estabelecendo-o como o principal instrutor de seu Rito”. Assim sendo quaisquer que fossem as segundas intenções deste personagem complexo e quase desconhecido, a fama de Willermoz como depositário, arquivista e instrutor já eram bem conhecidos e se estendia as várias regiões da Europa.

A primeira entrevista durou quatro horas, assim como as quatro seguintes. Willermoz escreveu: “estive esperando todos os dias por provas (da ciência do Conde) que não chegavam”. Segue então ponderando longamente sobre os argumentos e refutações de um e de outro protagonista. Finalmente após a longa e última entrevista, ambos enfadados, “não tornei a vê-lo, após três meses se foi em direção a Paris, todavia não recebi nenhuma prova de sua parte”.


Antes de ir-se, Cagliostro se aproximou de outra loja antiga em Lyon, filiada ao Grande Oriente da França, “A Sabedoria”, que acabara de adquirir um imóvel no bairro de Brotteaux próximo à loja “A Beneficência”.


“Ali encontrou uma sociedade ávida do maravilhoso e que jamais conheceu algo além da ciência das deliberações e banquetes maçônicos. Fez decorar uma enorme sala para a loja, o ouro brilha em todas as partes, e vão vê-la pela curiosidade, como um espetáculo... estabeleceram um numero fixo de 14 mestres... asseguram que cada mestre pagou a quantia de 600 libras... a loja tomou o título de ‘A Sabedoria Triunfante’ seguindo o rito egípcio... conheço alguns membros desta loja triunfante cuja ignorância e credulidades dão lástima, porém por todos os lados o desejo do maravilhoso e a ambição fazem as pessoas perderem a cabeça”.


Sobre este assunto uma carta do Marquês de Virieu (maçom e alquimista francês) a JBW com data de 12 de agosto de 1785 em que descreve os estratagemas de Willermoz e seu círculo íntimo como “medidas convenientes como antidoto a Cagliostro e seu ‘rito egípcio’ e prepara as vias para adoção de nosso regime”. As manobras de Cagliostro que ambicionava ‘o poder maçônico’ após seu fracasso com Willermoz, tanto em Lyon quanto em Besançon. Virieu ressalta que a principal diferença doutrinal “é o Cristo, em quem Cagliostro não crê”, e por esta única razão que os prodígios realizados pelo ‘mago’ (que ele não põe em dúvida, mas não apoia) “procedem de fontes impuras”. Porém se mostra preocupado com a consagração feita por Cagliostro da loja “A Sabedoria Triunfante” e que “ensine feitos extraordinários cujos prodígios arrastem mentes curiosas e ignorantes”.


Cagliostro passou a entreter a corte real com suas mágicas e contos. Por alguns anos Cagliostro foi um dos favoritos da corte francesa e protegido do rei Luís XVI até se envolver no famoso Caso do colar da Rainha, um dos principais eventos que levaram ao início da Revolução Francesa em 1789. Graças ao seu envolvimento nesse escândalo, Cagliostro foi encarcerado na Bastilha por seis meses e depois expulso da França. O que encerrou suas pretensões maçônicas com o rito egípcio na França.


Foi então novamente para Roma em 1789 onde praticou sua medicina e tentou fundar, após muitos anos, uma loja maçônica, nos moldes das outras que já havia originado. Foi preso pela Inquisição em 1791 no Castelo Sant’angelo, acusado de heresia e bruxaria. Após 18 meses de deliberações a Inquisição sentenciou Cagliostro à prisão perpétua. Cagliostro tentou fugir, mas foi preso novamente e transferido para a solitária no castelo de São Leo, onde ele morreu em 26 de agosto de 1795.


I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!


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