O conteúdo aqui apresentado já foi publicado no Blog anteriormente nas seguintes postagens: Jean Baptiste Willermoz na França Após o Convento de Wilhelmsbad - Parte I, Jean Baptiste Willermoz na França Após o Convento de Wilhelmsbad - Parte II, Jean Baptiste Willermoz na França Após o Convento de Wilhelmsbad - Parte III e O Charlatanismo de Cagliostro e o Perigo Para o Regime Retificado. No entanto, já que estamos nos dedicando a tradução da obra "Un Mystique Lyonnais et les Secrets de la Franc-Maçonnerie - 1730 - 1824" da arquivista francesa Alice Joly, repetimos o conteudo aqui, cobrindo assim o capitulo X. As notas de rodapé serão, dessa vez, suprimidas (uma vez que constam nas outras postagens), manteremos porém as notas do blog no corpo do artigo).
Prosélitismo a favor do sistema secreto de Charles de Hesse. — Relatório das operações de Wilhelmsbad. — Regra maçônica para uso das Lojas Unidas e Retificadas. — A oposição dos Philalèthes. — Insolência do Marquês Chefdebien. — Distúrbios nos círculos dos Coens de Paris. — Saint-Martin critica as variações de Willermoz. — A publicação de Bayerlé. — Resposta às assertivas do Irmão a Fascia. — Decadência dos Diretórios Retificados na Alemanha. — Estado da Província da Auvergne de 1782 a 1785. — O Convento provincial da Quinta Província. — Cagliostro em Lyon.
Os primeiros passos de Jean Baptiste Willermoz em seu retorno à França mostram seu otimismo e sua subserviente vontade de colaborar com os príncipes alemães, cujos favores e amizade lhe eram tão caros. Ao passar por Estrasburgo, ele concedeu a Saltzman e Durkheim o grau de Aprendiz no sistema Gottorp e fez a leitura do catecismo em uma sessão do diretório de Borgonha. Em Lyon, ele continuou seus esforços como prosélito. Sete ou oito de seus discípulos, escolhidos entre os Grandes Professos, também receberam este primeiro grau. O irmão Giraud, que estava lá, também participou desses favores e retornou à Itália com documentos que lhe permitiram beneficiar seus compatriotas com este novo sistema.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: o Chanceler de Lyon recebeu muitas e muitas provas de amizade dos príncipes alemães que lideravam a Ordem Retificada. A última foi sua iniciação no sistema secreto de GOTTORP. Charles de Hesse ensinou ali, segundo seus princípios pessoais, uma doutrina esotérica proveniente das teorias de WAECHTER e HAUGWITZ. Curiosamente o conde ostentava o título de PAPA em uma pequena igreja secreta. Willermoz voltou então a França encarregado dos catecismos dos primeiros graus de GOTTORP, com a missão de divulgá-los a alguns Irmãos escolhidos da França e da Itália. Interessante pontuar que Willermoz, que fora divulgar um sistema, acaba por retornar como "apóstolo" de outro.]
Em Lyon, ele continuou seus esforços como prosélito. Sete ou oito de seus discípulos, escolhidos entre os Grandes Professos, também receberam este primeiro grau. O irmão Giraud, que estava lá, também foi escolhido e retornou à Itália com documentos que lhe permitiram beneficiar seus compatriotas com este novo sistema. Em 30 de dezembro Willermoz ainda propôs três candidatos ao segundo grau, eram eles o Cavaleiro de Grainville, M. de Bory “ex-comandante do rei” e seu sobrinho Jean Provensal, garantia-lhes o mérito e o elevado grau de instrução mística pelo enorme aprendizado que já possuíam nos círculos Cohen.
Willermoz fizera a propaganda acerca desse sistema somente entre os mais instruídos de seus amigos. Os critérios de escolha se deram muito mais por complacência para com o Sereníssimo irmão a Leone Resurgente do que por zelo. Naquela época o principal desejo do Chanceler de Lyon era explorar a notoriedade do Convento de Wihelmsbad a fim de fortalecer os fundamentos da Ordem Retificada, buscando para ela o brilho e prosperidade que lhe faltavam.
A reunião geral da Ordem não havia adicionado nada de novo para os Cavaleiros da Cidade Santa. Além de disposições contraditórias e planos inacabados, faltava, portanto, inicialmente traçar um retrato do Convento que corrigisse a realidade, com o objetivo de tornar os presentes discípulos, assim como os futuros, um objeto de edificação. Uma circular oficial, datada de 8 de dezembro de 1782, foi enviada às lojas sob a incumbência da Província de Auvernia. Ao ler esse relatório, tinha-se a impressão de um bom acordo, a emulação por um objetivo único e unanimemente compartilhado, havia sido o único sentimento que inspirara os delegados de Wilhelmsbad; também podia-se imaginar que o objetivo proposto era reunir todos os francos-maçons em uma única sociedade, concordando sobre seus princípios comuns; finalmente, que uma das decisões mais importantes, se não a mais importante, foi a de manutenir para Ferdinand de Brunswick o título de Grão-Mestre-Geral. Mas, deixando de lado as belas frases da circular do Diretório de Lyon, a que se poderia dar crédito acerca das conquistas do Convento? Teria o convento encontrado a verdade primitiva da Maçonaria “ao colocar-se em meio aos sistemas” depois de ter examinado TODOS os tipos de rituais, regimes e sistemas praticados por TODAS as nações? Não se insinuava que foi após imensas análises sem partidarismo e imensas buscas que foram compostos os graus simbólicos e a Regra maçônica promulgados em Wilhelmsbad? Também é importante notar que, embora a carta de 8 de dezembro alertasse os Irmãos para que sancionassem os trabalhos do Convento, ela dava a esse direito apenas um sentido restrito, aplicável apenas ao futuro código de administração. J.B. Willermoz não era um homem que deixaria imprudentemente colocar em questão as doutrinas que impusera aos seus Cavaleiros Benfeitores, tendo conseguido que todos os maçons retificados da Alemanha os aceitassem.
A ratificação das Atas de Wilhelmsbad deveria teoricamente ser realizada no Inverno de São João de 1783. Mas nesse momento não ocorreu nenhum Capítulo na França ou na Alemanha. Os votos - se é que votaram - ocorreram muito mais tarde, e isso por múltiplas razões, sendo uma das principais o fato de que o famoso código de administração da Franco-Maçonaria Retificada ainda não estava pronto para ser promulgado. Foi para suprir este atraso que Willermoz se esforçou para colocar em prática algumas modificações, que já havia mencionado nas sessões. Nelas ele corrigirá e riscará o próprio código maçônico, que havia sido impresso em 1779, após a reunião de Lyon. As reformas introduzidas eram de pouca importância. A supressão do Diretório Nacional da França e algumas mudanças de nomes; tais eram os resultados da reorganização anunciada. Foi assim que os Diretórios Escoceses se transformaram em Diretórios Provinciais, e que as Grandes Lojas Escocesas, que eram autorizadas apenas a conferir os graus superiores ao quarto grau, passaram a se chamar Regências.
A promulgação da "Regra maçônica ao uso das Lojas Reunidas e Retificadas, estabelecida no Convento geral de Wilhelmsbad" trouxe mais mudanças. O Chanceler de Lyon havia anunciado em sua circular que, de acordo com as decisões tomadas, uma regra em alemão e francês seria publicada para ser encaminhada ao Aprendiz desde o momento de sua entrada na Ordem Rectificada, com o objetivo de que ele não ignorasse seus deveres e o objetivo da sociedade. Era anunciado para mais tarde um comentário de instrução à Regra.
O Convento havia tentado promulgar, tão oficialmente quanto dizia Willermoz, essa regra e impô-la como um documento fundamental? De qualquer forma, no meio de todas as moções e discussões, onde o partido dos místicos tinha vantagem, a coisa foi muito discreta. O Chanceler de Lyon entendia se valer da autoridade de Wilhelmsbad para conseguir que um documento que continha o essencial de sua fé fosse aceito. Acreditamos sinceramente que ele foi o autor dessa instrução, mas ele próprio especificou que o mérito pertencia ao Chanceler a Flumine.
A Regra continha nove artigos, divididos em alguns parágrafos, definindo de forma sucinta o motivo de existência da Maçonaria e os deveres dos franco-maçons. Não se encontra mais do que os habituais princípios espiritualistas herdados dos Élus Cohen, bem como a mesma esperança final de regeneração, de poder e de felicidade infinita. A novidade desse documento reside na clareza e no fato de ser encaminhado ao candidato desde sua entrada na sociedade, e não depois de um período de teste, na porta de uma classe secreta. Era desde os primeiros passos no Arte Real que o Aprendiz podia meditar essas palavras reveladoras, essas promessas maravilhosas: "você recuperará essa semelhança divina, que fazia parte do homem em seu estado de inocência, que é o objetivo do cristianismo... Você se tornará a criatura amada do céu... sempre livre, feliz e estável, passará por esta terra como os reis, beneficiando os homens e sendo modelo para seus irmãos". Alguns discursos ocasionais, proferidos em "La Beneficencia" em Lyon em 1782 e 1783 mostravam muito bem a coragem que Willermoz recebido na Alemanha, autorizando-o a começar a partir dos graus simbólicos seus ensinamentos místicas e declará-la mais abertamente do que havia feito até então, pois considerava a franco-Maçonaria como "um presente que a Divindade enviou aos mortais fracos, para guardá-los na difícil jornada da vida". Os princípios de Wilhelmsbad eram interpretados de forma livre e Willermoz esboçou uma reorganização de sua Ordem, tanto em seus graus simbólicos quanto em seus graus mais elevados e mais secretos; como uma nova tentativa de atender à imagem evanescente e mutável da verdadeira Maçonaria. Dessa vez, é provável que seus esforços em direção a esse ideal inalcançável não tenham sido capazes de se desenvolver no ambiente discreto dos círculos de seus discípulos e amigos. O barulho feito entre os Irmãos da França e da Alemanha foi considerável no pequeno universo dos maçons para que a personalidade do Chanceler de Lyon, suas doutrinas e intenções, pudessem permanecer a salvo de comentários no futuro.
É um fato que o ambiente dos ocultistas franceses estava profundamente dividido no início de 1783 e que Willermoz foi a causa dessas intrigas, discussões e desavenças. Franco-Maçons e hermetistas finalmente perceberam a maneira invasora de agir do lyones e como esse estava lentamente tomando lugar no mundo dos iniciantes nas ciências ocultas. Eles toleravam mal sua inocente autoconfiança, que o fazia confundir seus próprios temas com o triunfo da verdade; eles presumiam que seu desejo de unificar a Maçonaria escondia a pretensão de levar todos os maçons para seu próprio sistema. Em seu zelo pela Ordem, só se via a prova de um caráter autoritário e ávido por dominação. Ele foi acusado de hipocrisia. Sua vaidade foi ridicularizada, apesar de seus amigos argumentarem sua boa fé e amor sincero pelo bem.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A reação dos ocultistas franceses contra Willermoz não porta nenhuma anormalidade; Willermoz se declarava como detentor de uma verdade ímpar e que somente em seu sistema poderia ser partilhada, sua forma de fazer maçonaria era (a seu entender) a única verdadeira e todas as demais eram fruto de erros ou de embuste. Nos meios maçônicos atuais ele encontraria certamente fortíssima oposição e facilmente seria taxado de fanatico, charlatão, sectário, entre outros.]
O marquês de Chefdebien foi um dos primeiros a espalhar falatórios venenosos sobre Willermoz. Ao voltar de Wilhelmsbad acompanhado do austríaco Kolowrat, os dois criticaram em meios maçônicos em Paris o trabalho realizado no Convento Geral. O Irmão Capite Galeato estava cheio de rancor. Não conseguira cumprir na Alemanha a missão que lhe fora confiada por Savalette de Lange, pois em todos os pontos, Willermoz havia contra-atacado seus esforços. A lembrança de seus ecos o prejudicava como se fosse uma ofensa pessoal. Não teve problema em levantar a indignação nos meios filaletas, onde o enviado atacou por muito tempo o círculo dos lyoneses. Ele se exaltava ao pensar que os avanços realizados pela loja "Amigos Reunidos" em Paris haviam sido rejeitados nas últimas sessões do Convento de Wilhelmsbad, enquanto os votos favoráveis consagraram o sistema dos Cavaleiros Benfeitores como o modelo de toda verdadeira maçonaria.
Esta decisão lhe parecia ainda mais inaceitável porque o Chanceler ab Eremo era um deles, pois desde 1778 pertencia, a título de associado livre, à classe XII dos "Amigos Reunidos". Esse mesmo título dava a Savalette de Lange autoridade sobre ele, permitindo um início de represálias. Em 8 de outubro de 1782, os Filaletas reuniram suas queixas contra J.B. Willermoz em quatro pontos de acusação e enviaram-lhe uma carta ameaçadora para obrigá-lo a renunciar a seus cargos.
Ab Eremo, rapidamente conheceu as razões escondidas da oposição que o ameaçava. Ele tinha muitos amigos em Paris para não receber os ecos do que estava sendo tramado contra ele. Ele tomou a notícia de forma trágica. Tudo o que poderia atacar sua obra ou incriminar sua pessoa parecia de extrema importância para ele; ele se sentiu perseguido e se atreveu a comparar seus problemas a um dos momentos da Paixão de Cristo. No entanto, ele não era o tipo de pessoa para ficar muito tempo como vítima impassível e resignada.
No dia 27 de novembro, ele enviou uma resposta para Court de Gebelin, feita para explicar e justificar o papel que desempenhara em Wilhelmsbad. Os Filaletas não consideraram o envio recebido e passaram dois meses sem responder. Em 28 de janeiro de 1783, sem esperar mais, Willermoz emitiu uma nota, desta vez para Tassing de Lestang . Ele se dirigiu mais ao amigo do que ao Filaleta, solicitando de alguma forma se suas justificações haviam sido aceitas. Ele ameaçou enviar a cada membro da loja parisiense uma cópia de sua defesa, pois tinha certeza na força de seus argumentos e não concordava em ser condenado sem ter se defendido. No entanto, no mês seguinte, seu ardor de combate parecia ter se apagado. Ele declarou renunciar a qualquer reparação e só desejava não mais tratar com os Filaletas . Sua carta de renúncia e desdém trouxe uma resposta insolente de Savalette, datada em 4 de março , onde especificava que não desejava mais nada de Willermoz, a não ser sua demissão. Ele também zombava das pretensões de Willermoz de querer "dominar os outros na Europa". Willermoz, por sua vez, deixando de lado essa polêmica ácida, ficou satisfeito em fazer chegar sua justificação aos amigos de confiança que, como Saltzmann e Tieman, poderiam tomar partido por ele e defender sua reputação com todo o conhecimento de causa.
No entanto, Savalette não se desarmou. Ele tentou contornar o duque de Havre de Croy, propondo unir em Paris "A Beneficência" com "Os Amigos Reunidos"; no entanto, o Grão-Mestre Provincial de Auvernia percebeu perfeitamente os inconvenientes de tal aliança. Em junho de 1783, Millanois, passando pela capital, foi objeto de manifestações de amizade, confiando-lhe determinados boatos pelos quais Savalette pretendia denegrir o Convento de Wilhelmsbad e a influência dos príncipes alemães; no entanto, ele propunha, sem consciência, contribuir para o desenvolvimento da Estrita Observância em Paris, com o objetivo de confiar a ele sua direção. Tal incoerência de conduta em um homem que, por outro lado, nunca escondeu uma vida bastante relaxada e que ostentava com muito gosto suas aventuras, permitiu a Willermoz se consolar com bastante facilidade de sua ruptura.
Chefdebien, por sua conta, havia aproveitado sua passagem por Lyon para tratar o Chanceler ab Eremo com a maior insolência possível, sob o pretexto de se livrar de sua responsabilidade pelas decisões tomadas entre "Os Amigos Reunidos" em Paris. Willermoz considerou oportuno censurar veementemente essa abordagem inapropriada, o que lhe custou uma carta "cheia de ironia, sarcasmo e injúrias", a qual ele opôs com 24 páginas de explicações circunstanciais em 12 de junho. Suas desculpas e demonstrações visam a expor que não tinha perseguido em Wilhelmsbad nenhum desejo premeditado e, sobretudo, que nunca foi o seu sistema particular que o Convento havia adotado, mas sim a verdade encontrada nos rituais mais antigos. Com a mesma explicação, ele também se esforçava para se limpar da acusação de ter querido manter as lojas de Paris sob sua dependência. Não se sabe se Chefdebien continuou a polêmica. Ele não tinha boa fé pessoalmente e já estava planejando fundar um regime maçônico em Narbona por conta própria com a ajuda de empréstimos das doutrinas de Willermoz e das lendas da Ordem Rectificada. Ele não quis manter relações com o círculo bem informado dos Grandes Professos de Lyon.
De qualquer maneira, os Filaletas guardaram por muito tempo sua prevenção contra J.B. Willermoz. Savalette planejava eclipsar o prestígio da Ordem Rectificada e do Convento de Wilhelmsbad. Ele se meteu no jogo e tentou reunir um Convento geral de todos os maçons místicos que consagraria o triunfo dos Filaletas, a prova de sua ciência, de seu ecletismo e de seu amor pela verdade. Durante o ano de 1784, convocações foram enviadas para todos os tipos de personagens, de seitas e de nacionalidades diversas, herméticos, ocultistas, místicos ou charlatões; apenas Jean-Babtiste Willermoz foi excluído.
Em um círculo que tocava ainda mais o Chanceler da Província de Auvernia, outros adversários levavam campanhas virulentas contra ele. Isso é o que se desprende de uma carta escrita por Saint-Martin em 10 de fevereiro de 1783. Parece que algumas pessoas haviam imaginado admitir entre elas alguns dos inimigos de Willermoz com o objetivo de resistir melhor a sua influência e combater seus projetos. Onde essas recepções escandalosas eram realizadas? Na "Beneficência" em Paris? Em um Templo Cohen? Ou nessa pequena escola que Saint-Martin se propôs a criar? Não sabemos. No entanto, como Saint-Martin estava envolvido nessas recepções e se sentia obrigado a presidi-las, trata-se sem dúvida de uma reunião de discípulos de Pasqually. Os Cohen, certamente, tinham boas razões para não tolerar as liberdades que o Mestre Willermoz tomava com sua doutrina. O proselitismo em favor de opiniões particulares ao sistema de Gottorp e aos pietistas alemães poderia desagradá-los.
Isso é mera hipótese. O que é certo é que Willermoz chamou Saint-Martin em sua ajuda, acrescentando-lhe a tarefa de defender sua pessoa e sua obra, o que o Filósofo Desconhecido recusou. Depois de muitas explicações circunstanciais, ele recusou o papel de defensor que seu amigo lhe solicitava. A insistência em fazê-lo tomar partido teve como único resultado romper o compromisso de silêncio que ele rigorosamente mantinha há tantos anos nesse pacto de benevolência, que só era observado em consideração aos bons serviços prestados pelo outro, sempre por amor à sua própria tranquilidade e pelo lembrança de seu aprendizado místico comum.
Claude de Saint-Martin condenou severamente as variações de seu amigo. Como em 1775, ele então se sentiu obrigado a expressar claramente os motivos de sua desaprovação. Embora tenha se diferenciado dos demais, de forma desdenhosa, por não querer saber muito sobre essas empresas, sabia o suficiente para reprová-las completamente. Suas reprovações eram dirigidos tanto às suas reformas mais secretas quanto aos enfoques mais aparentes. Abarcavam toda a "causa" de Willermoz e essa causa lhe parecia muito má. Parecia-lhe "viciada", empoleirada em preocupações materiais, embaçada de orgulho, direcionada para o efeito de uma inflação de ambição irracional e, por tudo isso, consagrada a um fracasso certo. Apesar da cortesia das fórmulas, a condenação é sem esperança de recurso.
"Eu apreciava, escrevo, o seu desejo de avançar e descobrir os sábios, mas gostaria que tivesse sido feito com menos aparato e menos estardalhaço; também acreditava que o enorme fardo que você tomou não o esmagaria, ficando finalmente bem longe do que procura".
A segurança que o chanceler de Lyon exibia o irritava, assim como sua incompreensão crônica; ele recomendava a prudência e o fazia sentir que, depois dos quarenta, já era hora de um sábio se defender "da menor falta de consideração" em sua conduta espiritual. As objeções que ele levantava eram principalmente de ordem mais geral. O Filósofo Desconhecido tentava fazer com que seu correspondente entendesse que essa ambição de unificar a ciência mística, sob uma disciplina comum, essa "esperança de concentrar o espírito nos códigos e nas escolas", com o objetivo de poder dirigir seus progressos e supervisionar sua difusão, corre o risco de fracasso certo, já que a própria natureza de todo místico é ser individual, livre e quase incomunicável.
Willermoz não gostava muito de críticas e, depois de um tempo, a amabilidade - um tanto quanto distante - com que Saint-Martin o tratava lhe parecia desagradável. As admoestações de seu amigo pareceram-lhe um indício de má vontade, de orgulho e teimosia. Sua raiva chegou a tal ponto, que o fez negar toda sua carreira pregressa, toda sua experiência passada em sociedades secretas, o que lhe era tão caro. Era mesmo necessário acusá-lo de ser volúvel? de ter comportamento irrefletido? zombar de não ter valido a pena recrutar "sábios", já que depois de dezessete anos ele não havia encontrado um único “homem” em seus assuntos? Seria necessário se espantar que somente na Alemanha ele teria encontrado “verdadeiros eleitos” sobre a terra que mostravam virtudes divinas, tendo inveja a ponto de não segui-las? Seria necessário virar as costas aos meios disponíveis? Os receios de Saint-Martin, que parecia obstinado a desprezar tudo o que a priori ignorava, era mais do que ele podia suportar. Willermoz, superado por tão dolorosa obstinação, clamou por Deus. Era essa a hora em que Deus deveria vir para cobrar suas dívidas e recompensar sua boa vontade; todos os dias ele esperava por um sinal divino, por um “aceno” misterioso que lhe indicasse uma aprovação sobrenatural; esperava que a vingança estivesse próxima e que Saint-Martin estivesse perto de ser obrigado a reconhecer qual dos dois estava por fim mais avançado na via mística e qual dos dois agradava mais ao Senhor.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A postura de Willermoz ante seus antagonistas, sua rejeição a existência de pensamento crítico entre seus discípulos, assim como a defesa da tese de que somente seu sistema possuía as verdadeiras chaves da maçonaria, sem mencionar que - para ele - aqueles que o detratavam deveriam tornar-se alvo da “vingança divina” mostra que o Lyones sofria de uma espécie de delírio religioso de grandeza. A presença de um delírio de conteúdo religioso preenche critérios do DSM-IV para transtorno delirante ou parte do critério A para esquizofrenia constituindo um quadro Psicótico, e caracteriza-se pelo seu conteúdo espiritual, místico ou religioso, com a presença de alucinações visuais e auditivas, podendo ocorrer de forma individual ou coletiva. Estes delírios podem ser combinados com outros delírios, como delírios de grandeza (a crença de que a pessoa afetada foi escolhida por Deus, por exemplo), por delírios de controle ou por delírios de culpa]
O Filósofo Desconhecido achava muito desagradável a forma de discutir de seu colega lyones. Alusões vagas, observações ácidas ou grandiloquentes justificações não eram apreciadas por Saint-Martin. Sutil e polido, sempre se preparava para "cair de pé" novamente. Ele queria não prejulgar o valor de seus próprios méritos aos olhos do Eterno, mas por isso não admitia as novidades que Willermoz introduzia tanto na doutrina da Reintegração quanto na doutrina cristã.
Infelizmente, ainda não possuímos informações suficientes para determinar exatamente quais eram essas novidades mencionadas. Sabemos que Willermoz professava duas teorias sobre a natureza de Jesus Cristo que deixavam Louis-Claude de Saint-Martin nervoso e preocupado com as imprudências teológicas que o outro cometia com tanta ingenuidade. Também sabemos que Willermoz pode ter sido inspirado pelos métodos extáticos do pietista Haugwitz ou por um desprezo natural pelos raciocínios e pela razão, mostrando certo desdém pela "porta da mente". Ele pretendia levar seus discípulos à luz pelo coração. No entanto, sem mais informações sobre a correspondência entre os dois amigos, é difícil compreender o contexto e o significado dessas referências.
As mudanças que ele preconizava também atingiam pontos importantes da doutrina secreta. Realmente não sei qual era a inovação relacionada com a "emanação" que parecia excelente para o lyones porque dava ao menor o complemento das faculdades necessárias para a contemplação. Não fica claro se se tratava de pura teoria ou se Willermoz estava introduzindo, nesta época, cerimônias mais eficazes do que as operações de Pasqually, pois não sabemos mais nada com precisão além do que se pode extrair do trecho de Saint-Martin, onde ele desenvolve suas objeções de forma obscura.
"Parece-me que você deixa a dificuldade inteiramente subsistir, apesar de, pelo menos, dar o complemento das faculdades necessárias para a contemplação divina, porque, uma vez que você os deixa na suspensão da ação espiritual temporal, isso basta para dar toda a força à minha objeção e me impedir de estar do seu lado. O adjuvamentum não muda nada na tese, porque, tomando-o como geral ou particular, sempre lhe faltaria um concurso para justificar as consequências que quer explicar e essa competência já não existe quando a ação que a produziria é suspensa."
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: “Adjuvamentum” é uma palavra latina que significa "ajuda" ou "auxílio". No contexto das declarações acima, parece que o adjuvamentum se refere a algum tipo de ajuda ou auxílio que é dado para complementar as faculdades necessárias para a contemplação divina. No entanto, não é possível determinar exatamente o que é esse adjuvamentum sem mais contexto ou explicação.]
Para entender o significado desse trecho, seria necessário saber o que Saint-Martin denomina como "ação espiritual temporal" e "adjuvamentum". Essas expressões são usadas de forma geral ou designam cerimônias específicas do culto secreto? Nas instruções do Templo dos Élus Cohen de Lyon, a expressão "ação espiritual" é sempre usada no sentido mais amplo, designando o papel devido aos espíritos puros, enquanto "ação espiritual temporal" é propriamente sua tarefa no mundo terreno como intermediários entre Deus e o homem. A palavra "adjuvamentum" é uma palavra misteriosa. Poderia sugerir uma cerimônia de iniciação, comunicando o espírito aos novatos, apagando as consequências do pecado original, mas estamos no domínio das hipóteses.
Ao evocarmos o estado do desgraçado menor caído, de acordo com o Tratado da Reintegração, incapaz de conhecer nada por si mesmo, tendo guardado apenas a vontade de suas faculdades primárias, compreendemos que Willermoz tenha sido tentado a encontrar, por qualquer meio, uma ajuda, um complemento, que lhe permitisse se aproximar de seu Criador sem precisar de intermediários.
Para um discípulo de Pasqually essa era a pior heresia que se poderia imaginar! Todo o ensinamento do Mestre, toda a sua descrição do mundo, toda a razão de ser de seu culto, repousava exatamente sobre essa doença do ser humano degradado. Independentemente da natureza e do poder do "adjuvamentum" que Willermoz propunha, Saint-Martin, um Cohen ortodoxo, não podia nem aceitá-lo nem compreendê-lo, pois excluía "a ação espiritual temporal", o concurso dos espíritos puros nas relações do homem com a Divindade, ou seja, o essencial da fé secreta que ele possuía de Pasqually.
Saint-Martin perdoava o fato de seu amigo ter tomado emprestado o segredo de outra sociedade para promover sua própria doutrina e ensinamento. A definição mística do objetivo da Maçonaria lhe parecia uma verdade geral e não entendia por que deveria ser reservada apenas para uma única ordem. A sua objeção era na verdade à publicidade "repreensível" que todas essas controvérsias davam às suas crenças mais sagradas. Ele criticava o esforço do seu amigo em negar a evidência e não querer reconhecer que o objetivo da sua associação era o mesmo que o de Pasqually e o mesmo que ele expunha em seus livros. Ele sabia que, nos graus mais elevados, os membros das lojas de seu amigo eram ensinados não apenas sobre moral e virtude, mas também sobre uma ciência religiosa "que liga tudo" e que permite ao homem tocar na árvore do conhecimento e desfrutar de frutos misteriosos.
Saint-Martin sempre quis manter sua liberdade afim de preservar o tempo de reflexão necessário para sua vida pessoal. Ele escreveu em 10 de fevereiro de 1783:
"Vejam o que vocês criaram, quantas explicações, justificativas, acusações e condenações. Tudo isso é como fogo e eu não vou derramar uma gota d'água para apagá-lo.".
Ele não sabia o quanto estava certo, porque ignorava, nessa data de março de 1783, que novas tribulações se apresentaria e obrigariam Willermoz a um trabalho de controvérsia ainda mais longo e difícil do que todas as cartas explicativas que ele até então havia conseguido escrever.
Dessa vez, o ataque ocorreu na Grande Loja de Nancy, onde em 13 de novembro de 1782, o Irmão Bayerlé, prefeito, leu uma crítica ao Convento de Wilhelmsbad, de autoria dele. Os lorrenos, seduzidos por seus argumentos, decidiram imprimir esse trabalho e distribuí-lo em todas as províncias da Ordem Rectificada. Em 12 de abril de 1783, uma carta circular dirigida a todas as Grandes Lojas Escocesas anunciava a edição do volume e os motivos de sua publicação.
A obra se intitulava "De Conventu generali latomorum apud aquas Wilhelminas prope Hanauviam oratio". Como era adequado para uma obra que se propunha a seguir as puras tradições do Rito Templário, Bayerlé assinou-a com as iniciais de seu nome de Ordem e de todos os seus títulos capitulares. Ele inscreveu na página do título essa frase emprestada das "Filípicas" de Cícero: "Cojus vis hominis est errare; nullius, nisi insipientis in errore persevferare". As vinhetas que ornamentavam as suas páginas iniciais e finais eram para que se soubesse entender um excelente índice dos pensamentos secretos do autor. Representavam os símbolos alquímicos do Phoenix e do Pelicano, com as divisas "enutrit suos" e "perit ut vivat", que se aplicam à Pedra Filosofal.
Na verdade, era em nome desses princípios que ele se esforçava tanto para explicar que o Irmão a Fascia estava se opondo às conclusões do Convento de Wilhelmsbad. Suas críticas tinham como objetivo impedir que elas fossem aprovadas pelas lojas templárias e também tinham como objetivo "abrir as bocas que a prudência obriga a manter fechadas por um tempo e determinar os Irmãos respeitáveis, depositários dos segredos que não ousam confessar, confiando-os aos Irmãos dignos de sua estima e confiança". Portanto, para aqueles que soubessem ver, a obra de Bayerlé era mais uma crítica às operações do Convento geral do que um chamado aos sábios desconhecidos que possuem o segredo da Grande Obra.
Se há de se crer no autor, seu livro teria sido escrito em alguns dias, de 22 de outubro a 6 de novembro de 1782, sob o efeito da indignação que lhe causou o relatório oficial do Convento. É provável que Chappes de la Henriére, que estava voltando da Alemanha, tenha contado ao seu compatriota muitos detalhes que interessavam a sua causa, desenvolvendo a maioria das queixas através de sua pluma, em um estilo fácil, familiar e às vezes espiritual, mas bastante pretensioso com desenvolvimentos grandiosos ou citações tiradas de Cícero.
Ele era um hermetista convicto de que o segredo da Pedra Filosofal era o objetivo supremo da Maçonaria e a explicação da antiga riqueza dos templários. Bayerlé estava ansioso para ficar como membro de uma sociedade que pretendia continuar a tradição da Ordem de Jacques de Molay. Ele estava convencido de que a sabedoria perdida dos infelizes cavaleiros só poderia ser encontrada entre aqueles que se diziam seus herdeiros, então considerava como um grave erro a decisão tomada em Wilhelmsbad de abandonar qualquer pretensão de reconstruir a Ordem do Templo, assim como a confiança na lenda dos Superiores Desconhecidos. Esse era o principal ponto de reprovação e dessa reprovação vinham todos os detalhes, que estavam presentes em seu livro.
Ele entendia muito bem o que estava ali oculto e o que significavam os termos "beneficência" e "religião primitiva" que eram usados para definir os objetivos da sua sociedade. Em 1778 ele foi um dos membros ativos e interessados no Convento de Lyon, e Willermoz já havia descartado suas buscas sobre a Ordem dos Templários em favor de uma Maçonaria primitiva dedicada à religião e à beneficência. Dessa vez, enganado por habilidosos procedimentos, ele adotou essa ficção com a esperança de que ela continha alguma revelação substancial, mas estava decidido: sua assinatura no juramento dos Professos não lhe trouxe nada de útil, nenhuma receita prática, nenhum segredo interessante. Ele queria impedir o sucesso de uma manobra semelhante que ameaçava toda a Ordem Rectificada.
Seu livro acusa Ferdinand de Brunswick de não ter cumprido as promessas de suas sucessivas proclamações, de ter organizado a reunião de maneira ilegal e de ter conduzido os debates com grande parcialidade. Ele mostrou que foi impossível, durante a assembléia, estudar os segredos maçônicos dos diversos sistemas para encontrar qual era o verdadeiro e que foi forçado a adotar, sem conseguir compreendê-lo, o sistema preconizado pelo Grão-Mestre Geral e seus muitos partidários.
Bayerlé sugere que haveria um plano pré-concebido antes das reuniões. Ele nomeia o Chanceler ab Eremo como o principal promotor dessa concepção moral e religiosa da Maçonaria, que finalmente se impôs. Instruído por sua experiência e pelas relações adquiridas da Enciclopédia ou trazidas da Alemanha, ele revela que o regime adotado pelos delegados era um sistema teosófico onde se misturavam a doutrina dos Cavaleiros Benfeitores, instalados em Lyon, e as especulações de pietistas alemães.
"Vocês têm as atas publicadas de forma adequada e autenticada, que nos provam que a Maçonaria sempre se conduziu pelo mistério do antigo ternário, em direção ao desenvolvimento das maiores luzes, e me foi encarregado de dizer que vocês serão acreditados. Prove isso pelo que vocês fizeram em todos os tempos, pelo que vocês são, e pelo que vocês sabem." .
A Fascia acusava o complô dos místicos de ter conseguido impor o seu sistema particular em meio a "maquinações elementares" . Ele o declarava responsável por "ter sido decidido no Convento o que não havia sido proposto e não ter sido decidido o que havia sido proposto". Ele não entendia por que era considerado um "crédulo ou idiota" e concluía, aconselhando todos os seus Irmãos a não ratificá-lo, sem refletir decisões tão tendenciosas, apelando com todos os seus votos a uma reunião geral de maçons de todos os sistemas, e desta vez procurar a verdade, sem qualquer idéia preconcebida, podendo apagar as manchas que mancharam a glória do Convento de Wilhelmsbad.
A crítica severa do Prefeito de Lorena afetava Jean-Baptiste Willermoz em dois pontos muito sensíveis. Ele revelava sem piedade o seu papel e o de seus partidários, denunciando o seu gosto pela dissimulação, suas intrigas e suas variações mais ou menos habilidosas. Atacava a ficção de uma verdade sobre a Maçonaria primitiva, por mais que a comissão de rituais tivesse dito ter encontrado múltiplas informações no estudo profundo e comparado de sistemas muito antigos. Não sabemos muito bem qual foi a repercussão de um julgamento tão severo. Se devemos acreditar em uma nota que contém um exemplar da obra que é preservada pela Biblioteca de Lyon, Ferdinand de Brunswick teria proibido toda a edição, apoderando-se do manuscrito original do autor . Willermoz, de qualquer forma, parece não ter sido informado desta oposição oficial. Ele sabia, por outro lado, que a obra circulava na Alemanha e nas lojas da Itália, onde causou uma grande impressão e onde o Irmão ab Eremo foi solicitado para fornecer argumentos para poder responder às afirmações do Irmão a Fascia.
O Chanceler de Lyon, portanto, se viu obrigado a defender a obra do Convento e a pureza de suas próprias intenções. O resultado de seus esforços de justificação foi uma longa memória, impressa em texto apertado, com muitas notas e citações. Ele se apresentava, como a obra de Fascia, na forma de uma memória impressa para a recente Regência Escocesa de Lyon. Seu título, longo e confuso , mostra bastante que essa "Resposta às afirmações contidas na obra de R.L.F. a Fascia" não se prestava a nenhuma elegância e desconsiderava os vãos adornos de um estilo claro e fácil.
A obra consiste em duas partes: um discurso de Jean-Baptiste Willermoz, pronunciado em 23 de junho de 1783, e uma análise geral de Bayerlé refutando cada objeção. Este trabalho foi lido na Regência Escocesa de Lyon nos dias 11, 12 e 14 de dezembro de 1783, para responder em nome dos lyoneses à Prefeitura de Lorena. Jean-Jacques Millanois era o autor. Mas se o jovem advogado do rei havia colocado sua habilidade na retórica e seu conhecimento do latim a serviço do seu Mestre, a fim de responder com a mesma tinta pedante ao Prefeito ciceroniano de Nancy, é provável que Willermoz tenha colaborado estreitamente com ele no essencial de sua obra. Portanto, são os dois responsáveis por este factum incômodo e confuso, apesar de tantas subdivisões, referências e tipos de letra diferentes. A "Resposta às afirmações do Irmão a Fascia”, é tão completamente chata e irritante em sua tentativa de ser completa e convincente, que as afirmações desse Irmão parecem quase, em comparação, uma obra-prima de espírito e clareza!
Não estamos exagerando nada. É preciso dizer, em desculpa do lyones, que sua posição era difícil e que ele não tinha os recursos da dialética para escrever 110 páginas em folhas soltas, com bons ou maus argumentos, com o objetivo de demonstrar contra toda evidência que o papel do chanceler ab Eremo havia sido um dos mais modestos no Convento de Wilhelmsbad e que suas opiniões particulares nunca haviam sido adotadas como doutrina da Ordem Escocesa Retificada.
O que a resposta contém de mais interessante, além dos detalhes e precisões relacionadas ao convento de 1782, é uma longa exposição de uma teoria relativa à origem da Maçonaria. Millanois, referindo-se às decisões que diziam ter sido tomadas em Wilhemsbad, acreditava poder afirmar que a Maçonaria não poderia descender da Ordem dos Templários, pois aquela é muito mais antiga do que essa. Ele distingue uma Alta Ordem Essencial da qual deriva a iniciação maçônica propriamente dita e declara que provavelmente as lojas foram fundadas por israelitas, contratados por Salomão para construir o Templo, com o objetivo de preparar os candidatos destinados a entrar nessa Santa Ordem primitiva. A Maçonaria era, portanto, uma Ordem mista, essencial quanto a seu objetivo e convencional quanto às formas variáveis que lhe foram dadas. Essa ficção não era nova. Já havia sido exposta no Convento das Gálias e era objeto das instruções dos Professos. Mas era novo expô-la tão abertamente para os maçons de todos os graus. Sem dúvida, Willermoz acreditava que, a partir daí, estavam suficientemente seguras e bem fundamentadas suas crenças, a ponto de se tornarem uma doutrina ostensivel, explicando aos iniciantes das lojas simbólicas o motivo de existir dos círculos mais secretos.
O principal defeito desse livro não está no seu estilo, nem no seu espírito de justificação obstinada, mas no fato de chegar muito tarde. Ele foi publicado em 1784, em uma época em que o Convento de Wilhelmsbad só tinha interesse retrospectivo, quando as polêmicas que ele suscitava já não interessavam mais a ninguém e não tinham alcance prático.
Willermoz e seus seguidores não ignoravam isso. Apesar de seu desejo de descrever sua obra de forma brilhante, a conclusão da resposta era pobre e de um pessimismo resignado:
"Sem dúvida, não se deve esperar... que todos os trabalhadores do Templo se empenhem com zelo e perseverança em aperfeiçoar a obra começada; desanimados pelas dificuldades, assustados pelos sacrifícios, há quem se afaste, talvez de outros, vendo as armas do ridículo voltadas contra nós... então, longe de nos encontrarmos debilitados, vendo nossas províncias desabitadas, nos basta com nós mesmos... podemos nos encontrar sozinhos para preservar o que saiu dos trabalhadores habilidosos de Wilhelmsbad".
Essa amargura não provinha apenas das dificuldades com as quais o chanceler de Lyon se deparara na França no que tange a propaganda de suas reformas. Naquela data, as notícias da Alemanha eram muito mais preocupantes e não permitiam nenhuma ilusão séria sobre o futuro das reformas que haviam sido instituídas e sobre o sucesso das doutrinas espiritualistas que, se acreditava, poderiam unir os maçons de boa vontade.
Desde fevereiro de 1783, o barão de Plessen empenhava-se para fazer Lyon entender tristes verdades. Elas apenas confirmavam suas advertências anteriores.
"A sinceridade, escreve, que te dediquei, não me permite ocultar de você que uma grande parte dos Irmãos da Alemanha, e no Norte, não aceitam a união tão desejada. Os dois príncipes, a Victoria e a Leone Resurgente, não gozam da confiança dos Irmãos que não estiveram no Convento."
Uma vez mais, talvez pela última vez, o discípulo dinamarquês tentou abrir os olhos de seu mestre lyones sobre o verdadeiro caráter do landgrave de Hesse; ele o advertia de que este último era muito indiscreto e não se importava em declarar a Willermoz "que estava muito atrás em relação aos conhecimentos elevados, como os do Irmão Ceraso e Haugwitz", e contava que era por causa dessa falta de instrução secreta que Waechter não havia sido autorizado a admiti-lo em sua Ordem Secreta. Mais uma vez, denunciava a Willermoz às fraudes que com certeza os príncipes usavam para se gabar de seu poder sobrenatural.
"Estou convencido de que, com sua clarividência habitual, não haverá nada que o deslumbre com os anúncios de outros acontecimentos extraordinários. Tenho ouvido frequentemente, em minhas entrevistas com os Irmãos a Victoria e a Leone Resurgente, sobre o alvoroço que esses Irmãos fizeram acerca de seus avanços, dizendo que eram com seu ‘anjo tutelar’ com quem se comunicavam para indicar seu avanço, mas não acredito... Quando se conhece os príncipes de perto, como tive a oportunidade, as dúvidas sobre seu sucesso não desaparecem completamente".
Mais abertamente, como nunca havia feito antes, o barão de Pleissen censurava Willermoz por ter colocado os destinos de sua Ordem nas mãos de pessoas como essas.
Willermoz, apesar dessas advertências, continuou com Charles de Hesse e Ferdinand de Brunswick suas relações amigáveis; persistiu em considerá-los como seus colaboradores e que estavam associados aos trabalhos do círculo de Lyon.
Um documento preciso veio a corroborar as previsões do dinamarquês. Lyon recebeu, como Diretório da Ordem Retificada, uma circular escrita em 18 e 21 de março de 1783 pelos Irmãos das lojas de Wetzlar e de Frankfurt-sur-le-Main , na qual era proposta uma nova aliança sobre bases bastante diferentes das estabelecidas em Wilhelmsbad. A nova potência maçônica propunha-se a usar o nome de Maçonaria Eclética. Sua divisa era "Liberdade, Igualdade, Independência". Todo um programa de reação contra a direção de Ferdinand de Brunswick. Estudou-se quem eram os promotores desse movimento, encontrando a colaboração íntima de von Dittfurth e do barão de Knigge . A Aliança Eclética estabelecia uma confederação de lojas unidas por laços puramente superficiais, pois cada uma conservava suas doutrinas, seus altos graus particulares e suas próprias correspondências.
Esse liberalismo pareceu a Willermoz muito grave e tão perigoso que ele julgou útil, no final da resposta escrita a Bayerlé, demonstrar que o ecletismo só poderia levar ao ceticismo e que a independência se transformaria rapidamente na anarquia e na confusão, na "destruição total e atual da Sociedade Maçônica". Ele colocava o franco-maçom na situação de fazer uma escolha e de escolher a verdade, ou seja, "o sistema satisfatório" adotado em Wilhelmsbad. Mas a influência de Willermoz sobre as lojas da Alemanha, a qual ele se dirigia, foi sempre ineficaz. Suas doutrinas nunca encontraram uma audiência séria sob a forma simples que ele se esforçava para proporcionar.
Ao contrário, as decepções causadas pelo Convento de Wilhelmsbad provocaram tanto desgosto que o círculo dos maçons protestantes da Alemanha se isolou dos membros franceses da Ordem. Os polemistas anti-franceses e anti-católicos confundiam Saint-Martin, Willermoz, Bayerlé, Chappes de Henriére, o marquês de Chefdebien e até mesmo Savalette de Lange sob a mesma ótica de reprovação, acusando-os de serem os emissários do papismo e da Companhia de Jesus . Livres para aceitar ou não as reformas do Convento geral, os maçons retificados da Alemanha, na sua grande maioria, optaram pela conservação dos usos instituídos por Charles de Hund. As lojas de Dresden, Praga e mesmo Brunswick proibiram as inovações emprestadas das províncias francesas; no entanto, na Prússia, o sistema de Zinnedorf continuou a progredir, apesar do alvoroço nas lojas italianas de que o Pretendente Charles-Edouard havia vendido sua patente de Superior Desconhecido para o duque de Sudermania. Os Capítulos da Rosa-Cruz reuniram os hermetistas decepcionados com os princípios de seus superiores, que tinham muito de religioso e de imaterial. Nessas condições, as decisões tomadas no Convento de Wilhelmsbad não tiveram nenhum alcance prático; as reformas projetadas não tiveram sucesso; o Código de Administração ficou apenas como projeto; os graus de Escocês, Noviço e Cavaleiro Benfeitor nunca foram promulgados.
Em França, na Província de Auvérnia, as lojas da Ordem Retificada estavam sob a direção do Duque Havré de Croy. O Grão Mestre possuía em seus arquivos todos os códigos, regras, rituais e matrículas úteis, com notas precisas do Convento de Wilhelmsbad e parece ter mostrado de 1781 a 1784 um verdadeiro interesse pela sociedade que presidia. Mantinha constante correspondência com o príncipe Ferdinand de Brunswick, assim como com todos os Chanceleres que representavam as rodas da administração maçônica de Auvérnia: Willermoz para a Província, Braun para o Priorado, Millanois para a Prefeitura. Foi respeitando todas as formas que se preocupou com os assuntos da Ordem. Ele respeitou todas as formas como se preocupou com os assuntos da Ordem. Deve-se lembrar que, no final das contas, todos os tipos de representações eram mantidos em relação ao Muito Ilustre Grão Mestre pela jurisdição provincial, mas era Willermoz quem tomava todas as decisões.
Em 1783 , o Diretório Escocês de Lyon recusou-se a pagar uma contribuição anual de 3 libras exigida pelo Grande Oriente da França. Não se tratava de romper a aliança de 1775 mas de mostrar que essa transação não era "um ato de submissão" que pudesse implicar em uma contribuição obrigatória. As lojas retificadas não pretendiam ter relação alguma com os assuntos do Grande Oriente e não queriam participar de suas dispensas. Elas faziam questão de apontar que haviam remetido fundos importantes para a obra de caridade dos Enfants Trouvés, proposta em 1780 por Bacon de la Chevalerie, e que não foi culpa delas que a obra não tinha ido adiante. Em 1782, a loja "A Honestidade" de Paris, "excitada por motivos patrióticos", propôs uma contribuição a todos os maçons para oferecer um navio de guerra ao rei, os "Irmãos Retificados" imediatamente aceitaram participar desse "meio de provar seu amor pela pátria". Mas o rei recusou o presente. Não seria melhor consagrar todos os fundos "para aliviar a humanidade sofredora"? No entanto, era permitido assinar o jornal editado pelo Grande Oriente, pois ele continha anedotas morais "próprias para inflamar o coração dos maçons". Willermoz estava tentando apartar-se dos caminhos da Maçonaria comum e mal escondia a frieza que sentia em relação aos seus Irmãos do Rito francês.
Faltam os documentos para sabermos, nesses anos, a atividade das lojas lyonesas. No entanto, é verdade que era naquela cidade que existia em torno de Willermoz o centro mais zeloso de maçons espiritualistas. Os membros de "A Beneficência" residentes em Lyon em 1782 eram 52 e 54 em 1784. Alguns novos nomes aparecem, substituindo nos cargos os antigos dignitários mortos, como o Dr. Boyer de Rouquet, ou decididos a se afastar, como os Willermoz , Perissé Duluc, Cordon, Bruyzet e Castellas. O cavaleiro de Monspey, Comendador de Malta, é Mestre de todas as Lojas Reunidas do departamento, compartilhando com o cavaleiro Gaspard de Savaron as maiores honras da associação. Prost de Royer sempre ocupa o terceiro lugar, como ex-Mestre de "A Beneficência”. Podemos ler em 1783 e 1784 as promoções dos Irmãos Plagniard, Millanois, de Rachais, Champereux, Sabot de Pizay. Um certo abade Renaud, padre de Sancey-en-Macônnais, entra na Ordem em 1782, fazendo uma carreira brilhante. Ele é o segundo Orador da loja em 1784. Nesses anos ainda podemos ver aristocratas recrutados, como o conde de Jouffroy, o capitão de cavalaria Hubert de Saint-Didier, Basset de Chauteaubourg, capitão segundo no regimento de Brie, e o marquês de Regnault, senhor de Bellescize, mestre de campo de dragões, lugar-tenente dos marechais de França, cavaleiro da Ordem de Saint-Louis e comandante do castelo de Pierre-Scize.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: Lyon era, sem duvida alguma, o grupo mais dócil aos ensinamentos de J.B. Willermoz. Se havia algum lugar onde seu projeto sectário podia ter alguma esperança de concretizar-se esse era, sem duvidas, o corpo de lojas de Lyon.]
Parece que "A Sinceridade" de Chambery ficou mais fria nessa época. Sabemos que Joseph de Maistre escreveu para o seu amigo Vignet des Etoles sobre sua desilusão com os resultados do Convento de Wilhelmsbad; pode ser que ele também tenha expressado a opinião de seus colegas saboyardos.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A figura de Joseph de Maistre é constantemente evocada para emprestar legitimidade a Doutrina do Regime Retificado e para tentar explicar o que, afinal de contas, seria o "cristianismo professado pela ordem". No entanto, pouco se encontra em artigos acerca de sua decepção com a Ordem Retificada (em especial a nível filosófico) e com Willermoz, que se negava a lhe esclarecer certos pontos filosóficos que lhe pareciam obscuros.]
Em Grenoble, a Ordem estava claramente em declínio. "A Beneficência" e "A Igualdade" estavam recrutando mal e se endividando. Era questão de reunir em uma única loja essas duas sociedades, apesar das diferenças mundanas de seus membros. A única atividade séria concentrava-se em alguns Grandes Professos fiéis: Virieu, Prunelle de Liére e Giroud 84. Ainda o Irmão a Circulis era às vezes mais parisiense do que delfinense. Seu papel na Maçonaria Retificada sempre foi muito importante. O Convento de Wilhelmsbad nunca tirou sua zelo pela Arte Real. No final do mês de agosto de 1784, Henry de Virieu presidia em Chalon o Capítulo da Prefeitura de Borgonha, onde foram nomeados alguns novos dignitários, como Alexandre de Scorailles, ab Angelo, proclamado como Prefeito, e Esmonin de Dampierre, Vice-Prefeito
A história da "Beneficência" em Paris é pouco clara. É verdade que as intrigas de Savalette de Lange e dos Filaletas conseguiram criar entre os parisienses ligados à Ordem Retificada, uma certa animosidade contra as diretivas do Chanceler de Lyon. Este período não é muito importante, exceto pela fundação de uma única loja nova, a da "Tripla União" em Marselha, que se junta à Ordem Retificada no início de 1785. Isso não é exatamente uma prova de grande prosperidade. As decepções e a falta de movimento começam a fazer sua obra de destruição. Obstinado em seu otimismo, Willermoz, no entanto, fazia construir em Brotteaux uma casa para suas lojas, que até então tinham como endereço os salões de alguns Irmãos complacentes .
Na V Província, chamada de Borgonha, o estado da Ordem não era mais próspero. Sérias dificuldades haviam surgido em relação a Wilhelmsbad e, por muito tempo, haviam impedido sua ratificação oficial. Nem todas essas dificuldades vieram do Bayerlé, o Prefeito de Lorena que lutava por ela, ou da divulgação de seu folheto. A loja "Honestidade" em Estrasburgo, a primeira fonte francesa da Maçonaria Templária, se recusou a aceitar as novidades que lhe foram propostas. Será que estavam muito ligados à lenda do Templo de Jacques de Molay que os havia seduzido antes? Será que eles tinham outras queixas? Não sei. Mas eles preferiram deixar de ser membros da província. A Prefeitura de Saarbruck seguiu o exemplo da "Honestidade". Uma loja em Beaune anunciou na mesma época que estava deixando o Rito Escocês Retificado. A fundação de uma nova loja em Dieuze não compensou essas deserções.
Foi apenas no final do ano de 1784, de 10 de agosto a 9 de setembro, que o Capítulo da V Província se reuniu em Estrasburgo, em um tipo de Convento regional, com o objetivo de tentar resolver todas essas questões irritantes e finalmente proclamar sua adesão à reforma promulgada em 1782 . As subdivisões de Alsácia, de Lorena, de Áustria e de Borgonha tinham cada uma um representante na pessoa dos Irmãos de Martigny, a Thuribulo, de Frederic de Hesse-Darmstadt, ab Iride, do marquês de Lezay-Marnezia, ab Alba Rubraque Cruce, e de Emonin de Dampierre, a Cuspide Aureo. O barão de Durkheim presidiu os debates em que participaram seu irmão mais jovem Turkheim, a Navibus, o barão de Kinglin, Bayerlé e o príncipe palatino dos Dois Pontes, chamado ab Aquila Jovis.
A reunião consagrou a reconciliação entre os partidários e os críticos da obra realizada em Wilhelmsbad. Bernard de Turkheim desempenhou um papel conciliador importante, tendo sido ele quem trouxe Bayerlé de volta para o seio da assembleia e aceitado as desculpas e explicações apresentadas por este último sobre o conteúdo de seu livro. Desculpas, de fato bastante restritas e não dirigidas muito além dos Sereníssimos Irmãos a Victoria e a Leone Resurgente. O Irmão a Fascia não esboçou nenhum arrependimento acerca do que disse sobre o Chanceler ab Eremo e nem dirigiu a ele nenhum pedido de perdão. A menos que a fórmula de duplo sentido em que ele se defendia de querer "causar danos a pessoas das quais não cessei de fazer elogios, com a mesma franqueza com que critiquei o que parecia reprovável" possa ser interpretada de forma favorável.
Durante os debates, duas memórias foram lidas, uma pelo Marquês de Dampierre e outra por Turkheim, nas quais se mostrava que Bayerlé não estava sozinho nas lojas templárias do Leste da França em censurar a obra do Convento Geral. Os maçons protestantes, acostumados a examinar livremente sua fé e suas práticas religiosas, hesitavam em se submeter, em matéria de maçonaria, a uma autoridade dogmática. Esta obrigação que lhes era imposta de aceitar a existência de uma Ordem secreta e obedecer ao Grande Mestre Geral ofendia a ideia que faziam da igualdade e da fraternidade maçônicas. As novidades instauradas em 1782 lhes recordavam desagradavelmente os hábitos do papismo. Foi por isso que os dois advogados da reforma de Wilhelmsbad -ou melhor, da reforma de Willermoz- garantiram a seus Irmãos que a Ordem não corria nenhum perigo, abandonando os princípios liberais da Maçonaria ordinária. Tanto em termos gerais quanto em termos particulares, os Cavaleiros Benfeitores não podiam mais crescer material e moralmente, abandonando-se à direção paternal e esclarecida de seus superiores. Parecia também que eles estavam se referindo ao fato de que sua sociedade se assemelhava às monarquias estabelecidas em seus respectivos países; eles deveriam principalmente refletir sobre a diferença entre a perfeição mundana da Maçonaria simbólica e a perfeição religiosa da Cidade Santa, encontrando em seus progressos espirituais os melhores temas de consolação.
[Nota do Blog Primeiro Discípulo: A argumentação dos advogados da reforma maçônica de Wihelmsbad - ou melhor, de Willermoz - de que assumir uma direção intelectual de forma cega, "in totum", sem contestações, era algo similar ao que acontecia nos regimes monárquicos nos parece falaciosa. A falta de possibilidade de exercer pensamento critico é característica de seita e não de organismos maçônicos. As próprias religiões instituídas, que arrogam para si o titulo de possuidoras da verdade, admitem em suas fileiras o pensamento contraditório (vide por exemplo a disputa entre Bernardo de Claraval e Abelardo) , logo é inaceitável que um órgão maçônico mantenha posições que cerceiem a liberdade de pensamento ou crença.]
Esses argumentos foram aparentemente bem recebidos. O Capítulo de Estrasburgo aderiu ao partido e às conclusões dos fiéis de J.B. Willermoz. No máximo, registrou algumas reservas sobre o trabalho de recepção de graus que estava sendo perseguido em Lyon. Uma pequena comissão, composta por um protestante e um católico, foi encarregada de examinar a doutrina contida nos rituais com o objetivo de garantir "se o símbolo da Maçonaria era tão universal que poderia ser aceito por qualquer Cavaleiro, que professasse qualquer religião". O Chanceler de Lyon podia ficar satisfeito com o bom trabalho realizado pelos seus Professos para convencer e tranquilizar os seus Irmãos e fazê-los aceitar, de bom ou mau grado, sua doutrina maçônica.
Ao final de 1784, um novo perigo apareceu para ameaçar o Chanceler ab Eremo em sua influência sobre seus discípulos e na integridade de sua doutrina. Esse perigo veio na forma do Conde Phoenix, um viajante de passagem, que solicitou uma entrevista urgente com Willermoz.
As pessoas suspeitaram que sob esse pseudônimo se escondia o famoso Cagliostro, cuja reputação de ser homem estranho e dado ao luxo já era conhecida. Depois de cerca de três anos na França, e depois de ter viajado por Alemanha, Itália, Rússia e Polônia, o sucesso do personagem era notícia de primeira página. Cagliostro não tentou esconder sua verdadeira identidade e havia adotado o pseudônimo para chamar ainda mais atenção para si. Ele chegou a Lyon como um homem novo, com novas intenções.
Cagliostro havia fugido após três anos em Estrasburgo. Fugia de discípulos ávidos por alcançar certos resultados por ele prometidos, em especial de um protetor generoso e crédulo cuja paciência estava se esgotando, e por detratores entre os quais o mais obstinado era um de seus antigos empregados. Era-lhe necessário então um novo palco a fim de dar continuidade a suas proezas. Inicialmente pensou em ir para Nápoles, pelo sul da França, se dirigindo para Bordeaux, onde chegou em novembro de 1783. Lá, demonstrou interesse de seguir para Inglaterra, mas foi tentado pelo acolhimento recebido na cidade girondina, onde se estabeleceu por onze meses, dando consultas, “curando”, fazendo revelações… enfim, suscitou a curiosidade geral chegando a ser inspiração para poetas. Nesse tempo, encontrara um secretário modelo na pessoa do lyones Rey de Morande.
Uma doença interrompeu essa estadia produtiva, dando outro rumo à sua carreira. Cagliostro afirmou que teve uma visão que o obrigou a sepultar o homem velho e se consagrar a fazer o bem entre os seus semelhantes, perseguindo objetivos mais elevados e ciências mais raras, incluindo a Maçonaria e a metafísica. Essa mudança não foi de todo surpreendente. Cagliostro já era maçom. Durante suas viagens pela Europa, ele pôde conhecer muitos segredos e lendas que circulavam pelas lojas. Não era de se estranhar que ele quisesse usá-las, esforçando-se para manter o interesse do círculo de seus admiradores. Tática astuta, para um homem que buscava acima de tudo ser conhecido e comentado. Isso lhe permitia, por enquanto, atiçar a imaginação e garantir grandes doses de encenação diante de seus partidários e inimigos, refugiando-se em uma atividade densa do que a de curandeiro. O papel de fundador de um sistema maçônico o tentava. Ele poderia garantir uma renda regular com a venda de jóias, graus e pagamentos de contribuições. Mas, se entendemos muito bem que o Grande Copta tenha optado por se juntar aos maçons, organizando uma seita em benefício próprio, não se explica de maneira alguma por que ele decidiu estabelecer a Loja Mãe do Rito Egípcio nas margens do Rhône e do Saône.
Sua intenção pode ser atribuída ao fato de que Lyon era uma cidade rica e que já possuía um centro maçônico fortemente ativo. No entanto aqueles que estudaram a curiosa carreira do aventureiro tendem a explicar a sua escolha afirmando que sua intenção real era chamar atenção para Lyon como centro do ocultismo e da maçonaria no século XVIII. Paris, sob esse ponto de vista, era incomparavelmente mais importante, e a carreira aventureira de Cagliostro poderia, se esse tivesse sido seu desejo, escolher outras cidades mais propícias para as fantasias de fundadores de sistemas secretos e para os prodígios de mágicos de todos os tipos. Pode-se concluir que o Grande Copto veio a Lyon em busca de aventura, com o objetivo de explorar um novo terreno - o que já seria razão suficiente - e a primeira coisa que ele fez foi entrar em contato com Jean-Baptiste Willermoz.
Um artigo de M. Van Rijnberk trouxe à luz um fato extremamente característico que escapou à perspicácia dos biógrafos de Cagliostro e dos aficionados pela história local: É que Willermoz era muito discreto sobre tudo o que se relacionava com a vida de suas lojas maçônicas, e Cagliostro não tinha nenhum motivo aparente para se gabar de sua relação com o Chanceler da Regência Escocesa da Província de Auvérnia. Isso explica por que Cagliostro decidiu fazer essa viagem a Lyon e por que ele acreditava que a grande cidade de Lyon seria o lugar ideal para estabelecer seu Rito Egípcio.
Com base nisso, tudo se explica. Bordeaux abrigava pessoas que poderiam ter informado Cagliostro, além de Rey de Morande, sobre a personalidade de Willermoz, o que poderia ter lhe dado uma opinião muito positiva acerca dele. O Diretório de Occitânia, tão separado das outras Províncias da Ordem Retificada, sabia do papel que o Irmão ab Eremo desempenhava na dirigindo a Ordem na França e não ignorava a importância que se lhe havia dado durante o Convento de Wilhelmsbad, pois ele era acusado justamente de ser apoiado por príncipes alemães para dirigir a Ordem conforme sua própria vontade. Será que Cagliostro também se lembrava da escola do mago de Bordeaux, Don Martinez? Isso é muito menos certo. Parece que ele não sabia nada sobre o conhecimento secreto daquele que desejava encontrar, no entanto, ele acreditava que seria muito útil trazer a pessoa de Willermoz para sua própria causa, devido à sua reputação e conexões. Isso lhe garantiria uma entrada brilhante na maçonaria mística.
No dia seguinte à sua instalação no Hotel da Rainha, ele enviou uma mensagem para Jean-Baptiste Willermoz. Desde as primeiras palavras de seu primeiro contato, ele já iniciou suas artimanhas, propondo revelar seus segredos para a loja "A Beneficência", constituindo-a como guia e guardiã do Rito Egípcio.
Willermoz contou sobre essa entrevista para Charles de Hesse; ele também narrou, de maneira mais oficial, para o Duque Havré de Croy em 13 de dezembro de 1785. Alguns detalhes são muito vívidos e fortes, apesar do talento epistolar mediano de Willermoz. O fato é que se encontraram quatro vezes para conversar - conversas que se deram de forma muito séria sem qualquer amabilidade presente - a última tendo durado cerca de cinco horas.
Cagliostro, fastuoso, misterioso, importante, habilidoso em manipular o seu olhar fascinante, buscava deslumbrar o seu interlocutor com palavras, promessas miríficas e propósitos sibilinos. O outro, calmo e educado, extremamente reservado, esforçava-se por ter o papel de um homem cuja reputação estava estabelecida e que possuía apenas vagas noções sobre aquela ciência superior de que o viajante se orgulhava.
Phoenix-Cagliostro declarou estar cansado de exercer a medicina, pois essa função criava principalmente muitos inimigos para ele, e que queria se dedicar no futuro a instruir Maçons cuidadosamente escolhidos. Além disso, para mostrar o valor extraordinário dessas próximas aulas, ele prometeu fornecer evidências esclarecedoras de seu poder.
- “Non verbis, sed factis et operibus probo.”
Essa facilidade em latim não impressionou em absoluto o seu interlocutor, que apenas perguntou de que tipo seriam as ações e as obras que constituiriam a sua prova. "Qui potest majus, potest minus" respondeu o mago.
Willermoz, um tanto irritado com o latinismo, o interrompeu. Cagliostro queria apresentar sua prova por meio de um “minus”, fenômeno pertencente às ciências materiais, enquanto o outro queria como apresentação um “majus”, fenômeno pertencente ao mundo espiritual e divino. Willermoz explicou que tinha pouco interesse em fenômenos físicos, alquimia ou adivinhação, fazendo o conde entender que para ele os conhecimentos do conde pouco importariam, a menos que pertencessem à ordem sobrenatural. No mais, Willermoz fazia questão de estar presente e acompanhando de muito perto qualquer operação destinada a produzir tais provas, a fim de não perder de vista o operador durante todo o tempo da operação. Cagliostro concordou com tudo, mas não gostou muito dessas condições e fez muitas objeções.
O astuto italiano precisava de acessórios para mostrar suas proezas, como um prestidigitador. Ele usava uma menina jovem, a quem chamava pupila ou columba, com um biombo ou cortina. Os assistentes eram afastados além de uma linha que não deviam ultrapassar, e havia sempre um momento em que o mágico desaparecia, para não voltar até o momento em que o milagre era realizado. Era difícil para Willermoz fazer o italiano mudar essa técnica para melhor observar.
Apesar daquele mau começo, Cagliostro esforçou-se nas entrevistas seguintes tentando impressionar o reservado lyones, cujo apoio era para ele tão necessário. Não conseguindo persuadir a Willermoz com seu “poder sobrenatural”, tentou impor-se exibindo suas relações, mostrando cartas do Cardeal de Rohan ; insinuou ainda que poderia fazer ouro e pedras preciosas. Finalmente, arrogou para si uma longevidade misteriosa, imitando o imortal Saint-Germain; afirmou ser o primogênito de Moisés e, portanto, mais antigo do que Jesus Cristo, e que havia sido aceito como maçom sob a Grande Pirâmide do Egito.
Willermoz escutava friamente tudo o que dizia o conde acerca de seus propósitos, mas estes não o impressionaram. Ele colocava tudo de forma precisa e exigia o cumprimento das promessas que o futuro fundador do Rito Egípcio fizera de demonstrar sua alta ciência. Cagliostro, no entanto, sempre adiava a apresentação de provas para a próxima ocasião. Durante quatro dias, o conde tentou em vão usar seu poder de sedução para convencer Willermoz. Mas mesmo tentando impressioná-lo com sua conversa vazia e suas exibições, ele não conseguiu convencê-lo.
A última conversa tratou sobre a natureza de Jesus Cristo.
Escreveu sobre isso Willermoz: "Ele pareceu embaraçado e indeciso. No entanto, acabou por declarar que Jesus Cristo não é Deus, mas apenas filho de Deus, assim como ele próprio, e um filósofo. Perguntei então como ele explicava certos trechos do Evangelho que ele mesmo mencionara algumas vezes. Ele afirmou que todos esses versículos eram falsos e foram adicionados ao texto. Ele me perguntou, por sua vez, qual era minha crença a respeito. Fiz minha profissão de fé." .
O aventureiro sentiu que a partida estava perdida. Mas um tipo como ele sempre procura vantagem em uma derrota. E isso lhe permitiu voltar atrás em suas promessas embaraçosas. Ele alegou que, dada essa diferença de crença, lhe era impossível fornecer qualquer prova de seu poder. A isso, o outro respondeu que uma diferença de opinião não impedia os fatos. Cagliostro, então, persistiu em sua recusa. Willermoz disse então que ele havia faltado com a palavra dada. Cagliostro alegou que ele a havia arrancado. Willermoz ficou então irritado com tamanha má-fé e o italiano respondeu-lhe de forma furiosa:
- "Será que você veio aqui para julgar o conde de Cagliostro? Saiba que ninguém pode julgar o conde de Cagliostro, que pode se dizer conde, duque, príncipe ou o que lhe aprouver!"
A pergunta não era relevante. Willermoz observa que, do ponto de vista da ciência espiritual, o maior potentado da terra é simplesmente um homem. E ele apontou para seu interlocutor que tinha mais interesse do que ninguém em desmentir seus inimigos e reunir provas de seu saber. Mas Cagliostro estava disposto a ficar irritado, o que era a única maneira de se desvencilhar de uma situação tão violenta.
Willermoz, então, deixou o quarto dizendo que "já tinha visto o suficiente para saber o que devia pensar". Enquanto o outro o desafiou a não deixar a cidade antes de ter fornecido, por seu poder, tais provas, para que aqueles que o desprezavam se arrependessem amargamente de sua desconfiança.
Ameaça vã. Willermoz nunca teve que se arrepender por ter recusado os segredos do Grande Copto, nem por ter falhado em alguma de suas sessões mágicas.
No entanto, o sucesso do Conde em Lyon foi, inicialmente, brilhante. Os doentes frequentavam os salões do curandeiro. Alguns maçons ricos e distintos se interessaram por suas concepções maçônicas, eles pertenciam à antiga loja "A Sabedoria", que viria a adormecer depois de anos, desde sua fundação, ocupada apenas em banquetes e em profundas deliberações. Cagliostro, na falta de "A Beneficência", ficou feliz em iludir os maçons de “A Sabedoria” dando-lhes a esperança de conhecer em breve os segredos misteriosos da ciência, da saúde e da riqueza; ele foi quem transformou seu nome em "A Sabedoria triunfante" e infundiu-lhe a ambição de deslumbrar o universo com seu esplendor, a partir de suas reuniões espetaculares e seus uniformes verdes, com penduricalhos dourados e lantejoulas.
Isto não era gratuito, custava muito caro a esses mestres que tinham o privilégio de serem fundadores da Mãe Loja da Maçonaria Egípcia . Mas eles estavam pouco preocupados com gastos, até aquele momento, em que o interesse pelo que estava sendo preparado legava qualquer outro assunto a segundo plano. No entanto, assim que o entusiasmo inicial passou, a desconfiança recaiu sobre os maçons que apoiaram o conde. As paredes da nova loja ainda não haviam sido construídas quando já surgiam todos os tipos de contestações e reclamações . Mas já pouco importava para Cagliostro, que havia deixado Lyon para outras intrigas.
Abandonando sua fundação em um estado de esboço, Cagliostro retornou a Paris em fevereiro de 1785. Seus fiéis continuaram com a preparação do templo, que foi concluída no decorrer do verão. Esperavam o conde para inaugurá-lo e concluir o ensinamento dos seguidores do Rito Egípcio. O destino decidiu de outra forma. O escandaloso assunto do colar, que mudou, diz-se, o destino da monarquia francesa, com certeza pôs fim ao progresso de "A Sabedoria Triunfante". Privada de seu animador, ela lânguiu. O esquecimento sucedeu ao triunfo, já diminuído. Apenas alguns discípulos, obstinadamente fiéis, guardaram sua admiração pelo prestigioso mestre, seguindo as vicissitudes de seu destino, que foi cruel.
Não sabemos muito sobre a atitude de Willermoz e seus seguidores enquanto durou em Lyon a moda da seita rival. É provável que o Chanceler ab Eremo estivesse bastante preocupado, embora estivesse seguro de sua fé e de seu direito. A nova loja foi construída nos Brotteaux "a cem passos à esquerda da casa do Diretório", ao lado da casa Bertrand, onde Jean-Baptiste Willermoz morava; portanto, era fácil acompanhar todos os incidentes da fundação.
Willermoz soube que surgira um relato que Prost de Royer, morto no mês anterior, havia ido como um fantasma renegado dar o apoio de sua notoriedade passada ao mago da moda. Será que Cagliostro, informado não só pela popularidade, mas pelas relações maçônicas do antigo tenente de polícia, sentia um prazer maligno em se aproveitar de um membro de "A Beneficência" para estabelecer firmemente sua própria reputação de taumaturgo? O amor-próprio do Chanceler de Lyon deve ter sofrido também quando soube que os Filaletas, que sentiam por ele um desprezo premeditado, haviam dirigido todos os tipos de convites de Cagliostro aos seus para que o Rito Egípcio estivesse representado em seu famoso Convento.
De qualquer maneira, em agosto de 1785, Willermoz parecia convencido de que o Grande Copto era "um maçom da espécie mais perigosa", um sacerdote de Baal, adequado para usar fraquezas no caminho da perdição. Ele alegou ter mudado a palavra de passagem do grau de Aprendiz, justamente para preservar seus irmãos de qualquer comunicação com os seguidores do falso profeta. Mas pouco tempo depois, ele mostrava mais indulgência e não se sentia diretamente ameaçado, não estando tão seguro da perversidade do personagem. Ele admitia que só queria "fazer as pessoas acreditarem" e não era sábio o suficiente para ser tão perigoso quanto se poderia pensar . Na carta oficial que escreveu para o duque Havré de Croy em 13 de dezembro , agradece à Providência por ter reconhecido os perigos e, de acordo com sua indulgência, sente pena pelas pobres pessoas que foram enganadas. "Acima de tudo", escreveu para o príncipe Charles de Hesse, "foi o desejo pelo maravilhoso e a avidez por ouro que fizeram suas cabeças girarem". Esta reflexão, vindo de sua própria pena, é interessante. Mostra como ele se conhecia mal, pois vivia, nesta época, no meio das experiências mais estranhas que o levavam, não pela avidez por ouro, de que sempre foi protegido, mas justamente pelo desejo pelo maravilhoso, do qual sabia tão bem reconhecer os perigos.
Não é excessivo julgar que não foi tanto o bom senso e a fé na divindade de Cristo que protegeram Willermoz contra Cagliostro, mas sim o simples fato de que este último chegou muito tarde para lhe oferecer seus prodígios, em um momento em que, graças a Mesmer e à prática do magnetismo animal, ele havia perdido todo o desejo pessoal de criar milagres maravilhosos ao seu redor.
I.C.J.M.S. Que Nossa Ordem Prospere !!!
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